segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Liberdade pra quem?

Publicado em 18/10/2010

PSDB quer liberdade de imprensa só para sua turma

Por: Paulo Salvador

A Revista do Brasil sofreu mais uma investida do PSDB. Por solicitação dos tucanos, na madrugada desta segunda-feira (18), o ministro Joelson Dias, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pediu a suspensão de circulação da edição 52, de outubro.

A ação da coligação "O Brasil pode mais", encabeçada pelo PSDB, de José Serra, foi atendida apenas em parte. Além da Revista do Brasil, suspende a circulação do Jornal da CUT, ano 3, nº 28. Mas três itens cruciais foram negados pelo ministro Dias. A demanda dos advogados tucanos queria silenciar o Blog do Artur Henrique, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e pedia a busca e apreensão do material mencionado.

O terceiro item negado é emblemático: o PSDB queria que a questão tramitasse em segredo de Justiça. Nenhuma informação sobre o processo poderia ser divulgada, caso o pedido fosse atendido. Isso denota intenções claras do tucanato de ocultar da opinião pública a própria tentativa de restringir, ou censurar, a circulação de informações e opiniões.

A divulgação foi feita pelo site do TSE e repercutiu em sites noticiosos ao longo do dia. A Editora Gráfica Atitude, responsável pela Revista do Brasil, só poderá se pronunciar quando for comunicada oficialmente pelo órgão sobre a decisão do juiz e seus eventuais desdobramentos.

De antemão, agradece as centenas de mensagens de apoio e de solidariedade recebidas ao longo do dia, fruto da mobilização da blogosfera. Qualquer ato dessa natureza – indispor o Judiciário contra às liberdades de imprensa e de expressão – merece no mínimo a condenação de todos os cidadãos que prezam pela democracia e pelo direito à informação.

Diferentemente de panfletos apócrifos destinados a difundir terrorismo, desinformação e baixarias das mais diversas – sejam eles de papel, eletrônicos, digitais ou virtuais –, a Revista do Brasil tem endereço, CNPJ, núcleo editorial e profissionais responsáveis. A transparência do veículo, ao expor sua opinião de forma tão clara quanto rara na imprensa brasileira, e o jornalismo independente e plural que pratica – patrimônio dos trabalhadores aos quais se destina – não merecem ser alvo de qualquer forma de cerceamento.

Quatro anos depois

A edição 52 da Revista do Brasil trazia, à capa, uma foto da candidata à Presidência da República, Dilma Rousseff (PT), com a chamada "A vez de Dilma: O país está bem perto de seguir mudando para melhor". A publicação explicita em seu editorial a posição favorável à candidatura Dilma, e traz também reportagem analisando circunstâncias da disputa do segundo turno.

O pedido de restrição de circulação de seu conteúdo assemelha-se a uma investida datada de junho de 2006. À época, o mesmo PSDB encampou pedido de suspensão de distribuição da edição número 1 da revista. Havia ainda a demanda de que a edição deixasse de ser divulgada no site da CUT e do Sindicato dos Químicos.

Repetida a investida, fica latente o lado em que estão as forças aliadas a José Serra. O lado de quem quer liberdade apenas para o tipo de imprensa e de expressão que lhes convém.


CHICO BUARQUE NO ATO PRÓ-DILMA:

"Venho aqui reiterar meu apoio entusiasmado à campanha da Dilma. Essa mulher de fibra, que já passou por tudo, não tem medo de nada. Vai herdar o senso de justiça social, um marco do governo Lula, um governo que não corteja os poderosos de sempre, não despreza os sem-terra, os professores, garis. A forma de governar de Lula é diferente. Ele não fala fino com Washington, nem fala grosso com Bolívia e Paraguai. Por isso, é ouvido e respeitado no mundo todo. Nunca houve na História do país algo assim"


Dilma dá ótima entrevista, mas JN edita pautas negativas para ela

A presidenciável Dilma Rousseff, da coligação Para o Brasil Seguir Mudando, voltou à bancada do Jornal Nacional, da Rede Globo, na noite desta segunda-feira (18). Nos 11 minutos e 30 segundos nos quais Dilma respondeu às perguntas do casal de entrevistadores Willian Bonner e Fátima Bernardes, a candidata petista dialogou com sorriso no rosto e respondeu, com tranquilidade, todas as perguntas incômodas feitas pelos apresentadores. Foi uma entrevista esclarecedora e excelente para a candidata.

