segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A Islândia é importante

Enquanto os notíciários seguem derramando tinta e mais tinta para falar de Portugal, Itália, Espanha, Grécia e Irlanda e suas respectivas crises econômicas, alguns outros países que passaram por situação muitíssimo semelhante a estes estão sendo confortavelmente esquecidos pela nossa mídia comercial. Não se faz notícia sobre eles, não se cita eventos acontecidos nesses lugares, não se pronuncia o nome desses países. É o caso muito interessante da Islândia.



A ilha da cantora Björk (ah.... por sinal, que voz maravilhosa!!!) foi uma das primeiras vítimas da crise do Euro, e chegou a ser manchete nos jornais do mundo por vários meses por conta da dívida astronômica que o pais contraiu. Economistas, articulistas, comentaristas, analistas, todos tinham algo a dizer sobre essa ilha. Passado um tempo, porém, a palavra "islândia" subitamente desapareceu completamente dos jornais. Coincidentemente foi logo após a população da islândia decidir, em referendo, que não iria pagar a divida dos banqueiros que quebraram o seu país no cassino das finanças internacionais. Em seguida banqueiros foram presos e os bancos reestatizados, e isso não é coisa tolerável pela nossa mídia. Agora, como se não bastasse, um novo referendo definiu que todos os recursos naturais desse país pertencem a TODO o seu povo e não podem ser privatizados. Acontece que vilanizar, bombardear e derrubar a mais antiga democracia parlamentar do mundo (aproximadamente mil anos) está fora de questão (até porque não há petróleo aqui), por isso optou-se tacitamente por ignorar totalmente sua existência.

Mas não há engano. A Islândia é importante.... e um belo exemplo a ser estudado.

Paz
Alexei 



Santayana: Islandeses abrindo caminho para uma pacífica revolução mundial dos povos?

publicado em 22 de outubro de 2012 às 11:58
O referendum islandês e os silêncios da mídia
por Mauro Santayana, em Carta Maior


Os cidadãos da Islândia referendaram, ontem, com cerca de 70% dos votos, o texto básico de sua nova Constituição, redigido por 25 delegados, quase todos homens comuns, escolhidos pelo voto direto da população, incluindo a estatização de seus recursos naturais.

A Islândia é um desses enigmas da História. Situada em uma área aquecida pela Corrente do Golfo, que serpenteia no Atlântico Norte, a ilha, de 103.000 km2, só é ocupada em seu litoral. O interior, de montes elevados, com 200 vulcões em atividade, é inteiramente hostil – mas se trata de uma das mais antigas democracias do mundo, com seu parlamento (Althingi) funcionando há mais de mil anos. Mesmo sob a soberania da Noruega e da Dinamarca, até o fim do século 19, os islandeses sempre mantiveram confortável autonomia em seus assuntos internos.

Em 2003, sob a pressão neoliberal, a Islândia privatizou o seu sistema bancário, até então estatal. Como lhes conviesse, os grandes bancos norte-americanos e ingleses, que já operavam no mercado derivativo, na espiral das subprimes, transformaram Reykjavik em um grande centro financeiro internacional e uma das maiores vítimas do neoliberalismo. Com apenas 320.000 habitantes, a ilha se tornou um cômodo paraíso fiscal para os grandes bancos.

Instituições como o Lehman Brothers usavam o crédito internacional do país a fim de atrair investimentos europeus, sobretudo britânicos. Esse dinheiro era aplicado na ciranda financeira, comandada pelos bancos norte-americanos. A quebra do Lehman Brothers expôs a Islândia que assumiu, assim, dívida superior a dez vezes o seu produto interno bruto. O governo foi obrigado a reestatizar os seus três bancos, cujos executivos foram processados e alguns condenados à prisão.

A fim de fazer frente ao imenso débito, o governo decidiu que cada um dos islandeses – de todas as idades – pagaria 130 euros mensais durante 15 anos. O povo exigiu um referendum e, com 93% dos votos, decidiu não pagar dívida que era responsabilidade do sistema financeiro internacional, a partir de Wall Street e da City de Londres.

A dívida externa do país, construída pela irresponsabilidade dos bancos associados às maiores instituições financeiras mundiais, levou a nação à insolvência e os islandeses ao desespero. A crise se tornou política, com a decisão de seu povo de mudar tudo. Uma assembléia popular, reunida espontaneamente, decidiu eleger corpo constituinte de 25 cidadãos, que não tivessem qualquer atividade partidária, a fim de redigir a Carta Constitucional do país. Para candidatar-se ao corpo legislativo bastava a indicação de 30 pessoas. Houve 500 candidatos. Os escolhidos ouviram a população adulta, que se manifestou via internet, com sugestões para o texto. O governo encampou a iniciativa e oficializou a comissão, ao submeter o documento ao referendum realizado ontem.

Ao ser aprovado ontem, por mais de dois terços da população, o texto constitucional deverá ser ratificado pelo Parlamento.
Embora a Islândia seja uma nação pequena, distante da Europa e da América, e com a economia dependente dos mercados externos (exporta peixes, principalmente o bacalhau), seu exemplo pode servir aos outros povos, sufocados pela irracionalidade da ditadura financeira.
Durante estes poucos anos, nos quais os islandeses resistiram contra o acosso dos grandes bancos internacionais, os meios de comunicação internacional fizeram conveniente silêncio sobre o que vem ocorrendo em Reykjavik. É eloqüente sinal de que os islandeses podem estar abrindo caminho a uma pacífica revolução mundial dos povos.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Drones aquáticos - o futuro da guerra no mar?

Os tambores de guerra vão tocando, nos palácios, nos jornais, nos noticiários...

Enquanto isso, os EUA vão aperfeiçoando sem muito alarde o seu novo brinquedo mortal. Drones Submarinos. O alvo da vez é o Irã, mas pode um dia ser o pré-sal brasileiro.


A senhora morte da risadas....

 Me da pena do mundo

A reportagem abaixo foi traduzida pela resistir.info

 

Paz

Alexei 

 

Drones subaquáticos para as guerras dos EUA
– Serão eles utilizados contra o Irã?

por Julie Lévesque
Drone subaquático. A obscurecer os efeitos devastadores dos drones dos EUA que matam civis inocentes por todo o mundo , é com um toque de humor e entusiasmo ligeiramente inadequados que a empresa de consultoria militar Strike Fighter Consulting louva os novos Veículos Subaquáticos Sem Tripulação da US Navy no seu artigo recente "Unmanned Drones Take to the Seas".

"Dá a impressão que os pilotos de drones vão precisar lições de natação.

A Armada dos EUA actualmente está a experimentar uma nova geração de drones subaquáticos nas águas junto a Newport, Rhode Island. A sua esperança é que estes drones venham a ser os primeiros passos (ou o primeiro cachorrinho, se quiser) para um futuro de submarinos autónomos.

Estes drones, que são conhecidos tecnicamente como Unmanned Underwater Vehicles (UUV) poderiam representar uma "alteração do jogo" para a Armada, disse Christopher Egan, administrador de programa no Naval Undersea Warfare Center.

Modelo do drone subaquático. Tudo o que torna os drones aéreos tão eficazes (effective) pode muito facilmente ser aplicado a submarinos. (Dabney B., Unmanned Drones Take to the Seas , Strike Fighter Consulting Inc, September 19, 2012, ênfase acrescentada.)

De que espécie de "eficiência" estamos a falar aqui?

A guerra com drones tem sido "eficiente" principalmente em matar civis inocentes, incluindo crianças, segundo um estudo da Universidade de Stanford e da Universidade de Nova York.
Segundo o novo estudo, apenas uma em cada cinquenta vítimas do programa da CIA de ataques "dirigidos" ("targeted") com drones em áreas tribais do Paquistão são militantes conhecidos, ao passo que um número entre 2.562 e 3.325 pessoas foi morta no Paquistão entre Junho de 2004 e meados de Setembro deste ano – das quais entre 474 e 881 era civis, incluindo 176 crianças. (The News International (Pakistan), Pakistan. CIA Annihilation From The Air: Drone Warfare's Invisible Dead , September 26, 2012)
Dizem-nos que estes novos "cost-efficient" drones submarinos "poderiam ser utilizados para mapear o fundo do oceano, detectar minas inimigas, colectar informação ou apoiar a guerra submarina [...] A Armada espera que o Razor seja virtualmente indetectável pelos sistemas inimigos". (Dabney B., op. cit.)

No princípio deste ano a Aviation Week publicou um artigo sobre Veículos Subaquáticos Não Tripulados de Grande Deslocação (Large Displacement Unmanned Underwater Vehicle, LDUUV) o qual confirma que a tecnologia drone subaquática não está bem estabelecida. Prevê-se que o novo Large Displacement Unmanned Underwater Vehicle (LDUUV) seja utilizado não após 2014:
O Large Displacement Unmanned Underwater Vehicle (LDUUV) será grande e extremamente autónomo, executando missões a longas distâncias durante meses. Ele actuará como um navio mãe (mothership), posicionando e operando sensores estáticos e móveis para vigilância persistente em águas costeiras. Finalmente, é provável que seja armado. O programa parece ambicioso, mas grande parte da tecnologia já foi demonstrada.

[...]

O LDUUV terá uma grande capacidade de carga útil, tornando-o capaz de libertar sensores, bóias de comunicação, UUS mais pequenos e armas. A ênfase actual da Armada está na vigilância persistente "externa" ("over the horizon"). Contudo, o seu impacto mais significativo poderia ser na guerra das minas, tanto ofensivas como defensivas.

