segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A Islândia é importante

Enquanto os notíciários seguem derramando tinta e mais tinta para falar de Portugal, Itália, Espanha, Grécia e Irlanda e suas respectivas crises econômicas, alguns outros países que passaram por situação muitíssimo semelhante a estes estão sendo confortavelmente esquecidos pela nossa mídia comercial. Não se faz notícia sobre eles, não se cita eventos acontecidos nesses lugares, não se pronuncia o nome desses países. É o caso muito interessante da Islândia.



A ilha da cantora Björk (ah.... por sinal, que voz maravilhosa!!!) foi uma das primeiras vítimas da crise do Euro, e chegou a ser manchete nos jornais do mundo por vários meses por conta da dívida astronômica que o pais contraiu. Economistas, articulistas, comentaristas, analistas, todos tinham algo a dizer sobre essa ilha. Passado um tempo, porém, a palavra "islândia" subitamente desapareceu completamente dos jornais. Coincidentemente foi logo após a população da islândia decidir, em referendo, que não iria pagar a divida dos banqueiros que quebraram o seu país no cassino das finanças internacionais. Em seguida banqueiros foram presos e os bancos reestatizados, e isso não é coisa tolerável pela nossa mídia. Agora, como se não bastasse, um novo referendo definiu que todos os recursos naturais desse país pertencem a TODO o seu povo e não podem ser privatizados. Acontece que vilanizar, bombardear e derrubar a mais antiga democracia parlamentar do mundo (aproximadamente mil anos) está fora de questão (até porque não há petróleo aqui), por isso optou-se tacitamente por ignorar totalmente sua existência.

Mas não há engano. A Islândia é importante.... e um belo exemplo a ser estudado.

Paz
Alexei 



Santayana: Islandeses abrindo caminho para uma pacífica revolução mundial dos povos?

publicado em 22 de outubro de 2012 às 11:58
O referendum islandês e os silêncios da mídia
por Mauro Santayana, em Carta Maior


Os cidadãos da Islândia referendaram, ontem, com cerca de 70% dos votos, o texto básico de sua nova Constituição, redigido por 25 delegados, quase todos homens comuns, escolhidos pelo voto direto da população, incluindo a estatização de seus recursos naturais.

A Islândia é um desses enigmas da História. Situada em uma área aquecida pela Corrente do Golfo, que serpenteia no Atlântico Norte, a ilha, de 103.000 km2, só é ocupada em seu litoral. O interior, de montes elevados, com 200 vulcões em atividade, é inteiramente hostil – mas se trata de uma das mais antigas democracias do mundo, com seu parlamento (Althingi) funcionando há mais de mil anos. Mesmo sob a soberania da Noruega e da Dinamarca, até o fim do século 19, os islandeses sempre mantiveram confortável autonomia em seus assuntos internos.

Em 2003, sob a pressão neoliberal, a Islândia privatizou o seu sistema bancário, até então estatal. Como lhes conviesse, os grandes bancos norte-americanos e ingleses, que já operavam no mercado derivativo, na espiral das subprimes, transformaram Reykjavik em um grande centro financeiro internacional e uma das maiores vítimas do neoliberalismo. Com apenas 320.000 habitantes, a ilha se tornou um cômodo paraíso fiscal para os grandes bancos.

Instituições como o Lehman Brothers usavam o crédito internacional do país a fim de atrair investimentos europeus, sobretudo britânicos. Esse dinheiro era aplicado na ciranda financeira, comandada pelos bancos norte-americanos. A quebra do Lehman Brothers expôs a Islândia que assumiu, assim, dívida superior a dez vezes o seu produto interno bruto. O governo foi obrigado a reestatizar os seus três bancos, cujos executivos foram processados e alguns condenados à prisão.

A fim de fazer frente ao imenso débito, o governo decidiu que cada um dos islandeses – de todas as idades – pagaria 130 euros mensais durante 15 anos. O povo exigiu um referendum e, com 93% dos votos, decidiu não pagar dívida que era responsabilidade do sistema financeiro internacional, a partir de Wall Street e da City de Londres.

A dívida externa do país, construída pela irresponsabilidade dos bancos associados às maiores instituições financeiras mundiais, levou a nação à insolvência e os islandeses ao desespero. A crise se tornou política, com a decisão de seu povo de mudar tudo. Uma assembléia popular, reunida espontaneamente, decidiu eleger corpo constituinte de 25 cidadãos, que não tivessem qualquer atividade partidária, a fim de redigir a Carta Constitucional do país. Para candidatar-se ao corpo legislativo bastava a indicação de 30 pessoas. Houve 500 candidatos. Os escolhidos ouviram a população adulta, que se manifestou via internet, com sugestões para o texto. O governo encampou a iniciativa e oficializou a comissão, ao submeter o documento ao referendum realizado ontem.

Ao ser aprovado ontem, por mais de dois terços da população, o texto constitucional deverá ser ratificado pelo Parlamento.
Embora a Islândia seja uma nação pequena, distante da Europa e da América, e com a economia dependente dos mercados externos (exporta peixes, principalmente o bacalhau), seu exemplo pode servir aos outros povos, sufocados pela irracionalidade da ditadura financeira.
Durante estes poucos anos, nos quais os islandeses resistiram contra o acosso dos grandes bancos internacionais, os meios de comunicação internacional fizeram conveniente silêncio sobre o que vem ocorrendo em Reykjavik. É eloqüente sinal de que os islandeses podem estar abrindo caminho a uma pacífica revolução mundial dos povos.

Um comentário:

  1. Viva 2016!
    Em 2016 houve fato fabuloso sim, apesar de Vanessa Grazziotin falar que não, dessa forma assim:

    "O ano de 2016 é, sem dúvida, daqueles que dificilmente será esquecido. Ficará marcado na história pelos acontecimentos negativos ocorridos no Brasil e no mundo. Esse é o sentimento das pessoas", diz Grazziotin.

    Mas, por outro lado, nem que seja apenas 1 fato positivo houve sim! É claro! Mesmo que seja, somente e só, um ato notável, de êxito. Extraordinário. Onde a sociedade se mostrou. Divino. Que ficará na história para sempre, para o início de um horizonte progressista do Brasil, na vida cultural, na artística, na esfera política, e na econômica. 
    Que jamais será esquecido tal nascer dos anos a partir de  2016, apontando para frente. Ano em orientação à alta-cultura. Acontecimento esse verdadeiramente um marco histórico prodigioso. Tal ação acorrida em 2016 ocasionou o triunfo sobre a incompetência. Incrementando sim o Brasil em direção a modernidade, a reformas e mudanças positivas e progressistas. Enfim: admirável. 

    Qual foi, afinal, essa ação sui-generis?

    Tal fato luminoso foi o:

    -- «Tchau querida!»*
    [* a «Coração Valente» do João Santana; criada, estimulada e consumida]


    Eis aí um momento progressista, no ano de 2016. Sem PeTê.

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