sábado, 26 de março de 2011

Homenagem

Todo dia 25 de Março a Argentina celebra o "dia da memória" em que são lembrados os milhares de mortos e desaparecidos políticos daquele país. Muito embora os eventos nesse país vizinho guardem tanta relação com a história de nosso próprio país, a "grande imprensa" brasileira ignorou o evento deste ano como um todo. Na direção contrária da justiça, nossos jornalões e noticiários preferem bloquear qualquer tentativa de revirar nosso passado e insistir na sua pauta de ataque à "comissão da verdade" para que possamos viver tranquilos e felizes em nossos "dias de aminésia".

Paz
Alexei



Hugo Soriani - Página/12(*)

Não nomearei a ninguém porque estas linhas são para todos. Alguns já não estão conosco porque morreram nestes últimos anos, e outros morreram na prisão, fuzilados pela repressão ou pela pena.

Vou lembrar os presos políticos da ditadura militar.

Eram mais de dez mil pessoas que tinham sido detidas antes do nefasto 24 de março. Logo já não houve mais presos políticos, somente desaparecidos.

Nestas prisões conviveram nove, dez, doze anos, rapazes de vinte anos, pouco mais pouco menos, com homens de cinquenta, às vezes de sessenta, pelos quais os mais jovens sentiam devoção e respeito já que vinham de outras lutas, sobreviventes de um país assolado pelas ditaduras.

Eles tinham lutado contra a de Lanusse, e alguns contra a de Onganía, e contavam experiências que os mais jovens escutavam com avidez, curiosidade e impaciência.

Não nomearei a ninguém porque foram todos os que, hora após hora, dia após dia, ano após ano, resistiram em conjunto à política de extermínio que se instrumentou para destruí-los. Os que inventaram um código para se comunicar no silêncio, os que violaram todas e cada uma das regras e proibições que os guardas impunham diariamente. Os que com valentia, engenho e audácia inventaram os truques necessários para sobreviver sem perder suas convicções.

Os que não assinaram nenhuma nota de arrependimento, apesar das represálias.

Os que na obscuridade dos calabouços de Rawson foram golpeados até desmaiar e reanimados com água gelada em madrugadas com quinze graus abaixo de zero, para logo deixa-los nus e repetir a história no outro dia, no outro e no outro.

Os que denunciaram suas torturas ao monsenhor Tortolo, no cárcere de La Plata, e escutaram como resposta que “Videla é ouro em pó” dos lábios do monsenhor. Os que escreveram minúsculas notas em finíssimo papel de cigarros para comunicar ao exterior o que acontecia atrás dos muros.

Os que, em dias de fome, compartilhavam a comida escassa.

Os que golpearam os jarros de metal contra as grades festejando o triunfo da Revolução Sandinista na Nicarágua, em julho de 1979, apesar dos golpes e gritos dos carcereiros, que tratavam de impedi-los.

Os que choraram a morte de John Lennon, em dezembro de 1980, porque junto a ele imaginaram que não eram os únicos sonhadores.

Os que, no cárcere de Magdalena, conheceram em pessoa a ferocidade do general Bussi, antes que fosse o célebre carniceiro de Tucumán.

Os que foram reféns em Córdoba durante o mundial, sob ameaça de fuzilamento, enquanto os genocidas se abraçavam com Menotti.

Os que foram retirados do pavilhão da morte na prisão de La Plata e, sabendo que iam ser fuzilados, se despediram de seus companheiros cantando suas consignas.

Os que sobreviveram nesse pavilhão e denunciaram o que estava acontecendo, pondo em risco suas vidas.

Os que no pátio da prisão de Córdoba viram morrer companheiros e não baixaram o olhar, como queriam os policiais, para humilhá-los.

As mulheres presas no cárcere de Devoto, que durante anos resistiram a práticas vexatórias. Essas mesmas mulheres que, inteiras e dignas, já livres, escreveram um livro imprescindível: Nós, presas políticas.

Os que na prisão de Caseros viveram amontoados em celas miseráveis, sem saber quando era noite ou quando era dia.

Os que não perderam o humor, sobretudo o humor negro, e riram de suas próprias desgraças.

Os que, em julho de 1983, na prisão de Rawson, com mais coragem que inteligência, decidiram acompanhar o jejum que Pérez Esquivel realizava em Buenos Aires, sem que ninguém, mas ninguém soubesse o que estavam fazendo. E continuaram o jejum dez dias mais do que ele porque, devido ao isolamento a que estavam submetidos, não souberam que o Prêmio Nobel já havia suspendido a greve ao conseguir seus objetivos.