E o LDUUV poderia tornar a colocação de minas mais controlável e clandestina. No conceito de mina transformacional, o LDUUV coloca sensores em rede numa área vasta. Estes rastreiam e identificam todo navio dentro da sua amplitude. Dependendo da situação, qualquer navio pode ser atacado, seja por uma arma ancorada ou por um torpedo vindo do próprio UUV.

[...]

A Armada planeia divulgar um pedido de propostas para o LDUUV em 2014. Em Outubro último o contra-almirante Barry Bruner, o director de guerra subaquática da Armada, indicou que mais de 10 LDUUVs seriam encomendados. O LDUUV está a ser encarado como um ajudante para complementar submarinos tripulados. Contudo, se ele alcançar os objectivos tecnológicos de resistência e autonomia, colocará questões sérias acerca do que exactamente grandes embarcações não tripuladas poderiam afinal das contas não fazer. (David Hambling, Large Displacement Unmanned Underwater Vehicle Steaming Ahead , Aviation Week, April 1, 2012, ênfase acrescentada.)
Drone EchoRanger, da Boeing. Se esta tecnologia foi demonstrada, ela poderá ser utilizada para a guerra subaquática.

Será que submarinos armados não tripulados serão utilizados em "minagens clandestinas" contra o Irão no Golfo Pérsico?

A respeito disto, relatórios confirmam que actualmente (Setembro/2012) estão a ser conduzidos exercícios militares próximos das águas territoriais do Irão e são "destinados a simular a resposta do Irão a um ataque dos EUA-Israel, nomeadamente que acções serão tomadas pelas forças aliadas em resposta à retaliação militar pelo Irão". (Michel Chossudovsky, “Warship Diplomacy”: A Prelude to All Out War against Iran? , Global Research, September 26, 2012.)

Drones subaquáticos fazem parte dos jogos de guerra, informa a Bloomberg:
"O ''Mark 38 Mod 2,” de 25 mm guiado da BAE Systems Plc (BA/) 25mm guided e o veículo subaquático não tripulado Kingfish estão entre os programas que o Pentágono acelerou este ano sob uma iniciativa "Via rápida" ("Fast Lane") para reagir a armas navais iranianas. Uma das mais sérias ameaças, diz a Armada, são botes iranianos de alta velocidade que podem empregar tácticas de "enxame". ( Bloomberg , September 19, 2012. ênfase acrescentada.)
Uma declaração recente do Director de Investigação do think tank neocon Washington Institute for Near East Policy sugeriu que os EUA deveriam provocar o Irão a "disparar o primeiro tiro".
"Estamos no jogo de utilizar meios encobertos contra os iranianos. Podemos ficar mais sujos com isso [...] Os Estados Unidos – juntamente com muitos parceiros internacionais que pode mobilizar – deveriam mover-se para acções mais contundentes, sejam encobertas ou abertas, publicamente proclamadas ou negáveis". (Patrick Clawson, citado em Michel Chossudovsky, Neocon Washington Think Tank: The US should Provoke Iran into “Firing the First Shot” , September 26, 2012.)
Drones subaquáticos parecem constituir a arma perfeita a ser utilizada em actos de provocação.
28/Setembro/2012
O original encontra-se em www.globalresearch.ca/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

sábado, 8 de setembro de 2012

Vende-se uma eleição

Em qualquer lugar do mundo seria chamado de corrupção, mas nos EUA é um direito protegido por lei. Corporações, cujo único interesse - declaradamente - é o lucro, estão financiando e realmente determinando os rumos da eleição presidencial dos EUA. O cinismo do sistema judicial-eleitoral americano é assustador e vai ser a piada das gerações futuras. Isso não e democracia, é corporocracia, é plutocracia, é oligocracia, é a lucrocracia. Que tipo de lição de democracia um país desses pode ensinar aos outros povos? Lição nenhuma.

No artigo abaixo vemos um resumo de como, nesses últimos anos, as regras foram modificadas para favorecer ainda mais o poder das grandes corporações de direcionarem o processo eleitoral e escolher o novo comandante-em-chefe da maior máquina de destruição e morte do planeta.  

Paz
Alexei

  

Como as corporações estão comprando as eleições dos EUA

A lei dos EUA ainda bane corporações estrangeiras de participarem diretamente nas eleições do país. Mas após um caso vencido na Justiça pela ONG Citizens United, associações como o Instituto Americano do Petróleo, financiado transnacionais, entre elas a maior petroleira saudita, estão livres para gastar como quiserem. O presidente Obama já fez essa denúncia.

No dia 27 de janeiro de 2010, um ano na presidência, o presidente Barack Obama tratou de um problema no discurso feito para a ocasião. A Suprema Corte acabara de abrir "as portas a interesses especiais, incluindo de corporações estrangeiras, para gastar um montante sem limites nas nossas eleições". Ele se reportava à decisão judicial para o embate entre a ONG Citizens United e a Comissão Eleitoral Federal [agência do governo dos EUA que regula o financiamento eleitoral no país], na qual a corte derrubou uma centena de leis, garantindo às corporações um novo e vasto campo para influenciar o resultado das eleições.

Nos meses depois do discurso de Obama, o Instituto Americano do Petróleo (API, na silha em inglês), uma associação de indústrias petrolíferas que representa centenas de multinacionais de petróleo e gás, demonstraria o quão premonitório era o aviso do presidente.

Antes da decisão da corte, a API havia entrado em conflito contra o presidente sobre seus esforços em animar as discussões sobre o aquecimento global. Isso demandou anúncios, contratações de lobistas da K Street [avenida de Washington que concentra escritórios de lobby], e o financiamento de estudos controversos para afirmar que até mesmo a mais irrisória regulação legislativa, como a taxa Waxman-Markey de limitação de carbono emitido, arruinaria a economia. O grupo gastou US$ 7,3 milhões em lobbys federais durante o ano em que a taxa era discutida.

Mas chegada a eleições legislativas de meio de mandato, a Citizens United entregou para a API uma bala adicional a seu revólver. O grupo poderia agora enviar doações não reveladas de corporações diretamente para entidades de campanha. Dentre os executivos que lideravam a API naquela época - e ainda hoje faz parte da liderança - estava Tofiq Al-Gabsani, um lobista contratado pelo governo saudita. Al-Gabsani é o diretor-executivo da Saudi Refining Inc., uma total subsidiária da Companhia de Petróleo da Arábia Saudita, a gigante petrolífera estatal mais conhecida como Aramco.

A Aramco, pela sua subsidiária americana, é conhecida por ser um dos maiores doadores da API. De acordo com o Washington Post, a contribuição das maiores empresas atinge cerca de US$ 20 milhões por ano. A API tem, sem muito apuro, 400 empresas membros, mas somente um pequeno grupo de CEOs da indústria de óleo e gás senta-se à mesa de diretores, que analisam as principais decisões sobre campanha política, isto de acordo com os arquivos de negócio estatal e dois ex-executivos da API. Ao lado de grandes empresas americanas como ExxonMobil e ConocoPhillips, um desses diretores foi Al-Gabsani.

A lei americana ainda bane corporações estrangeiras de participarem diretamente nas eleições. Mas depois da Citizens United, associações como API - na qual membros influentes incluem corporações estrangeiras - estão livres para gastar como querem, tranquilizados pelas exigências de divulgação. Estes grupos aproveitam totalmente suas novas liberdades. Enquanto outros comitês de campanha, de centrais sindicais a super comitês políticos, encaram regras rígidas de transparência, associações multinacionais desfrutam de um poder incomparável na manipulação camuflada das eleições usando o dinheiro corporativo.

Grupos financiados pela API foram a força por trás da massiva onda de propagandas negativas para golpear Democratas nas eleições legislativas. O candidato a senador democrata Joe Sestak da Pensilvânia "votou no plano desempregador e censor-limitador de Pelosi", entoou uma propaganda de TV, no período eleitoral, pela Americans for Tax Reform, um dos vários grupos financiados pela API em 2010. Sestak votou pela cobrança na poluição por carbono, a propaganda continua, que institui "uma enorme cobrança que faria as contas públicas e também o preço da gasolina subirem". Sestak perdeu sua disputa para o Senado, e seu assento no Congresso foi um dos 63 tomados pelos Republicanos.

As propagandas bancadas por entidades como API ajudaram numa das maiores decepções da história americana. Pela primeira vez, gastos de grupos externos ofuscaram os gastos do próprio partido. O jovem presidente, com décimos de seu partido e com o Congresso na mão da extrema-direita, foi forçado a abandonar muitos dos seus planos nacionais internos.

Talvez o aspecto mais profundo da derrota democrata desse ano: a esperança de um confronto com o aquecimento global foi perdida. Com eventos climáticos convulsionando no globo, 86% dos recém-chegados republicanos assinaram emenda contra qualquer regulação climática às indústrias petrolíferas. Foi o líder do Congresso, John Boehner, levantar o martelo, e qualquer chance de aprovação de lei climática foi por água abaixo. Deste modo, a derrota democrata foi uma vitória retumbante das companhias de petróleo representadas pela API - e para Arábia Saudita, a maior exportadora de petróleo do mundo.

A Arábia Saudita trabalhou durante anos para obstruir qualquer progresso em reformas climáticas. Apenas semanas antes do discurso feito por Obama à União alertando sobre os perigos do dinheiro corporativo estrangeiro, Mohammad Al-Sabban, conselheiro-sênior do governo saudita de políticas energéticas, ajudou a organizar a oposição ao acordo global climático em Copenhagen. Como muitos dos interesses destes grupos dependem de combustíveis fósseis, Al-Sabban negou até a ideia de que a indústria contribuiu para o aquecimento global. "O clima está mudando há milhares de anos, mas por razões naturais não humanas", disse à BBC News.

