domingo, 12 de setembro de 2010

Cúmplices silenciosos

Silêncio! Nenhuma linha. Nenhuma nota. Nenhuma frase. Nenhum comentário. Ao sumir no ar hoje, o episódio da violação de sigilo fiscal atingiu a fronteira da surrealidade. Depois de uma semana fazendo eco à pauta eleitoral do PSDB, com vozes de indignação e longas reportagens políciais, jogando a candidata da esquerda num defensivo "corner" midiático, com uma denúncia sem qualquer prova, e impedindo assim que ela trate de qualquer outro tópico que não aquele que lhes convém, o assunto misteriosamente, de uma hora para outra, morreu para a mídia. Hoje nem folha, nem Estadão, nem Veja falaram no escândalo que ocupou todas as manchetes ao longo da semana passada. Acontece que a hora em que a pauta virou 180 graus foi muito auspiciosa: justamente quando foi descoberto (por reportagem de Leandro Fortes, na Carta Capital) que Verônica Serra promoveu o maior vazamento de sigilo bancário (notem bem, BANCÁRIO, que é muito pior que FISCAL), da história do Brasil. 60 milhões de brasileiros foram lesados.



Bem quando essa informação vem a tona o assunto simplesmente foi descartado pela grande mídia escrita e televisiva, trocado por alguma outra denúncia sem provas contra a "canditata-guerrilheira-chavista-mentirosa". O alvo agora é uma certa Erenice. O conteúdo do escândalo (muito capenga, por sinal) em si, na verdade, não importa. O que importa é manter a iniciativa do ataque para não deixar o inimigo respirar.


Pela sede de poder, a mídia comercial comete harakiri de credibilidade. Ao acobertarem voluntariamente o crime são agora cúmplices.

Pode ser que essas deturpações ainda enganem muita gente hoje, mas o futuro pertence à verdade. As pessoas do futuro vão usar essas tentativas de manipulação como exemplos didáticos.

Adeus mídia manipuladora.
Sua época de ditadura informativa está no fim.

Paz
Alexei




Mídia comercial ignora denúncia envolvendo filha de Serra

Ombudsman da Folha cobra que jornal tenha equilíbrio na cobertura e empresário citado por Veja desmente informações

São Paulo – Duas reportagens publicadas neste fim de semana tinham a tarefa de agitar o noticiário eleitoral. A primeira, sob o título Sinais trocados, foi publicada por Leandro Fortes em Carta Capital e narra o episódio em que a empresa de Verônica Serra, filha de José Serra, deixou, em 2001, os dados bancários de 60 milhões de brasileiros expostos a visitação pública durante 60 dias. A segunda, publicada pela revista Veja, conta que o filho da ministra-chefe da Casa Civil supostamente vende facilidades aos que querem fechar contratos com o Estado.

Uma delas, no entanto, foi ignorada pelos jornais de maior peso, os chamados “jornalões”. Não é difícil imaginar qual. A reportagem de Leandro Fortes sobre Verônica Serra não ganhou uma linha em O Globo, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. A matéria de Veja, por outro lado, foi o destaque de capa de dois deles, que dedicam boa parte de seu noticiário dominical à repercussão do tema.

O candidato do PSDB, que vem sendo convidado diariamente a opinar sobre a quebra de sigilo fiscal de sua filha, foi novamente ouvido. Não sobre o episódio da Decidir.com, empresa que tinha sua filha como sócia, mas sobre a Capital Assessoria e Consultoria, do filho de Erenice Guerra, sempre apresentada como “braço-direito” de Dilma Rousseff.

Diferenças

É um bom exercício para o começo desta semana imaginar por que os jornais nada noticiaram sobre a reportagem de Carta Capital. A revista sofre de falta de credibilidade? Certamente não. Além de contar com a assinatura de Mino Carta, um dos jornalistas de melhor reputação do país, a revista não tem, ao longo de sua existência, um histórico de desmentidos e de distorção de fatos.

Quanto a Veja, reputação ilibada não tem sido um sinônimo da semanal da Abril. Foram muitos os episódios em que especialistas e autoridades tiveram de vir a público afirmar que nada haviam dito à revista ou que tiveram suas falas distorcidas. Este caso não é diferente. Fábio Baracat, empresário que aparece na reportagem deste fim de semana afirmando ter sido obrigado a negociar o pagamento de propinas com Ismael Guerra, emitiu nota mostrando-se “surpreendido” pela reportagem.

“Primeiramente gostaria de esclarecer que não sou e não fui funcionário, representante da empresa Vianet, ou a representei em qualquer assunto comercial, como foi noticiado (…) Durante o período em que atuei na defesa dos interesses comerciais da MTA, conheci Israel Guerra, como profissional que atuava na organização da documentação da empresa para participar de licitações, cuja remuneração previa percentual sobre eventual êxito, o qual repita-se, não era garantido (…) Acredito que tenha contribuído com o esclarecimento dos fatos, na certeza de que fui mais uma personagem de um joguete político-eleitoral irresponsável do qual não participo.”

Motivos

A vontade dos grandes jornais em mostrar episódios que possam enfraquecer a candidata Dilma Rousseff gera estranheza até mesmo dentro dessas redações. Na última semana, a Folha publicou que um erro da ex-ministra havia provocado prejuízo de R$ 1 bilhão. A notícia, sem base real, virou motivo de piada na internet, e um viral reproduzido pelo Twitter entrou para os principais tópicos mundiais da rede social.

Neste domingo, a ombudsman Suzana Singer chama atenção dos editores da Folha. “O jornal avançou o sinal.” Ela complementa: “Foi iniciativa de Dilma criar a tal tarifa social? Não, foi instituída no governo Fernando Henrique Cardoso.” A ombudsman pede que o jornal deixe o próprio leitor chegar a suas conclusões, sem direcionamentos, e lembra que não tem havido a mesma crítica à gestão de Serra em São Paulo. “A Folha deveria retomar o equilíbrio na sua cobertura eleitoral e abrir espaço para vozes dissonantes. O apartidarismo – e não ter medo de crítica – sempre foram características preciosas deste jornal.”

Neste momento, como os institutos de pesquisa indicam que é muito pequena a possibilidade de Dilma perder a eleição, é preciso considerar outros interesses na divulgação de algumas notícias. O Painel da Folha dá uma pista ao falar do caso: “Até agora, ela era dada como nome certo num eventual governo Dilma.” O blog Vi o Mundo, de Luiz Carlos Azenha, levanta uma indagação: “Será que tem o dedo de outros candidatos ao cargo na capa da Veja? Ou será que o Civita quer indicar o primeiro-ministro de um eventual governo Dilma?”

Mora aí uma diferença fundamental das atuais eleições. Ainda não se sabe qual será o real impacto da internet sobre os números finais da votação de 3 de outubro, mas a rede se converteu em um espaço para tentar difundir propostas - a favor ou contra os candidatos - e notícias que são ignoradas pela mídia comercial.

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