Os que escreviam más poesias, mas foram poetas.

Os que sabiam de memória o Gênesis ou o Êxodo, porque a Bíblia foi a única leitura permitida. E às vezes nem isso.

Os que cantaram, desenharam, sonharam e atuaram, inventando a maneira de se esquivar da morte ou da loucura.

Os que em todas as prisões, em todas, só tiveram durante anos uma parede branca a dois metros de distância como único horizonte.

Os que durante nove, dez, doze anos não fizeram amor nem tomaram um copo de vinho ou uma taça de café.

Os que não viram crescer seus filhos.

Os que saíram com a roupa do corpo e sem ter uma casa para onde ir ou um trabalho para sobreviver.

Os que foram recebidos com desconfiança, porque eram sobreviventes.

Os que sentiam toda a culpa do mundo por esse mesmo motivo.

Para todos eles, presos políticos da ditadura, que hoje, há trinta e cinco anos do golpe militar, são testemunhas dos julgamentos dos genocidas, militantes em seus bairros, representantes em seus trabalhos, funcionários comprometidos e trabalhadores da política em seu sentido mais nobre, qualquer que seja o lugar para onde a vida os levou. Para eles, estas linhas de lembrança e de homenagem.

(*) Gerente geral do jornal Página/12, ex-preso político, lutou contra a ditadura argentina.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer




Urânio empobrecido, uma estranha forma de proteger os civis líbios


É quase inacreditável (porém dolorosamente constatável) que imediatamente depois do terrível vazamento nuclear em Fukushima, o mundo esteja aceitando silenciosamente um bombardeio de Urânio Empobrecido (Depletado) sobre a Líbia. Pois é exatamente isso que está acontecendo. Um material comprovadamente tóxico e radioativo, subproduto da produção de combustível nuclear, e que foi responsável por milhares de casos de câncer no Iraque (tanto em civís iraquianos quanto em soldados americanos), e outros milhares de doenças congênitas em crianças e fetos natimortos, está sendo usado agora, por EUA e França, para "proteger" os civís Líbios.

Os lobos continuam nos vendo como ovelhas idiotas.


Estas armas já deveriam ser proibidas pela ONU desde os anos 90, quando começaram a ser usadas, mas adivinhem... EUA, França e Inglaterra bloquearam as resoluções que tratavam do Urânio Empobrecido. O assunto todo sequer é mencionado pela grande mídia.

Em um momento como este, lhes digo que silenciar é cumplicidade.

Sinto que apenas uma mídia tristimente submissa e servil aos interesses dos poderosos - como a nossa - pode ser cúmplice de tamanho crime. E é exatamente isso que ela é agora. Cúmplice de um crime contra a humanidade.

O artigo transcrito abaixo traz mais informações sobre o que é esse armamento e o quanto dele foi usado nesses primeiros dias de bombardeio na Líbia.

Para aprender um pouco sobre as consequências horríveis do uso do Urânio Empobrecido no campo de batalha sugiro que assistam este filme: Beyond Treason

Paz
Alexei



Nas primeiras 24 horas de bombardeios a Libia, os aliados gastaram 100 milhões de libras esterlinas em munição dotada de ponta de urânio empobrecido. Trata-se de um resíduo do processo de enriquecimento de urânio que é utilizado nas armas e reatores nucleares, sendo uma substância muito valorizada no exército por sua capacidade para atravessar veículos blindados e edifícios. Esse urânio empobrecido pode causar danos renais, câncer de pulmão, câncer ósseo, problemas de pele, transtornos neurocognitivos, danos genéticos em bebês e síndromes de imunodeficiência, entre outras doenças. O artigo é de David Wilson.

Stop the War Coalition

“Os mísseis que levam pontas dotadas de urânio empobrecido se ajustam à perfeição à descrição de uma bomba suja...Eu diria que é a arma perfeita para assassinar um monte de gente”.
Marion Falk, especialista em física e química (aposentada), Laboratório Lawrence Livermore, Califórnia (EUA).

Nas primeiras vinte e quatro horas do ataque contra a Líbia, os B-2 dos EUA lançaram 45 bombas de 2 mil libras de peso cada uma (um pouco menos de uma tonelada). Estas enormes bombas, junto com os mísseis de cruzeiro lançados desde aviões e navios britânicos e franceses, continham ogivas de urânio empobrecido.