Antes da decisão da Suprema Corte, a saudita Aramco estava proibida de usar dinheiro corporativo para influenciar uma eleição americana. A única opção da companhia seria pedir que seus empregados americanos fizessem pequenas doações para comitês políticos transparentes.

Uma decisão de 1990 da Suprema Corte, Austin v. Michigan Chamber of Commerce, requereu que associações comercias desmembrassem-se e fossem rigorosamente reguladas caso solicitassem participar das eleições federais. Estes comitês políticos poderiam somente receber financiamento, às claras, de indivíduos, em quantias limitadas pela Comissão Eleitoral Federal. Associações comerciais foram restringidas na disputa de 2002 pela lei McCain-Feingold, que evitou corporações de levarem ao ar a chamada comunicação eleitoral dentro de 60 dias da eleição. Esse banimento englobou anúncios perniciosos, comerciais onipresentes que são algo como isto: "Ligue para o senador John Smith e o impeça de continuar acabando com empregos!".

Então, em 2007, apenas um ano depois de o juiz Samuel Alito [considerado conservador] assumir o posto da juíza Sandra Day O'Connor, e também somente dois anos na gestão de John Roberts como chefe da Suprema Corte, esta foi trabalhar na revogação de todas as restrições. Naquele ano, no caso Federal Election Commission v. Wisconsin Right to Life, a maioria conservadora da corte trouxe abaixo os limites nos financiamentos corporativos de anúncios. Três anos depois, a ONG Citizens United expandiu consideravelmente o escopo desta decisão, derrubando qualquer proibição contra corporações de levarem ao ar qualquer anúncio eleitoral de qualquer tipo, a qualquer hora.

Na contra-mão, o jurista John Paul Stevens alertou que a lógica da Suprema Corte, que coloca em pé de igualdade o gasto por corporações com o gasto por indivíduo particular, abriria portas para influência estrangeira em eleições americanas. A decisão dispõe "a mesma proteção às corporações multinacionais controladas por estrangeiros também para indivíduos particulares americanos", escreveu Stevens.

O jurista, em vias de se aposentar, na sua mais longa dissidência, caçoou da maioria das reclamações de que corporações são censuradas na sociedade americana. Tivesse tal decisão posta no cenário pré-Segunda Guerra, ele comenta, propagandas japonesas no Pacífico Sul estariam de acordo com a Primeira Emenda. E embora Stevens tenha continuado a preocupação sobre influência estrangeira em discursos, lobistas reconheceram imediatamente os caminhos pelos quais as corporações poderia tomar vantagem desta decisão.

Em 2010, Cleta Mitchell, uma advogada eleitoral republicana que aconselhou candidatos presidenciais tanto quanto corporações, começou a entregar apresentações em PowerPoint para executivos das maiores associações comerciais. Numa versão chamada "Atividade Política depois de Citizens United: entendendo oportunidades e riscos", apresentada na capital americana, Washignton, em centros de conferências para grupos comerciais, como a Consumer Eletronics Association (CEA), Mitchell destacou que "muitas corporações não se arriscaram no envolvimento próprio nos anúncios”, e também não escolherão trabalhar com comitês que estão sob a tutela dos requerimentos de transparência. Envolvimento tão direto, ela avisa, pode resultar em "problemas para imagem pública da corporação, assim como experimentou a Target".

Ela se refere ao episódio que desde então se tornou notório no mundo corporativo eleitoral, quando a Target e a Best Buy foram as duas das primeiras grandes empresas a tomar vantagem da decisão Citizens United com a doação de US$ 250 mil para as prévias em Minnesota, ao comitê criado para apoiar Tom Emmer, candidato estadual. Mas Emmer foi o mais proeminente opositor aos direitos gays, e quando arquivos revelaram que Target financiou sua campanha, MoveOn.org organizou um boicote às lojas da companhia. O CEO da Target, Gregg Steinhafel, foi forçado a retroceder, e o episódio tornou-se o que James Kahl - conselheiro geral da Comissão Eleitoral Federal que agora aconselha organizações comerciais - chama de "conto de advertência".

Apesar desse caso, a advogada Cleta Mitchell disse que "as associações comercias são as grandes vencedores": sem arquivos, sem transparência, sem problemas.


Tradução de Caio Sarack

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Indiguine-se

Especuladores inúteis que vivem no luxo enquanto tratam a economia como um cassino estão culpando você, trabalhador produtivo, pela crise na economia. Usam seus pseudo-jornalistas mercenários para envenenar-te contra ti mesmo. Querem te convencer que o seu salário está alto demais. Vocês trabalhadores recebem auxilio demais do governo. Vocês custam demais para eles. Vocês não trabalham o bastante para honrar seus compromissos. Vocês devem pagar pelos benefícios que receberam. Vocês não tem qualificação para continuarem empregados. Vocês são o estorvo, vocês SÃO o problema.

Não aceite esse lixo
Indiguine-se agora

Paz
Alexei


Indignados da Espanha em assembleia permanente para “ocupar” o Congresso

Ativistas pretendem levar milhares ao centro de Madri, no dia 25 de setembro, para tomar as ruas no entorno do Parlamento e rodeá-lo de gente. Ato “Ocupa o Congresso” pretende chamar a população para o “resgate da cidadania” e reforçar as críticas ao modelo atual de democracia. Protesto vai além da contestação aos políticos e propõe a abertura de um processo constituinte. A reportagem é de Guilherme Kolling, direto de Madri.

Madri - Dia 1º de setembro, sábado ensolarado e ameno em Madri. Cerca de 100 pessoas se reúnem em um círculo formado em um recanto do Parque do Retiro. Passam um megafone de mão em mão, debatem, anotam. A conversa tem início as 11h e só termina por volta das 20h. No domingo, o evento se repete, no mesmo local e horário.

O mês começou com reuniões diárias dos Indignados da Espanha. As assembleias prosseguirão até o dia 25, quando um coletivo de grupos da sociedade civil fará um grande ato chamado “Ocupa o Congresso”. A ideia é levar milhares para as ruas, rodear o Parlamento de gente em nome de um “resgate” do Legislativo e da cidadania. “Os mercados sequestraram o Congresso e a política foi roubada dos cidadãos”, argumentaram ativistas em um dos encontros no parque.

A expressão “resgate” faz referência indireta ao repasse de 100 bilhões de euros da União Europeia para salvar o sistema bancário espanhol. O recurso chegará à custa de muito sacrifício da população, afetada pelos cortes drásticos no orçamento - 65 bilhões de uma tacada -, que atingem os serviços de saúde e educação, além dos rendimentos de funcionários públicos, aposentados e desempregados (um quarto da população economicamente ativa).

O pacote anunciado pela gestão do Partido Popular de Mariano Rajoy para diminuir o endividamento do país ibérico inclui ainda uma subida da carga tributária. Primeiro foi o imposto de renda, no início do ano, e agora entrou em vigor o aumento do IVA (Imposto sobre Valor Agregado), que abrange quase todos os setores da economia, alterando desde o preço do metrô (que já havia sido reajustado em maio) até produtos de alimentação.

As medidas não estavam previstas no plano de governo do PP. O povo saiu às ruas ao longo de todo o primeiro semestre para protestar. Ninguém parece estar de acordo com o duro ajuste fiscal. O próprio Rajoy admite que é contrário a essas ações impopulares, mas justifica que não há outra saída nesse momento.

Ou seja, as decisões não são mais tomadas em Madri, mas em Bruxelas, onde fica a Comissão Europeia, e em Berlim, capital da Alemanha, principal economia do bloco. Para os Indignados, mais uma prova da falência do atual sistema democrático na Espanha - “Le llaman democracia esto no es!” é uma das palavras de ordem do grupo. Falta força ao governo para defender a soberania nacional e sobra contrariedade na população, que protesta contra suas medidas.

No Congresso, emblema do sistema democrático espanhol, houve poucos debates quando Rajoy anunciou os cortes - a maioria dos parlamentares é governista. Além disso, o local está patrulhado ostensivamente por policiais há quase dois meses. Nos dias mais tensos, furgões, grades e homens armados controlam duas quadras da rua Cedaceros, onde está o prédio em que os deputados federais dão expediente. Tudo para evitar protestos no local.

A norma deve ser desafiada no dia 25 de setembro, o 25-S, como dizem os espanhóis. Antes disso, no dia 15, os principais sindicatos do país pretendem fazer um megaprotesto contra os cortes, propondo um referendo popular para avaliar as medidas do governo. O outono será quente nas ruas de Madri.

Evolução no discurso e resultados concretos
Há um ano e meio, em 15 de maio de 2011, os olhos do mundo estavam voltados para a Puerta del Sol, no centro de Madri, onde um grupo de jovens saiu às ruas para protestar contra o sistema político do país. Conhecidos como Os Indignados, o coletivo pedia “democracia real já” e dizia que os políticos não os representavam. “Que no, que no, que nos representan!”

Apresentando-se como os 99% da população que estavam insatisfeitos com a política que beneficia o 1% que está ao lado do capital financeiro internacional, o 15-M (referência à data 15 de maio) sustentava que a crise financeira não deveria ser paga com sacrifícios do povo, mas sim pelos banqueiros. “Esa crise no la pagamos!”

A mobilização inicial durou três meses, em toda a Espanha, e, segundo pesquisas, cerca de 4 milhões de espanhóis participaram de algum ato do 15-M em todo o país. Contrários a todos os partidos e até mesmo aos sindicatos, o movimento recebeu algumas críticas pelo seu niilismo, que não viria acompanhado de propostas.

