segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Antibancocracia


PIOR QUE O TRATADO DE VERSALHES: Ministros das Finanças do euro decidem hoje em Bruxelas se o programa de 'ajuste' de Atenas é suficiente --e confiável-- para a troika liberar a ajuda de 130 bi de euros, sem a qual a Grécia quebra** economia grega esfarela desde 2008** programa de ajuste prevê mais uma década de asfixia para --com sorte-- chegar em 2020 com uma relação dívida/PIB de devastadores 160% ** as gerações presente e futura serão conectadas a um implacável sistema de transfusão que as condena a servir aos credores até a morte** é isso que se decide hoje em Bruxelas : a imposição a um povo da mais grave rendição da história mundial, desde o Tratado de Versalhes, decretado pela Sociedade das Nações contra a Alemanha , em 1919, que gerou o nazismo e a II Guerra Mundial** é trágico que esse martírio seja conduzido de forma titânica justamente pela Alemanha de Merkel.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Bandidos e mocinhos


Segue a brutal guerra civil da Síria, bem como a brutal campanha de desinformação sem a qual as guerras não são possíveis. As táticas são velhas conhecidas. De um lado você desenha um monstro louco e sanguinolento, do outro heróis democratas e indefesos que clamam pela intervenção armada estrangeira. Repete-se a simplória mentira diariamente até que ela se torna verdade, e eis a tal da "guerra justificável".

Cabe a nós não permitir que estas deturpações mal intencionadas se espalhem antes que mais e mais guerras sejam travadas em seu nome. A Síria é um caso típico. Um ditador anti-ocidente foi personificado como o novo representante do demônio na terra. Não que ele seja na verdade uma Madre Tereza de Calcuttá (longe disso), mas em quase todas as reportagens veiculadas aqui, a versão é que seu exército está fazendo nada mais que bombardear civís indefesos apenas por estes estarem protestando. A distorcida simplificação da situação é necessária aos interesses das "potências" ocidentais, sem a qual pouco apoio real seria dado ao "inimigo do meu inimigo". Para isso é importante ignorar o fato de que se trata de uma guerra civil de características sectárias, e que milhares de policiais e soldados do governo foram mortos (desde quando "manifestantes pacíficos" matam mais de 2000 soldados?), e que a Al-Qaeda está oficialmente dando apoio aos rebeldes sírios (quem diria que EUA e Al-Qaeda seriam "aliados" tão pouco tempo depois da morte de Bin Laden!!!!!!), e que a Liga Árabe, que também apóia os rebeldes, é composto, basicamente, por ditaduras e monarquias absolutistas também brutais e repressoras. É importante ignorar que os rebeldes não são apenas civís protestando nas ruas (embora também hajam "meros civís" protestando e que precisam ser escutados), mas também um grande número de violentos soldados armados, bem treinados, cuja principal ideologia é a defesa do estado islâmico. É importante ignorar que grande parte da população apoia o governo (senão a maioria... mas como saber agora que são os canhões que gritam dos dois lados?), e que se os rebeldes tomarem o poder apenas inverterão-se as polaridades da repressão, sendo que muitos destes hoje pró-governo é que serão brutalmente perseguidos, torturados e mortos. Inclusive, há que se não-constatar que não apenas a parte Alawita (xiita) está contra os rebeldes como também a população CRISTÃ !!!! (conforme atesta o artigo abaixo) Ou seja, o ocidente está entrando no conflito sírio em apoio aos islamitas armados (que tanto dizem detestar) e contra os cristãos!


Sem mentiras, omissões e loucura não se faz guerras.

Um dado curioso: Enquanto as ditaduras pró-EUA enfrentaram e enfrentam com prisões, tortura e assassinatos, manifestantes verdadeiramente pacíficos (Tunísia, Egito, Iemen, Bahrein, Jordânia, Marrocos, Arábia Saudita) os países anti-EUA enfrentam combatentes armados (líbia e Síria) e ameaças de ataque militar (Irã). Por que isso? Tudo isso me cheira muito mal. Infelizmente o tão animador caminho pacífico que havia sido a proposta inicial da primavera árabe foi esquecido e agora quem tem razão é quem tem armas e está disposto a matar. Que tipo de democracia podem estes "rebeldes" e ditadores implantar?

A reportagem abaixo foi feito por um correspondente da BBC que acompanhou um grupo rebelde e se mostrou chocado com a violência dos "freedom fighters" que o ocidente pretende apoiar. Todos sabemos de que lado a BBC está nesse conflito, mas eis que alguns lampejos de sanidade ocasionalmente saem de seus repórteres. Acho curioso, porém, como a manchete ainda tenta ocultar uma verdade cristalina. O conflito sírio já é uma guerra civil há muito tempo.