Desta vez, não se observou a agressividade que Bonner demonstrou na primeira entrevista, em 9 de agosto, durante o primeiro turno. O casal Global foi enfático nas perguntas --como deve ser-- e Dilma foi serena, objetiva, mas igualmente firme nas respostas. Como era de se esperar, Dilma foi questionada sobre a questão do aborto e sobre o caso Erenice.

Bonner questionou a candidata também sobre as declarações do deputado Ciro Gomes sobre o suposto preparo de José Serra e os problemas do PMDB.

Dilma reafirmou o que tem dito em outras entrevistas, nos debates e na propaganda eleitoral gratuita. Sobre a questão do aborto, disse que não se pode tratar o assunto como caso de polícia e sim como um problema de saúde pública.

Sobre o caso Erenice Guerra, lembrou que denúncias feitas durante o governo Lula são sempre investigadas e, quando constatada a culpa, os envolvidos são punidos. Já no governo de seu adversário, José Serra, as denúncias são abafadas. Dilma lembrou o caso do ex-presidente do Dersa, Paulo Preto, que mesmo sendo alvo da operação Castelo de Areia, da Polícia Federal, jamais foi investigado pelo governo paulista.

As considerações finais da candidata também foram perfeitas. Com humildade, Dilma pediu votos pela continuidade de um projeto que está dando certo e mudando o Brasil.

Veja no final da matéria a transcrição, na íntegra, da entrevista.

Pauta negativa na sequência

Mas o Jornal Nacional é o Jornal Nacional. E logo depois da entrevista, o jornal bateu feio na candidatura de Dilma. A mão pesada do editor foi notada na reportagem requentando denúncia vazia da revista Época sobre o diretor da Eletrobras, Valter Luiz Cardeal Cardeal, aliado de Dilma. A edição da matéria chegou a ser mais grosseira que a agressividade de Bonner na entrevista de agosto. Cardeal emitiu uma nota esclarecendo as denúncias e mostrando, com fatos concretos, que não havia nada de irregular. Mesmo assim, o JN sequer citou a nota.

Depois do programa eleitoral gratuito, o JN apresentou o "dia" dos candidatos. Como tem feito diariamente neste segundo turno, cobriu a agenda de Serra de forma a dar visibilidade para as propostas do candidato. Parecia uma inserção do programa eleitoral tucano.

Quando chegou a vez da agenda de Dilma, o JN agiu de forma calhorda e alegou que a candidata não teve "comprimissos públicos" nesta segunda-feira. Assim, o Jornal tentou justificar a não cobertura do dia da candidata. Mas havia material de sobra para uma matéria, pois Dilma deu entrevista coletiva no Rio de Janeiro e na qual havia jornalistas da Globo presentes. Novamente o JN "escondeu" Dilma propositalmente para prejudicá-la.

Nesta terça-feira (19), será a vez de José Serra ser entrevistado pelo Jornal Nacional. Será interessante observar como será o tratamento editoral da "pauta" política do JN.

Da redação,
Cláudio Gonzalez

Tullius Detritus: o agente da discórdia

publicada domingo, 17/10/2010 às 01:00 e atualizada segunda-feira, 18/10/2010 às 00:18

Tullius Detritus, especialista em semear a cizânia

A figura acima, caro leitor, lembra algum personagem da cena política brasileira?