Entretanto, os Indignados fomentaram a criação de assembleias de bairros e apoiaram grupos que trabalham, por exemplo, a questão da moradia, uma tema que ganhou mais importância devido ao aumento exponencial de casos de despejo de pessoas que não conseguiram mais pagar sua hipoteca após a crise. E, em um ano, o 15-M catalogou 14.700 propostas para mudar o sistema.

Nessa linha evolutiva, do protesto às propostas, fica claro nas discussões das assembleias preparatórias ao Ocupa o Congresso a preocupação em não apenas criticar o sistema, mas dar um passo adiante, buscar soluções.

“De que adianta derrubar um governo que é ilegítimo se logo entra outro que fará a mesma coisa?Por isso é importante discutir o sistema, queremos mudar o modelo que está aí”, disse um dos ativistas durante a assembleia de sábado no Parque do Retiro. Seus companheiros levantaram os braços e chacoalharam as mãos, sinal utilizado pelos Indignados para dizer que estão de acordo. “Em diversas discussões, percebo que já não se fala mais dos problemas do PP ou do PSOE (principais partidos na Espanha). Muita gente já se deu conta de que é preciso mudar o regime, isso é que se está sendo discutido”, comemorava outro integrante dos Indignados.

O consenso nas reuniões é de que o ato de 25 de setembro não acabe na ação simbólica do dia, deve ser o marco para o início de um processo constituinte participativo e contínuo, uma transição democrática até se chegar a um novo modelo em que o cidadão seja mais ouvido.

A coordenação do 25-S já explicita a proposta em sua página na internet (http://coordinadora25s.wordpress.com), em que fala da “injusta situação atual de perda de direitos em saúde, educação, serviços sociais, emprego e moradia” e propõe o início de um processo que leve a Espanha “a um novo modelo social, baseado na soberania popular participativa”.

O ambiente é propício para isso. Diversos setores da sociedade, inclusive partidos políticos, defendem mudanças constitucionais, fala-se em uma nova lei eleitoral e, nas ruas, a crise e a ineficiência do atual sistema são temas recorrentes nas conversas do cidadãos, seja em paradas de ônibus, bares ou no metrô.

Para completar o quadro, segundo pesquisas divulgadas em agosto, os políticos estão entre as categorias com maior rejeição da opinião pública, rivalizando com os banqueiros na disputa pela última colocação das instituições-setores pior avaliadas pela sociedade espanhola.

Ativistas de Barcelona alertam para guerra midiática
No dia 3 de setembro, ativistas de Barcelona foram a Madri para expor aos organizadores do ato Ocupa o Congresso a experiência que tiveram em uma ação parecida no entorno do Parlamento da Catalunha, realizada em junho de 2011.

Na época, os Indignados catalães queriam evitar a votação de um orçamento para sua província com cortes que já haviam sido definidos pela União Europeia e que não estavam previstos nas plataformas eleitorais de nenhum partido.

Depois de uma vigília noturna em frente ao Legislativo na véspera da votação, os manifestantes passaram o dia seguinte no local, com propostas como a de um orçamento participativo. Milhares de pessoas ficaram lá de forma pacífica. Mas houve atos de hostilidade na chegada de alguns parlamentares e confrontos pontuais com a polícia.

Nos meios de comunicação, a única mensagem exposta foi a de que houve violência em Barcelona. “Por isso é muito importante estar preparado para a guerra midiática. Ainda mais aqui em Madri, onde já há ataques ao movimento antes de ele ocorrer”, observou um ativista de Barcelona, em referência às críticas de representantes do governo de Madri e de jornais como o conservador La Razón ao Ocupa o Congresso.

Um das principais preocupações da organização do 25-S é que não haja enfrentamento com a polícia. É consenso que será uma ato de não violência, mas o desafio é evitar distúrbios numa massa de dezenas de milhares de pessoas e num ambiente que será de tensão, tendo em vista que haverá sessão no Congresso e um grande contingente de policiais será mobilizado.

Também já foi definido que não se pretende evitar a passagem dos parlamentares e muito menos a sessão do dia. Nessas três semanas que antecedem o ato, os ativistas pretendem deixar muito claro nas redes sociais e nos meios de comunicação o caráter pacífico da ação.

O objetivo é garantir que o momento seja de difusão da mensagem de que o sistema político tem problemas e que a sociedade espanhola precisa discutir mudanças, sem perder espaço para ataques ou rótulos que já estão sendo ventilados, como o de “violência de grupos anti-sistema” ou “golpe de estado, num ataque ao Congresso”.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O neo-equatoriano

"Unir contra a opressão"

- Declaração oficial a partir da Embaixada Equatoriana


por Julian Assange [*]

Estou aqui porque não posso estar mais próximo de vocês.

Obrigado por estarem aqui.

Obrigado pela vossa resolução e generosidade de espírito.

Na quarta-feira à noite, depois de uma ameaça enviada a esta embaixada e de a polícia ter descido sobre este edifício, vocês vieram no meio da noite para guardarem-no e convosco trouxeram os olhos do mundo.

Dentro da embaixada, após escurecer, eu podia ouvir equipes da polícia a enxamearam dentro do edifício através da escada de incêndio interna.

Mas eu sabia que ali estariam testemunhas.

Se o Reino Unido não jogou fora as Convenções de Viena naquela noite foi porque o mundo estava a observar.

E o mundo estava a observar porque vocês estavam ali.

Da próxima vez que alguém lhes disser que é inútil defender os direitos que valorizamos, recordem-se da vossa vigília na escuridão do lado de fora da Embaixada do Equador – e de como pela manhã o sol nasceu num mundo diferente, e de uma corajosa nação latino-americana que se ergue pela justiça.

E assim, àquelas pessoas corajosas:

Agradeço ao Presidente Correa pela coragem que tem mostrado ao considerar e garantir-me asilo político.

E agradeço ao governo e ao ministro das Relações Exteriores, Ricardo Patiño, que tem sustentado a constituição equatoriana e a sua noção de direitos universais ao considerar o meu caso.

E ao povo equatoriano por apoiar e defender a sua constituição.

Tenho uma dívida de gratidão para com a equipe desta embaixada cujas famílias vivem em Londres e que têm manifestado hospitalidade e gentileza para comigo apesar das ameaças que têm recebido.

Nesta sexta-feira haverá uma reunião de emergência em Washington D.C. dos ministros dos Negócios Estrangeiros da América Latina para tratar desta situação.

Assim, estou grato aos povos e governos da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Peru, Venezuela e todos os outros países latino-americanos que vieram em defesa do direito de asilo.

Ao povo dos Estados Unidos, do Reino Unido, da Suécia e da Austrália que me têm apoiado com força, ao passo que os seus governos não. E àquelas cabeças mais sábias no governo que ainda estão a combater pela justiça. Este dia chegará.

À equipe, apoiantes e fontes do WikiLeaks cuja coragem, compromisso e lealdade nunca se viu igual.

À minha família e meu filho a quem foi negado o seu pai. perdoe-me. Estaremos reunidos em breve.

Como a WikiLeaks permanece sob ameaça, assim também permanece a liberdade de expressão e a saúda das nossas sociedades.

Devemos utilizar este momento para articular a opção com que se depara o governo dos Estados Unidos da América.

Retornará e reafirmará os valores sobre os quais foi fundado?

Ou inclinar-se-á para o precipício arrastando-nos todos para um mundo perigoso e opressivo no qual jornalistas caem silenciosos sob o medo da perseguição e os cidadãos devem murmurar na escuridão?

Digo que deve voltar atrás.

Peço ao Presidente Obama que faça a coisa certa.

Os Estados Unidos devem renunciar à sua caçada de feiticeiras contra a WikiLeaks.

Os Estados Unidos devem desfazer a sua investigação do FBI.

Os Estados Unidos devem prometer que não procurarão processar nossa equipe ou nossos apoiantes.

Os Estados Unidos devem comprometer-se perante o mundo a que não perseguirão jornalistas por lançarem uma luz sobre os crimes secretos dos poderosos.

Não deve haver mais conversas tolas acerca de processar qualquer organização de media, seja a WikiLeaks ou o New York Times.

A guerra da administração estado-unidense aos denunciantes deve acabar.

Thomas Drake, William Binney, John Kirakou e os outros heróicos denunciantes dos EUA devem ser perdoados e compensados pelos sofrimentos que aguentaram ao serviço do registo público.

E o soldado do Exército que permanece numa prisão militar em Fort Leavenworth, Kansas, que a ONU descobriu tem aguentado meses de detenção tormentosa em Quantico, Virginia, e que ainda tem – após dois anos de prisão – de ir a julgamento, deve ser libertado.

E se Bradley Manning realmente fez aquilo de que é acusado, ele é um herói, um exemplo para todos nós e um dos mais importantes prisioneiros políticos do mundo.

Bradley Manning deve ser libertado.

Na quarta-feira, Bradley Manning passou o seu 815º dia de detenção, sem julgamento. O máximo legal é 120 dias.

Na quinta-feira, meu amigo Nabeel Rajab, foi sentenciado a três anos por um tweet.

Na sexta-feira, uma banda russa foi sentenciada a dois anos na prisão por uma actuação política.

Há unidade na opressão.

Deve haver absoluta unidade e determinação na resposta.
19/Agosto/2012
[*] Fundador da WikiLeaks .