Essa loucura precisa parar.

Paz
Alexei



Para repórter da BBC, conflito na Síria pode virar guerra civil

Atualizado em 14 de fevereiro, 2012 - 06:10 (Brasília) 08:10 GMT

O repórter da BBC Paul Wood passou dias sob fogo cruzado no bairro de Baba Amr, na cidade síria de Homs. Nesta reportagem, ele relata casos de cidadãos submetidos a uma violenta campanha de artilharia por tropas do governo e alerta para os riscos de que a situação em Homs se alastre por toda a Síria, transformando-se em uma guerra civil.

No hospital improvisado em Baba Amr, a maioria dos pacientes não quis ser filmada. Eles temiam ser presos caso mostrassem seus rostos. Abdel Nasr Zayed, no entanto, disse que tinha pouco a perder.

"Já perdi 11 (parentes) e agora estou disposto a sacrificar tudo por Deus", ele disse.

Entre os 11 membros de sua família mortos por tiros ou morteiros, cinco eram crianças com menos de 14 anos.

Um caso típico. Muitas pessoas relatam ter perdido não apenas um, mas muitos parentes.

A tarefa de Abu Suleiman no hospital é embalar corpos antes de serem enterrados. Ele prestou esse serviço ao filho, genro, sobrinho, vizinho e muitos de seus amigos.

Abu Sulyan, que hospedou a equipe da BBC em uma visita anterior a Baba Amr, perdeu um irmão, um sobrinho, um tio e, mais recentemente, sua mãe.

"Isso é uma guerra civil?", indagou o escritório da BBC em Londres.

Em Baba Amr, tinha-se a impressão de que sim. Mas o que estávamos observando era, na verdade, uma batalha por uma cidade - e Homs não é a Síria. Pelo menos, não por enquanto.

Sequestros Sectários

Em Homs, as áreas de maioria sunita, como Baba Amr, apoiam o levante. Elas estavam sendo atacadas pelo Exército Sírio, posicionado em áreas alauítas (ramificação da etnia xiita) e cristãs que, de maneira geral, apoiam o governo.

Ainda não se trata de um conflito sectário: existem sunitas nas forças do governo e tanto cristãos como alauítas aderiram às forças revolucionárias. Mas as pressões naquela direção são imensas.

Yousseff Hannah foi prisioneiro do Exército Livre da Síria (FSA, na sigla em inglês), integrado por rebeldes que desertaram das tropas do governo. Ele estava em um colchão, a coxa coberta com curativos, no porão de uma casa perto da cidade de Qusayr, a cerca de 40km de Homs.

"Lei e ordem", ele respondeu, gemendo por causa dos ferimentos, quando lhe perguntei qual era sua profissão.

Enraivecido, um dos sequestradores interrompeu: "Não. Você é (integrante da polícia secreta) Mukhabarat. Diga a eles que você é Mukhabarat".

O FSA havia capturado Hannah em sua casa, alguns dias antes. Ele tinha ido para lá para se recuperar do ferimento recebido em Homs.

Foto divulgada pela oposição na Síria, que alega ser vítima de bombardeios indiscriminados em Baba Amr

Com 45 anos, apenas um soldado, ele não era exatamente um "peixe grande". Os rebeldes disseram tê-lo capturado porque sua família controlava um posto de controle em Qusayr e molestava as pessoas.

Queriam acabar com aquilo. Por tempo demais, disseram os rebeldes, pessoas como ele, sob a proteção do governo, sentiam que eram intocáveis, que podiam agir na impunidade.

O soldado Yousseff é cristão. Após ter sido preso, seus parentes sequestraram seis sunitas, matando um no processo. Em represália, 20 cristãos foram sequestrados.

"Alguns esquentados vêm sequestrando cristãos", disse um comandante local do FSA. "Temos de acalmá-los".

Após vários dias de impasse, todos foram libertados ilesos, incluindo Yousseff. Isso foi parte de um acordo segundo o qual o soldado e sua família terão de deixar Qusayr permanentemente.

Ataque Fracassado

Falando sobre as tensões dos últimos dias na região, um dos residentes cristãos de Qusayr disse que ainda havia cristãos favoráveis ao levante na cidade.

Cerca de uma dúzia deles participou de um grande protesto ocorrido na sexta-feira na cidade. Em solidariedade a eles, os manifestantes abandonaram o local quando algumas pessoas agarraram o microfone e começaram a gritar slogans islâmicos.

Naquela semana, havia uma sensação de que a cidade tinha chegado muito perto de uma carnificina sectária.