O DU (urânio empobrecido, na sigla em inglês) é um resíduo do processo de enriquecimento de urânio que é utilizado nas armas e reatores nucleares. Trata-se de uma substância muito pesada, 1,7 vezes mais densa que o chumbo, muito valorizada no exército por sua capacidade para atravessar veículos blindados e edifícios. Quando uma arma que leva uma ponta de urânio empobrecido golpeia um objeto sólido, como uma parte de um tanque, penetra através dele e depois explode formando uma nuvem quente de vapor. Esse vapor se transforma em um pó que desce ao solo e que é não só venenoso, mas também radioativo.

Um míssil com urânio empobrecido quando impacta algo sólido queima a 10.000°C. Quando alcança um objetivo, 30% dele fragmentam-se em pequenos projéteis. Os 70% restantes se evaporam em três óxidos altamente tóxicos, incluído o óxido de urânio. Este pó negro permanece suspenso no ar, e dependendo do vento e das condições atmosféricas pode viajar a grandes distâncias. Se vocês pensam que Iraque e Líbia estão muito distantes, lembrem-se que a radiação de Chernobyl chegou até Gales.

É muito fácil inalar partículas de menos de 5 micra de diâmetro, que podem permanecer nos pulmões ou em outros órgãos durante anos. Esse urânio empobrecido inalado pode causar danos renais, câncer de pulmão, câncer ósseo, problemas de pele, transtornos neurocognitivos, danos genéticos, síndromes de imunodeficiência e estranhas enfermidades renais e intestinais. As mulheres grávidas expostas ao urânio empobrecido podem dar à luz a bebês com deformações genéticas. Uma vez que o pó se vaporiza, não cabe esperar que o problema desapareça. Como emissor de partículas alfa, o DU tem uma vida média de 4,5 milhões de anos.

No ataque da operação “choque e pavor” contra o Iraque foram lançadas, somente sobre Bagdá, 1.500 bombas e mísseis. Seymour Hersh afirmou que só o terceiro comando de aviação dos Marines dos EUA lançou mais de “quinhentas mil toneladas de munição”. E tudo isso carregava pontas de urânio empobrecido.

A Al Jazeera informou que as forças invasoras estadunidenses dispararam 200 toneladas de material radioativo contra edifícios, casas, ruas e jardins de Bagdá. Um jornalista do Christian Science Monitor levou um contador Geiger até zonas da cidade que sofreram uma dura chuva de artilharia das tropas dos EUA. Encontrou níveis de radiação entre 1.000 e 1.900 vezes acima do normal em zonas residenciais. Com uma população de 26 milhões de habitantes, isso significa que os EUA lançaram uma bomba de uma tonelada para cada 52 cidadãos iraquianos, ou seja, uns 20 quilos de explosivos por pessoa.

William Hague, Secretário de Estado de Assuntos Exteriores britânico, disse que estávamos indo a Líbia “para proteger os civis e as zonas habitadas por civis”. Vocês não têm que olhar muito longe para ver a quem e o que está se “protegendo”.

Nas primeiras 24 horas, os aliados gastaram 100 milhões de libras esterlinas em munição dotada de ponta de urânio empobrecido. Um informe sobre controle de armamento realizado na União Europeia afirmava que seus estados membros concederam, em 2009, licenças para a venda de armas e sistemas de armamento a Líbia no valor de 333.357 milhões de euros. A Inglaterra concedeu licenças às indústrias bélicas para a venda de armas a Líbia no valor de 24,7 milhões de euros e o coronel Kadafi pagou também para que a SAS (sigla em inglês do Serviço Especial Aéreo) para treinar sua 32ª Brigada.

Eu aposto que nos próximos 4,5 milhões de euros, William Hague não irá de férias ao Norte da África.

Tradução: Katarina Peixoto

domingo, 20 de março de 2011

Sangue e petróleo

Guerra na Libya.

É um momento triste. Apeans mais um.

Só queria fazer um comentário rápido:
Segundo o Wikileaks, as ações das tropas americanas incorreram em cem mil mortos no iraque, e mesmo assim ainda tentam nos convencer que estavam querendo proteger o povo iraquiano.

E agora na Libya como vai ser?
Simples.
Para se proteger os líbios, bombardeia-se os líbios.

Até quando tanta loucura?

.... e por que será que toda guerra acontece em país produtor de petróleo?


PAZ PAZ PAZ PAZ PAZ
Alexei


PS: No link abaixo tem um avaliação geral da operação militar americana no Iraq. Vale a pena.
http://english.aljazeera.net/indepth/opinion/2011/03/201132173052269144.html