O original encontra-se em http://www.countercurrents.org/assange190812.htm


Este discurso encontra-se em http://resistir.info/ .

domingo, 15 de julho de 2012

E a liberdade de expressão no Paraguai?


http://paraguayresiste.com
Por Altamiro Borges
Os golpistas do Paraguai censuram, demitem jornalistas e fecham rádios comunitárias com a cumplicidade da mesma mídia – local e mundial – que adora clamar cinicamente por “liberdade de expressão”. Nesta semana, a Federação Internacional dos Jornalistas (FIP) divulgou nota denunciando que “os trabalhadores da imprensa sofrem ameaças em seus postos de trabalho em função das opiniões que assumem publicamente” e que “o temor de perder o emprego opera mais forte do que a pior das censuras”.
Perseguição às rádios comunitárias
Segundo Vicente Páez, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas do Paraguai, “os meios de comunicação privados reduziram os espaços dedicados às mobilizações contra a ruptura da ordem democrática”. Notícias sobre protestos em várias partes do país são censuradas e o governo e a mídia golpista vendem a imagem de que reina a paz. Já antes do golpe, a imprensa tentou criar um clima de pânico na sociedade. “As corporações midiáticas foram complacentes com a destituição de Lugo”, afirma Páez.
Por sua vez, Alcides Villamayor, representante da Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc) no Paraguai, tem alertado para o risco de um “cerco legal” contra estas emissoras. Em recente entrevista, Carlos Gómez Zelada, novo chefe da Comissão Nacional de Telecomunicações, anunciou que “200 rádios perderão as suas concessões”. Villamayor, que também é dirigente da Associação Paraguai de Comunicação Comunitária, garante que a liberdade de expressão está em perigo no país.
TV Pública atacada pelos golpistas
Um dos alvos principais dos trogloditas que usurparam o poder é a TV Pública do Paraguai. No mesmo dia da deposição de Lugo, em 22 de junho, Christian Vázquez, jagunço dos golpistas, visitou a sede da emissora, em Assunção, e exigiu que fosse tirado do ar o programa “Micrófono Abierto”. Ele não obteve êxito porque os trabalhadores resistiram e, na sequência, várias populares se concentraram na sede, que virou um dos principais polos de resistência ao golpe.
Gustavo Granero, vice-presidente da FIP, lembra que, além das constantes ameaças à TV Pública, a Rádio Nacional do Paraguai também deixou de exibir a sua programação habitual. Programas de organizações sociais, como a dos jovens e a dos migrantes no exterior, foram tirados do ar. Para ele, “é muito preocupante o que ocorre no Paraguai”. Governo e empresários censuram e a mídia monopolizada tornou-se o principal partido dos golpistas. Ele alerta para a urgência da solidariedade internacional.
Monopólio da mídia privada
Para o jornalista Washington Uranga, do diário argentino Página 12, não há mais liberdade de expressão no Paraguai. “Dezenas de repórteres, comunicadores sociais e produtores estão sendo demitidos da Rádio Nacional, da Televisão Pública, da agência de notícias oficial IP Paraguay e da Secretaria de Informação e Comunicação (Sicom). As demissões, sem causa justificada, apoiam-se em argumentos ideológicos e políticos. Além disso, os correios eletrônicos de muitos jornalistas sofreram inexplicável bloqueio”.
Com a destruição dos meios públicos e comunitários, a única voz que impera é a dos monopólios privados. "Os diários de maior circulação no país, ABC Color e Ultima Hora, foram permanentes instigadores do julgamento político contra Lugo e suas páginas justificam o golpe institucional. ABC pertence ao grupo Zuccolillo, tradicional aliado do Partido Colorado, que patrocinou o golpe e aspira chegar ao poder nas eleições de abril do próximo ano. Ultima Hora é do grupo Vierce, dono também da Telefuturo, La Tele e de dez rádios espalhadas por todo o país. Todos estes veículos atacaram, de maneira infundada, a Lugo”.
O silêncio dos falsários
Diante deste quadro dramático, nenhuma corporação midiática – do Brasil ou da maior parte do mundo – condena os atentados à democracia e à liberdade de expressão no Paraguai. A Sociedade Americana de Prensa (SIP) não dá os seus costumeiros chiliques, sempre dirigidos contra os governos progressistas da região. Os “calunistas” amestrados da TV Globo, Veja, Estadão ou Folha não se pronunciam sobre a censura, a demissão de jornalistas e o fechamento das rádios comunitários. São uns falsários!

A queda de confiança nos telejornais


Por Altamiro Borges
Pesquisa do Instituto Gallup revelou que o nível de confiança dos estadunidenses com as notícias transmitidas pela televisão caiu em junho último ao seu nível mais baixo na história. Apenas 21% dos telespectadores responderam que acreditam nos telejornais. O Gallup realiza estas sondagens desde 1993, quando a credibilidade dos noticiários televisivos era de 43%.  Até o início dos anos 2000, o índice se manteve acima dos 30%. Na sequência, ele passou a cair todos os anos.
Vários fatores explicam a decadência dos telejornais dos EUA. O mais citado é o da difusão das novas tecnologias de informação. A internet tem causado estragos não apenas na mídia impressa, com o fechamento de inúmeros jornais, mas também nas emissoras de televisão. Os jovens, principalmente, têm migrado das telinhas da tevê para os computadores. Outras pesquisas já tinham indicado a queda da audiência das emissoras e, até mesmo, a perda no mercado publicitário – o que apavora os donos da mídia.
Crise de credibilidade
Além do fator tecnológico, as gritantes manipulações na cobertura dos telejornais também afetam a credibilidade. É interessante observar que, segundo o Gallup, o nível de desconfiança se acentua a partir do início deste milênio. Em setembro de 2001, com os atentados ao Word Trade Center, as poderosas redes de televisão dos EUA se tornaram veículos da guerra imperialista – onde a verdade é a primeira vítima. Elas passaram a difundir as mentiras do império para justificar as invasões do Afeganistão e Iraque.
As emissoras de televisão do Brasil, principalmente a TV Globo, não estão imunes a estes fatores. A internet se dissemina pelo país e a credibilidade dos seus noticiários também sofre questionamento. A bolinha de papel que virou, segundo o JN da TV Globo, um petardo na careca do tucano José Serra ajuda a explicar a desconfiança crescente. Com  isso, o modelo de negócios das poucas famílias que monopolizam as concessões públicas na televisão também sofre abalos.

domingo, 8 de julho de 2012

Quando lobos protegem ovelhas

A justificativa é verdadeiramente surreal. A Bolívia (tão perigosa Bolívia) estaria realizando uma corrida armamentista, e portanto é preciso proteger esta parte pouco povoada do território paraguaio. A parte verdadeiramente tragicômica disso é que para defender o seu país do ataque boliviano este deputado da direita-que-faz-impeachment-em-24-horas-sem-direito-à-defesa sugere a construção não de uma base militar paraguaia mas sim de uma grande base militar dos EUA, simplesmente o pais lider mundial em corrida armamentista e lider mundial em invasões militares. Estão realmente chamando o lobo para proteger a ovelha, e bem aqui, do lado do nosso território brasileiro.

Coisas de américa latina.



Não sabemos até que ponto este deputado realmente está dizendo a verdade, é claro, ou se há mesmo planos para a construção da base, já que, no passado, a tentativa de se montar bases dos EUA na Colômbia gerou  enormes problemas diplomáticos para esse país, mas pus aqui a reportagem para que já fiquemos atentos à possiveis manobras nesse sentido (fontes afirmam que há esse interesse desde 2004), e porque, realmente, a justificativa dada é de chorar de rir... ou só de chorar.

Paz
Alexei

 

Deputado paraguaio negocia instalação de base militar norte-americana

López Chavez afirmou que representantes do Pentágono visitaram o Paraguai dias após a destituição de Fernando Lugo

Por: do Opera Mundi
Publicado em 07/07/2012, 07:26

São Paulo – O presidente da comissão da Defesa Nacional, Segurança e Ordem Interna da Câmara de Deputados do Paraguai, José López Chavez, anunciou nesta sexta-feira (06/07) que negocia a possibilidade de instalar uma base militar norte-americana em território paraguaio. Ele afirma que manteve conversas com generais dos Estados Unidos sobre o assunto.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o deputado afirmou que representantes do Pentágono visitaram o Paraguai dias após a destituição de Fernando Lugo da Presidência do país. López Chávez é aliado do general Lino Oviedo, líder da Unace (União Nacional de Cidadãos Éticos), partido de centro-direita que não faz parte da bancada governista. Os militares norte-americanos teriam ido a Assunção para conversas sobre programas de cooperação.
De acordo com o presidente da comissão paraguaia, a ideia é instalar a base no vilarejo de Mariscal Estigarribia, perto da fronteira com a Bolívia. López Chávez justificou o pedido alegando que a Bolívia está realizando uma corrida armamentista e que o Paraguai precisa proteger essa área pouco povoada do país.
Em 2005, houve um intenso debate em Assunção sobre a conveniência de permitir uma base no local. Na época, o presidente era Nicanor Duarte Frutos, do Partido Colorado. Na ocasião, uma resolução autorizou a presença e livre trânsito de 500 marines norte-americanos. Entretanto, no governo Lugo, a proposta de criação da base foi arquivada

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Assassino às terças-feiras

A história é o inimigo quando as psy-ops se tornam notícia
por John Pilger



Ao chegar a uma aldeia no Vietname do Sul, deparei-me com duas crianças que testemunhavam a mais longa guerra do século XX. Suas terríveis deformidades eram familiares. Ao longo do rio Mekong, onde as florestas foram petrificadas e silenciadas, pequenas mutações humanas viviam o melhor que podiam. Hoje, no hospital pediátrico Tu Du em Saigon, um antigo anfiteatro é conhecido como a "sala da colecção" e, não oficialmente, como a "sala dos horrores". Ali há prateleiras com grandes garrafas que contêm fetos grotescos. Durante a sua invasão do Vietname, os Estados Unidos pulverizaram um herbicida desfolhante sobre a vegetação e aldeias a fim de negar "cobertura ao inimigo".