Seria esse o futuro da Síria? Depende do caráter do FSA. Todos os combatentes que encontramos eram sunitas, mas talvez isso não tenha importância.

Próximo a Qusayr, o comandante do FSA Maj Ahmad Yaya me disse que eles estavam lutando por todas as religiões e seitas da Síria: cristãos, muçulmanos, alauítas, xiitas, drusos.

"Estamos vivendo em liberdade pela primeira vez", disse.

As palavras seguintes, no entanto, deixaram pouca dúvida de que, para muitos, esse é um conflito religioso - e islâmico - contra o governo secular Baath.

"Pela primeira vez", ele acrescentou, "somos capazes de proclamar a palavra de Deus por toda a terra".

Soldado desertor arma seu rifle ao tomar posição em uma casa danificada em Baba Amr

A doutrina oficial do FSA é de que sua missão é apenas proteger os manifestantes desarmados. Na prática, no entanto, ele está realizando uma guerra civil de proporções cada vez maiores.

Seguimos o grupo de combatentes liderados por Maj Yaya durante um ataque a uma base do Exército sírio perto da cidade.

Foi um ataque grande, com a participação de mais de 60 homens. Em contraste com combatentes rebeldes na Líbia, esses eram treinados, disciplinados e seguiam um plano.

Um homem disse que seu irmão ainda estava servindo na área.

"E se ele ainda estava na base? E se ele estiver ferido?", perguntei.

"Sinto muita amargura em relação a meu irmão, mas agora o que acontecer estará nas mãos de Deus. Que Deus me ajude", respondeu.

Inevitavelmente, o ataque fracassou. Depois de uma hora atirando contra a base, o grupo teve de sair em retirada quando as tropas do governo começaram a usar armas pesadas, disparando morteiros contra as montanhas.

Execuções de Shabihas

Mais tarde, um dos rebeldes do FSA me mostrou um vídeo que ele tinha filmado em dezembro.

Seu grupo tinha emboscado um comboio de veículos blindados. Oito integrantes das forças de segurança síria tinham sido mortos, 11 capturados. O vídeo mostrava os prisioneiros, vestidos com uniformes de camuflagem, alinhados de frente para uma parede.

Alguns ainda sangravam em consequência da batalha. Seus braços estavam erguidos.

Um virou-se para a câmera, parecia petrificado.

O homem que havia feito o vídeo disse que, apesar dos uniformes, as identidades dos prisioneiros diziam que eram Shabiha (ou fantasmas) - a força paramilitar do governo, odiada por muitos na Síria.

"Nós os matamos", disse o rebelde.

"Você matou seus prisioneiros?"

"Sim, claro. Eles foram executados mais tarde. Esse é o procedimento para Shabihas".

Esses eram Shabihas sunitas, o homem explicou. O único alauíta havia escapado.

Eu confirmei com um oficial. Soldados eram libertados, ele disse, mas membros da força Shabiha eram "executados" depois de uma audiência com um painel de juízes militares do FSA.

Para explicar, eles me mostraram um filme encontrado no telefone celular de um Shabiha capturado.

O vídeo mostrava prisioneiros deitados de barriga para baixo, com as mãos atadas nas costas. Um a um, suas cabeças foram cortadas.

Ao primeiro prisioneiro deitado, o homem que segurava a faca disse, de forma provocadora: "Isso é pela liberdade". Enquanto o pescoço da vítima se abria, o executor prosseguiu: "Isso é por nossos mártires. E isso é por você colaborar com Israel".

Dilema Ocidental

Segundo relatos de militantes pelos direitos humanos, após termos saído de Homs, membros das forças Shabiha teriam ido de cada em casa na cidade, matando três famílias - Homens, mulheres e crianças.

Para a maioria dos combatentes do FSA, "executar" integrantes da Shabiha é apenas justo.

Fatos como esses farão com que governos ocidentais hesitem enquanto decidem se devem - e nesse caso, de que forma - ajudar o FSA.

Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha dizem que não vão armar os rebeldes mas estão pensando em outras formas de auxiliá-los. Isso pode envolver dar aconselhamento e o envio de suprimentos, por exemplo, roupas de proteção.

Se esses governos ajudarem os rebeldes, estarão eles alimentando uma guerra civil, ou ainda pior, uma guerra civil sectária?

E se eles não ajudarem os rebeldes, como dar um fim às mortes em Homs e outras cidades?

Quanto mais se prolonga essa situação, mais corpos se acumulam e maior é o desejo de vingança em ambos os lados.

Uma guerra civil não é inevitável, mas Homs hoje pode ser a Síria amanhã.