Enquanto você pensa, explico que Tullius Detritus é para mim um personagem inesquecível. Dos 10 aos 14 anos, fui leitor fanático de Asterix. Montei, com meu irmão, a coleção completa das aventuras do herói gaulês. Coleção que – tenho o prazer de constatar – hoje é saboreada por meus filhos adolescentes.

Para quem não sabe: “Asterix” é uma série de quadrinhos, francesa, que conta a história de uma aldeia de gauleses (antepassados dos franceses) que teima em resistir ao invasor romano – enquanto toda a Gália já se rendeu. A aldeia de Asterix resiste graças a poderes especiais conferidos por uma poção mágica.

Depois de usar muitas técnicas para derrotar os “irredutíveis”, o imperador Julio Cesar tem uma idéia genial: infiltrar na aldeia o agente romano Tullius Detritus. Qual a especialidade de Detritus? Semear a discórdia, a cizânia. Roma tenta dividir os gauleses para vencê-los. Essa é a história de “Asterix e a Cizânia”.

Voltemos ao Brasil.

A campanha de 2010 é, certamente, a mais suja de todos os tempos. Não é surpresa. Ciro Gomes já tinha avisado. A presença de Serra era prenúncio de jogadas sombrias, ataques sinuosos. Mas pouca gente imaginava que poderíamos chegar a esse ponto.

O Detritus brasileiro já conseguira dividir o PSDB paulista. Depois, dividiu o PSDB nacional (usando métodos pouco ortodoxos na disputa com Aécio). Agora, divide a Igreja Católica; e aprofunda certas divisões entre evangélicos – fomentando algumas denominações contra outras.

O episódio ocorrido nesse sábado, no Ceará, chama atenção: um padre católico reagiu à presença de Detritus e à tática de distribuir panfletos de bispos contra Dilma. O (ainda) senador Tasso (que acompanhava Detritus) bateu boca com o padre. Houve tensão e medo: um local de orações por pouco não se transforma em praça de guerra. O padre – vejam só – teve que ser retirado, enquanto petistas e tucanos ameaçavam se enfrentar!

Percebem a gravidade da situação?

Tullius Detritus semeia a cizânia – também – com essa lamentável tentativa de colar em Dilma o rótulo de “abortista”. Colocou – vejam – a própria mulher na rua, a dizer: “Dilma quer matar as criancinhas”.

Um parlamentar do PT acaba de me contar que o episódio do Ceará não é fato isolado. Em São Paulo, diz-me, teriam havido nos últimos dias (especialmente nas periferias) vários episódios de fiéis se insurgindo contra padres, de padres discordando de textos escritos por bispos, sem contar as brigas públicas de bispos com outros bispos.

Qual o motivo? Tullius Detritus!

A campanha fétida – com apelo falsamente religioso – lançada por Detritus ameaça dividir a Igreja Católica. Basta ler o artigo de Emílio Rodriguez - um veterano da militância católica – publicado no blog do Azenha, para ver o tamanho da encrenca. Emílio já não suporta ver a Igreja usurpada pela campanha de Serra.

Os bispos católicos que se afundam nessa campanha de ódio têm a recompensa terrena: os seus nomes são levados para as delegacias – como aconteceu também nesse sábado em São Paulo (bispos teriam encomendado milhões de panfletos para atacar Dilma; os panfletos foram apreendidos numa gráfica, e o caso foi parar na polícia).

Enquanto isso, Tullius Detritus esfrega as mãos. Ele não se importa com os estragos, nem com o risco de lançar o país em uma guerra religiosa. Botou na cabeça que deve ser presidente da República – custe o que custar. Para isso, não há limites. Nas última semanas, esse personagem levou nosso país até muito perto do precipício, fomentando ódio e intolerância – que já se sente nas ruas.

Também nos quadrinhos, Tullius Detritus é um personagem sombrio e perigoso. Mas, ao fim, Asterix e seus amigos conseguem derrotá-lo.

No Brasil, cabe ao eleitor dar a resposta. Não é preciso usar poção mágica. Basta o voto.

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