Era o Agente Laranja , o qual continha dioxina, venenos com tal poder que provocavam a morte fetal, abortos, danos cromossomáticos e cancro. Em 1970, um relatório do Senado dos EUA revelou que "os EUA despejaram [sobre o Vietname do Sul] uma quantidade de produtos químicos tóxicos que se eleva a seis libras [2,72 kg] per capita da população, incluindo mulheres e crianças". O nome de código para esta destruição maciça, Operação Hades, foi alterado para o mais amistoso Operação Ranch Hand.

Hoje, cerca de 4,8 milhões de vítimas do Agente Laranja são crianças. Len Aldis, secretário da Sociedade de Amizade Britânico-Vietnamita, retornou recentemente do Vietname com uma carta ao Comité Olímpico Internacional escrita pela União das Mulheres do Vietname. A presidente da união, Nguyen Thi Thanh Hoa, descreveu "as graves deformações congénitas [provocadas pelo Agente Laranja] de geração para geração". Ela pedia ao COI que reconsiderasse a sua decisão de aceitar patrocínio das Olimpíadas de Londres pela Dow Chemical Corporation, que foi uma das companhias a fabricar o veneno e que se recusou a indemnizar as suas vítimas. Aldis entregou a carta em mãos no gabinete de Lord Coe, presidente do Comité Organizador de Londres. Não houve resposta. Quando a Amnistia Internacional denunciou que em 2001 a Dow Chemical adquiriu "a companhia responsável pela fuga de gás de Bhopal [na Índia em 1984] que matou 7 mil a 10 mil pessoas de imediato e 15 mil nos 20 anos seguintes", David Cameron descreveu a Dow como uma "companhia respeitável". Aclamações, portanto, para as câmaras de TV ao longo dos painéis decorativos de £7 milhões [€8,75 milhões] que orlam o estádio olímpico: são o resultado de um "acordo" de 10 anos entre o COI e um destruidor tão respeitável. A história é enterrada juntamente com os mortos e deformados do Vietname e de Bhopal. E a história é o novo inimigo. Em 28 de Maio, o presidente Obama lançou uma campanha para falsificar a história da guerra no Vietname. Para Obama, não houve Agente Laranja, nem zonas de fogo livre, nem disparos sobre indefesos (turkey shoots), nem encobrimentos de massacres, nem racismo desenfreado, nem suicídios (pois muitos americanos acabaram com as suas próprias vidas), nem derrota frente à força de resistência de uma sociedade empobrecida. Ela foi, disse o sr. Hopey Changey, "uma das mais extraordinárias histórias de bravura e integridade nos anais da história militar [dos EUA]".

 No dia seguinte, o New York Times publicou um longo artigo a documentar como Obama selecciona pessoalmente as vítimas dos seus ataques drone por todo o mundo. Ele faz isto nas "terças-feiras de terror" quando folheia álbuns com fotos de rostos numa "lista da morte", alguns deles adolescentes, incluindo "uma garota que parecia ainda mais jovem do que os seus 17 anos". Muitos são desconhecidos ou simplesmente em idade militar. Guiados por "pilotos" sentados frente a écrans de computador em Las Vegas, os drones disparam mísseis Hellfire que sugam o ar para fora dos pulmões e explodem pessoas em bocados. Em Setembro último, Obama matou um cidadão americano, Anwar al-Awlaki, puramente na base de rumor de que ele estava a incentivar terrorismo. "Este aqui é fácil", ele é citado por ajudantes como dizendo isso ao assinar a sentença de morte do homem. Em 6 de Junho, um drone matou 18 pessoas numa aldeia no Afeganistão, incluindo mulheres, crianças e um idoso que estavam a celebrar um casamento. O artigo do New York Times não foi uma fuga ou uma revelação. Foi uma matéria de relações públicas concebida pela administração Obama para mostrar num ano de eleição quão duro o "comandante em chefe" pode ser . Se reeleito, a Marca Obama continuará a servir a riqueza, a perseguir os que dizem a verdade, a ameaçar países, a propagar vírus de computador e a assassinar pessoas toda terça-feira. As ameaças contra a Síria, coordenadas em Washington e Londres, escalam novos picos de hipocrisia. Ao contrário da propaganda primária apresentada como notícia, o jornalismo investigativo do jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung identifica os responsáveis pelo massacre em Houla como sendo os "rebeldes" apoiados por Obama e Cameron. As fontes do jornal incluem os próprios rebeldes. Isto não foi completamente ignorado na Grã-Bretanha. Escrevendo no seu blog pessoal, de modo extremamente calmo, Jon Williams, o editor de notícias mundiais da BBC, efectivamente serve a sua própria "cobertura", citando responsáveis ocidentais que descrevem a operação "psy-ops" [operação psicológica] contra a Síria como "brilhante". Tão brilhante quanto a destruição da Líbia, do Iraque e do Afeganistão. E tão brilhante quanto a psy-ops mais recente do Guardian com a promoção de Alastair Campbell, o colaborador chefe de Tony Blair na criminosa invasão do Iraque. Nos seus "diários", Campbell tenta salpicar sangue iraquiano sobre o demónio Murdoch. Há em abundância para encharcar todos eles. Mas o reconhecimento de que os medida respeitáveis, liberais, bajuladores de Blair, foram um acessório vital para um crime tão gigantesco é omitido e permanece como um teste singular de honestidade intelectual e moral na Grã-Bretanha. Até quando devemos sujeitar-nos a um tal "governo invisível"? Esta expressão para a propaganda insidiosa cunhada por Edward Bernays – o sobrinho de Sigmund Freud que inventou as modernas relações públicas – nunca foi tão adequada. A "realidade falsa" exige amnésia histórica, a mentira por omissão e a transferência de significância para o insignificante. Deste modo, sistemas políticos que prometiam segurança e justiça social foram substituídos pela pirataria, "austeridade" e "guerra perpétua": um extremismo destinado ao derrube da democracia. Aplicado a um indivíduo, isto identificaria um psicopata. Por que aceitamos isto?

domingo, 24 de junho de 2012

O golpe está nu (e sempre esteve)

Vamos supor que em algum país latino-americano um governo amigável ao mercado, de ideologia empresarial e direitista, fosse vítima de um processo de impeachment em um prazo de 48 horas com direito a 2 horas de defesa, e no lugar dele fosse instalado o seu vice-presidente que, há mais de um ano havia se bandeado para os lados do bolivarianismo. Posso imaginar as ondas de indignação reverberando pela mídia privada desse nosso país, aos berros indignados com a corrupção, o golpismo e o espírito anti-democrático no país vizinho. Pois eis que tudo aconteceu ao contrário esta semana no Paraguay, e, sim, essa mesma mídia, que tantas vezes quer nos ensinar o que é democracia, está exibindo um leque de posicionamentos que vão da resignação calma ao apoio entusiástico.

Mas já que a mídia privada não cumpre o seu papel, cabe aos comentaristas independentes exercerem o tão desejável bom senso que tantas vezes parece faltar ao mundo.

Vamos aos fatos: 

1 - O processo de impeachment foi realizado de modo sumário sem ver assegurado o direito à defesa
2 - As acusações são políticas e não jurídicas, e não houve qualquer manifestação popular as apoiando.
3 - Numa democracia quem faz julgamentos políticos é o povo através de eleições.
4 - Os incidentes usados como pretexto para o impeachment ainda estão sendo investigados e não foram apresentadas quaisquer provas para fundamentar as acusações.
5 - Incidentes semelhantes já ocorreram em diversos países, inclusive o Brasil, sem maior consequência politica.
6 - O incidente envolve repressão a camponeses que lutam por reforma agrária num país onde 85% das terras pertence a 2% das pessoas.
7 - Há indícios que os policiais assassinados foram mortos por franco atiradores e não camponeses como se foi declarado
8 - Os políticos beneficiados pelo "impeachment" são os mesmos que dominaram o país durante sua longa ditadura
9 - Os grupos econômicos beneficiados incluem a famigerada mega-empresa Monsanto, cujo desrespeito pela natureza dispensa apresentações.

Tudo isso me leva a concluir que, no paraguai, essa semana, a democracia saiu tristemente derrotada. No artigo abaixo o comentarista Leonardo Severo aborda graves suspeitas que cercam os acontecimentos usados como pretexto no golpe e as conexões agro-empresariais estão por trás de tudo.

Paz
Alexei


Leonardo Severo: A desinformação midiática e o golpe da Monsanto


Como as multinacionais e os conglomerados de comunicação atuaram coordenados na derrubada do presidente Fernando Lugo

Por Leonardo Severo*



“A situação de expectativa gerada pela decisão dos legisladores de submeter o presidente Fernando Lugo a juízo político foi, finalmente, resolvida de um modo ordenado, pacífico e respeitoso da legalidade, da institucionalidade e dos critérios essenciais de equidade que devem presidir processos tão delicados como o que acaba de ser levado a bom termo. A destituição do presidente abre fundadas esperanças num futuro melhor”.

Editorial do jornal ABC Color

“Um presidente sem respaldo, que se mostra negligente e incapaz, não pode seguir governando. Sem lugar a dúvidas, o erro mais grave de Fernando Lugo foi o respaldo outorgado a dirigentes de supostos camponeses que receberam carta branca do governo para invadir terras, ameaçar e desafiar o Estado de Direito. Lugo decepcionou a grande maioria da cidadania paraguaia com suas decisões errôneas, seu sarcasmo, sua desastrosa vida pessoal, sua ambiguidade e sua crescente amizade com inimigos declarados da democracia, como Hugo Chávez e os irmãos Castro”.

Editorial do jornal Vanguardia
“Lugo tem princípios populistas (não necessariamente incendiários). A reputação de honestidade lhe ajudou a ganhar, porém necessitará um pouco da ajuda do céu para exercer a Presidência”.
Informação da Embaixada dos EUA, datada de junho de 2008, vazada pelo WikiLeaks, antes da posse de Lugo .


Uma grotesca farsa caiu como raio em céu claro sobre o presidente constitucional do Paraguai, Fernando Lugo. Em questão de horas o mandatário teve o seu “impeachment” proposto, analisado e votado pelo Congresso, mediante um processo metodicamente orquestrado pelas multinacionais Monsanto e Cargill, a oligarquia latifundiária, as elites empresariais e sua mídia.
As comemorações estampadas nas capas dos principais jornais paraguaios dão a dimensão do ódio de classe, com as desclassificadas mentiras destiladas contra quem se dispôs – ainda que com vacilos e limitações - a virar a página de abusos e subserviência aos ditames de Washington e suas empresas.

O cerco midiático contra Lugo vinha se fechando, num país em que 85% das terras encontram-se nas mãos de 2% da população e onde os mesmos donos dos três principais jornais, umbilicalmente vinculados às transnacionais e ao sistema financeiro, também controlam as emissoras de rádio e televisão. Assim, de forma suja e monocórdica, foram convocadas manifestações, com bloqueio de estradas, para o próximo dia 25 de junho. Grandes “tratoraços” em protesto contra a decisão do governo em favor da saúde da população e da soberania alimentar - de não liberar a semente de algodão transgênico Bollgard BT, da Monsanto, cuja sequência genética está mesclada ao gene do Bacillus Thurigensis, bactéria tóxica que mata algumas pragas de algodão. A decisão, que afetava milionários interesses da multinacional estadunidense, havia sido comunicada pelo Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Vegetal e de Sementes (Senave), uma vez que a liberação não tinha o parecer do Ministério da Saúde e da Secretaria do Meio Ambiente.

“A Monsanto, através da UGP, estreitamente ligada ao Grupo Zuccolillo, que publica o diário ABC Color, se lançou contra a Senave e seu presidente Miguel Lovera por não ter inscrito a sua semente transgênica para uso comercial no país”, denuncia o jornalista e pesquisador paraguaio Idilio Méndez Grimaldi.

Para tirar o Senave do caminho foi alegado o surrado argumento da “corrupção” no órgão, o mesmo estratagema da máfia de Carlinhos Cachoeira para tomar de assalto o DNIT e alavancar negociatas, via utilização de seus vínculos com a revista Veja para denunciar desvios no órgão – conseguindo inclusive a queda do ministro dos Transportes.

Desta forma, “denúncias” por parte de uma pseudossindicalista do Senave, Silvia Martínez, ganharam manchetes na mídia canalha. O jornal ABC Color do dia 7 de junho último acusou o chefe do Senave, Miguel Lovera, de “corrupção e nepotismo na instituição que dirige”. Mas o fato é que a pretensa sindicalista advogava em causa própria, do marido e de seus patrocinadores. Conforme revelou Grimaldi, “Silvia Martínez é esposa de Roberto Cáceres, representante técnico de várias empresas agrícolas – todas sócias da UGP (Unión de Grêmios de la Producción) - entre elas Agrosán, recentemente adquirida pela Syngenta, outra transnacional, por 120 milhões de dólares”.

Algo similar à UDR (União Democrática Ruralista) de Ronaldo Caiado, e aos ruralistas da senadora Kátia Abreu, a UGP é comandada por Héctor Cristaldo, sustentado por figuras como Ramón Sánchez – vinculado ao setor agroquímico - entre outros agentes das transnacionais do agronegócio. “Cristaldo integra o staff de várias empresas do Grupo Zuccolillo, cujo principal acionista é Aldo Zuccolillo, diretor proprietário do jornal ABC Color desde sua fundação sob o regime de Stroessner, em 1967. Zuccolillo é dirigente da Sociedade Interamericana de Prensa (SIP)”, esclarece Idílio Grimaldi. O jornalista lembra que o Grupo Zuccolillo é o principal sócio no Paraguai da Cargill, uma das maiores transnacionais do agronegócio do mundo. “Tal sociedade” construiu um dos portos graneleiros mais importantes do Paraguai, o Porto União, a 500 metros da absorção de água da Companhia de Saneamento do Estado, sobre o rio Paraguai, sem qualquer restrição”, esclarece.

Com a proteção do apodrecido Congresso que condenou Lugo, as transnacionais do agronegócio no Paraguai praticamente não pagam impostos, com uma carga tributária de 13% do PIB, tão insignificante que acaba inviabilizando os serviços públicos.

Vale lembrar que a saúde e a educação eram totalmente privadas antes da ascensão de Lugo à Presidência, num país em que os latifundiários não pagam impostos. O imposto imobiliário representa apenas 0,04% da carga tributária, uns 5 milhões de dólares - segundo estudo do Banco Mundial – ainda quando a renda do agronegócio alcance cerca de 6 bilhões de dólares anuais, em torno de 30% do PIB.

Na sexta-feira, 8 de junho, a UGP publicou no ABC Color seus “12 argumentos para destituir Lovera” . ( http://www.abc.com.py/edicion-impresa/economia/presentan-12-argumentos-para--destituir-a--lovera-411495.html). Tais "argumentos” foram apresentados ao então vice-presidente da República, Federico Franco, correligionário do ministro da Agricultura e pró-Monsanto, recém nomeado “presidente”.

Na sexta-feira, 15, descreve Grimaldi, “em função de uma exposição anual organizada pelo Ministério de Agricultura e Pecuária, o ministro Enzo Cardozo deixou escapar um comentário à imprensa: um suposto grupo de investidores da Índia, do sector agroquímico, cancelou um projeto de investimentos no Paraguai pela alegada corrupção no Senave. Nunca esclareceu de que grupo se tratava. Nas mesmas horas daquele dia ocorriam os trágicos acontecimentos de Curuguaty, onde morreram onze camponeses e seis policiais”. O sangue derramado foi o pretexto utilizado pela direita para o impeachment.

Como na Venezuela, franco-atiradores

O que se sabe é que a exemplo da tentativa de golpe de Estado na Venezuela, onde a CIA utilizou franco-atiradores para assassinar os manifestantes contrários ao governo para jogar a culpa do massacre sob os ombros de Hugo Chávez, também em Curuguaty agiram franco-atiradores. E dos bem profissionais. E movidos pelos mesmos propósitos.

Na região de Curuguaty está localizada a estância de Morombí, propriedade do latifundiário e grileiro Blas Riquelme, dono de mais de 70 mil hectares. O “terrateniente” é uma das viúvas da ditadura do general Alfredo Stroessner (1954-1989), um dos principais beneficiados pela tristemente célebre Operação Condor, desenvolvida pela CIA no Cone Sul para torturar, assassinar e desaparecer com todo aquele que ousasse contrariar os interesses estadunidenses na região. Ele também foi presidente do Partido Colorado por longos anos e senador da República, sendo igualmente dono de uma rede de supermercados e estabelecimentos pecuários.

Como Riquelme havia se apropriado mediante subterfúgios legais de aproximadamente dois mil hectares pertencentes ao Estado paraguaio, camponeses sem terra ocuparam o local e solicitaram do governo Lugo a sua desapropriação para fins de reforma agrária. Um juiz e uma promotora ordenaram a retirada das famílias por meio do Grupo Especial de Operaciones (GEO) da Polícia Nacional, esquadrão de elite que, em sua maioria, foi treinado por militares dos EUA na Colômbia, durante o governo fascista de Álvaro Uribe.

Na avaliação de Grimaldi, que também é membro da Sociedade de Economia Política do Paraguai (SEPPY), somente uma sabotagem interna dentro dos quadros da própria inteligência da Polícia, com a cumplicidade da Promotoria, explicaria a emboscada na qual morreram seis policiais. Uma ação estrategicamente planejada com um objetivo bem definido. “Não se compreende como policiais altamente treinados, no marco do Plano Colômbia, pudessem cair tão facilmente numa suposta armadilha feita por camponeses, como quer fazer crer a imprensa dominada pela oligarquia. A tropa reagiu, matando 11 camponeses e deixando cerca de 50 feridos”. Entre os policiais mortos, ressalta, estava o chefe da GEO, Erven Lovera, irmão do tenente-coronel Alcides Lovera, chefe da segurança do presidente. Um recado claro e preciso para Lugo.

A serviço da Monsanto

Conforme o jornalista, no marco da apresentação preparada pelo Ministério da Agricultura – a serviço dos EUA -, a transnacional Monsanto anunciou outra variedade de algodão, duplamente transgênico: BT e RR ou Resistente ao Roundup, herbicida fabricado e patenteado pela multinacional, que quer a liberação da semente no país.

Para afastar incômodos obstáculos, antes disso o diário ABC Color vinha denunciando “presumíveis” fatos de corrupção dos ministros do Meio Ambiente e da Saúde, Oscar Rivas e Esperança Martínez, que também haviam negado posição favorável à Monsanto.

A multinacional faturou no ano passado, somente com os royalties pelo uso de sementes transgênicas de soja no Paraguai, 30 milhões de dólares, livre de impostos, (porque não declara esta parte de sua renda). “Independente disso, a multinacional também fatura pela venda das sementes transgênicas. Toda a soja cultivada é transgênica numa extensão próxima aos três milhões de hectares, numa produção em torno de sete milhões de toneladas em 2010”, revela Grimaldi.

Por outro lado, acrescenta o jornalista, a Câmara de Deputados já aprovou projeto de Lei de Biosseguridade, que contempla criar uma direção de Biossegurança com amplos poderes para a aprovação do cultivo comercial de todas as sementes transgênicas, sejam elas de soja, milho, arroz, algodão... Este projeto de lei elimina a atual Comissão de Biosseguridade, ente colegiado de funcionários técnicos do Estado paraguaio, visto como entrave aos desígnios da Monsanto.

“Enquanto transcorriam todos esses acontecimentos, a UGP vinha preparando um ato de protesto nacional contra o governo de Fernando Lugo para o dia 25 de junho, com máquinas agrícolas fechando parte das estradas em diferentes pontos do país. Uma das reivindicações do denominado ‘tratoraço’: a destituição de Miguel Lovera do Senave, assim como a liberação de todas as sementes transgênicas para cultivo comercial”.

Dado o golpe, como estamparam os grandes conglomerados de mídia no Paraguai neste sábado, “a manifestação da UGP foi suspensa”. Afinal, “há um novo governo, mais sensível ao mercado”.

*Jornalista e escritor, autor de O Latifúndio Midiota

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Não querem que você saiba sobre a Islândia


O ex-primeiro-ministro Geir Haarde está sendo julgado em Reijkjavik por ter conduzido o país à catástrofe de 2008 e pode ser condenado a até dois anos de prisão. A virada neoliberal da Islândia, com desregulamentação financeira e privatizações em massa, começou no governo de David Oddson, em 1991. Haarde não é o único culpado, embora tenha sido parte importante do processo desde bem antes do início do seu governo, em 2006, primeiro como líder parlamentar do Partido da Independência (conservador, então no governo) de 1991 a 1998 e ministro da Fazenda de Oddson de 1998 a 2005.

É uma oportunidade para o país refletir sobre a transformação de estável social-democracia escandinava em centro financeiro desregulamentado cuja precariedade se viu quando a crise hipotecária dos EUA fez falir seus maiores bancos, com passivos externos mais de 20 vezes maiores que o PIB.

A ducha gelada da crise despertou os -islandeses do sonho consumista e os lançou às ruas com uma versão nórdica do “que se vayan todos!” A renúncia de Haarde e a eleição de um governo de centro-esquerda não bastaram para satisfazê-los: rejeitaram por duas vezes, em plebiscito, propostas de pagamento parcial da dívida externa deixada pelos bancos falidos. O fato de que, depois disso, o país esteja se recuperando muito melhor que os europeus oprimidos pela “austeridade” é a explicação para o silêncio quase absoluto da mídia internacional sobre esse país e seu julgamento do neoliberalismo.

sábado, 24 de março de 2012

Privataria argentina - nos trilhos da tragédia

Como o sistema ferroviário da Argentina foi saqueado

A rede ferroviária estatal argentina tinha 40.000 km e nela trabalhavam 190.000 empregados. Era a mais extensa da América Latina e, de certo modo, a coluna vertebral de um país. A história do desmonte desse sistema começa nos anos 60, quando montadoras estadunidenses e o Banco Mundial impulsionaram o Plano Larkin para desarmar a rede ferroviária do país, chegando até a reforma do Estado dos anos 90, quando o neoliberal Carlos Menem desmontou o Estado, privatizando todo seu patrimônio. O artigo é de Francisco Luque.

Buenos Aires - Ao se completar um mês do trágico acidente ferroviário da linha Sarmiento, na Estação de Once, em Buenos Aires, que deixou 51 mortos e 703 feridos - três deles continuam hospitalizados -, ainda escuta-se o barulho. O barulho das famílias das vítimas que pedem maior celeridade à justiça para esclarecer as causas diretas do acidente e estabelecer quem foram os responsáveis. Também o ruído de uma sociedade ainda chocada que quinta-feira pela manhã, às 8h30min, a mesma hora da colisão, fez soar as buzinas de seus carros em lembrança das vítimas. Mas há outro ruído, talvez mais permanente e profundo, e é o ruído do saque do qual foi objeto o sistema ferroviário argentino.

A Justiça argentina investiga as responsabilidades imediatas da tragédia, mas para os especialistas, as causas que produziram este acidente estão nos processos sociais e econômicos que a Argentina viveu nos últimos 60 anos. A busca chega até aos anos sessenta, quando as montadoras estadunidenses instaladas na Argentina, impulsionaram o Plano Larkin – implementado por sua vez pelo Banco Mundial, para desarmar a rede ferroviária argentina –, até a reforma do Estado dos anos noventa, quando o neoliberal Menem desmontou o Estado, privatizando - saqueando?- todo seu patrimônio.

Historicamente, a rede ferroviária estatal argentina tinha 40.000 km e nela trabalhavam 190.000 empregados. Era a mais extensa da América Latina e era, de certo modo, a coluna vertebral de um país. A Argentina havia se estruturado em povoados que nasceram ao longo desses trilhos. Era um país solidário e inclusivo, com acesso aos centros nevrálgicos de produção e participação nas definições sobre um conceito de país.

O saque começou na ditadura de 1976, quando não só se usurpavam vidas, mas também bens. Era a destruição planejada do Estado e do patrimônio nacional acumulado durante o século XX com o objetivo de consolidar o capital financeiro e os grupos econômicos.

Quando a ditadura se instalou, a condução da área de Transporte ficou radicada no Ministério de Economia através da Secretaria de Transporte e Obras Públicas. Ali se elaborou um plano de ação para retomar as medidas de racionalização recomendadas 15 anos antes pelo Plano Larkin para pôr em prática a privatização periférica (vazamento lento e progressivo, somado à terceirização de investimentos, atividades e serviços de empresas privadas) da estatal Ferrocarriles Argentinos. O resultado? Fechamento de ramais antieconômicos, supressão de trens de passageiros de baixa utilização, fechamento de oficinas redundantes, fechamento de estações, supressão da tração a vapor, etc.

Entre 1976 e 1980 foram abandonadas cerca de 600 estações, reduziram-se trens de passageiros interurbanos e locais do interior em 30% e fecharam-se 5500 km de linhas secundárias. Só nas oficinas, a quantidade de pessoal reduziu-se de 155 mil empregados em 1976 para 97 mil em 1980, segundo o livro “Nueva Historia del Ferrocarril en Argentina”, de Mario López e Jorge Waddol. A desconexão do país e a intensa eliminação de oficinas contribuíram para a decadência e desaparição de uns 700 povoados, e a aceleração da pobreza e da desigualdade.

Com Menem, nos anos 90, e a influência do neoliberalismo em escala planetária, decidiu-se arrasar com o sistema de trens e aplicou-se a célebre frase do presidente: “Cirurgia maior sem anestesia”. 600 povoados desapareceram. Oitenta mil trabalhadores ferroviários foram despedidos. A imprensa fiel ao período de “pizza com champanhe” informava que os trens perdiam um milhão de dólares diários sobre uma rede de 35.000km. Havia que fechá-la ou privatizar o pouco que restava. Foi a amostra feroz da cumplicidade do poder político com os grupos econômicos.

Na atualidade subsistem uns 7.000km de vias maltratados e trens que não podem avançar a mais de 40 km por hora. Cerca de 20.000 pessoas trabalham no ramo. A maioria dos vagões tem entre 40 e 50 anos; os trilhos são instáveis, as janelas quebram e não são consertadas, as portas não fecham.
Néstor Kirchner herdou a pior crise econômica da história da Argentina. E muito não pôde fazer com respeito aos trens, entendido como um serviço público indispensável. Manteve-se um funcionamento deficiente compensado com uma tarifa congelada – quase simbólica -, outorgando subsídios à concessionárias, administradores do funcionamento - sem os controles adequados. Recuperaram-se alguns ramais ferroviários, mas sem melhoras em infraestrutura e adquiriu-se material descartado em seus países de origem pelos anos de uso.

“Os subsídios às empresas privadas sem controles efetivos do Estado são mais uma página sombria na continuação de um “Estado Hood Robin”, como o batizou outrora o jornalista Horacio Verbitsky, onde se paga para que continuem crescendo empresas privadas à custa de cada argentino. Em outras palavras, “se tira do pobre para dar ao rico”, sustenta a analista Maria Seoane.

As empresas concessionárias foram a grande dor de cabeça do sistema ferroviário nos últimos tempos. Como bem aponta o jornalista Hernán Brienza: “a política de subsídios pensada desde 2003 para que milhões de argentinos humildes possam viajar a preços irrisórios acabou sendo letal em mãos do grupo concessionário que mais controle e poder tem sobre os trens”. Grupos empresariais beneficiados como o da família Cirigliano, concessionária do Trem Sarmiento TBA, entre outras, teve um crescimento econômico exponencial durante os últimos anos, e, como afirma Edgardo Reynoso, secretário da União Ferroviária, os trens da linha dos Cirigliano continuam circulando "à beira do desastre". Esta concessionária está sob intervenção do Estado desde o acidente.

Para a classe trabalhadora, a solução é clara: que os concessionários vão embora e que se reestatizem todos os trens em uma empresa só, sob o controle dos trabalhadores e dos usuários. Essa é a única possibilidade de solução para o atual estado calamitoso da ferrovia, sustentam.

Passado um mês da tragédia de Once, entre aplausos, buzinas e pedidos de "justiça", centenas de pessoas protestaram na estação de trens pedindo o esclarecimento do acidente.

Tradução: Libório Junior