quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Em busca do inevitável

Olá amigos.
Trago aqui mais um artigo relacionado aos acontecimentos recentes do oriente médio. E é importante que ressaltemos o quão importante são estes acontecimentos, pois o oriente médio vem fazendo manchetes há muito tempo, mas finalmente dessa vez as notícias falam de reais mudanças na estrutura política da região. Não apenas de mortes e mentiras, mas da morte da mentira. De fato, talvez estejamos assistindo ao fim de algumas das maiores mentiras do mundo. Falácias hipócritas como a de que o ocidente, liderado pelos EUA, defendem a democracia na região. Ora pois. Democracia desde que o nosso ditador continue no poder, não é mesmo? Vemos tanta retórica diária contra a república islâmica do Irã mas apenas sorrisos e afagos para os ditadores da Arg
élia, Egito, Marrocos, Arábia Saudita, Kuait, Emirados árabes, Jordânia, Bahrein e Yemen. Pois que se diga. Morte às ditaduras. Viva a verdadeira democracia. Não a democracia dos leões, das armas, da manipulação midiática e do petróleo, e sim a democracia do povo. Tremei poderosos, pois o seu momento está chegando, e os livros de história os esperam com páginas quase vingativas.

Chegou a hora de buscarmos o inevitável.

A análise que ponho aqui é um artigo curto mas contundente de Robert Fisk (o simpático senhor da foto) que, para quem não conhece, se trada do mais respeitado jornalista ocidental especializado no oriente médio. Aqui ele está relacionando o clamor por democracia nesses países com os recém revelados "papeis da palestina" que estão tendo um efeito demolidor sobre o Fatah, o grupo islâmico preferido dos EUA e de Israel. Para quem não lembra, o Fatah só chegou ao poder na Cisjordânia por via das armas após terem perdido as eleições de 2006 para o Hamas. Sim, pois Israel, num gesto de esquizofrenia democrática, simplesmente invadiu a Faixa de Gaza e aprisionou a maioria dos deputados eleitos ligados ao Hamas. Hoje negociam exclusivamente com o Fatah enquanto jogam bombas sobre os membros do grupo político eleito pelo povo da palestina.

Mas tudo bem. Os ventos estão mudando.

Paz
Alexei.


Robert Fisk: Os falsos democratas, em

polvorosa

Robert Fisk:

Uma nova verdade raia sobre o mundo árabe

26/1/2011, The Independent, UK

Os “documentos da Palestina” são tão demolidores quanto a Declaração de Balfour.

[Para saber que raio é isso, clique aqui]

A ‘Autoridade’ Palestina – e as aspas são indispensáveis – estava e está pronta a ceder o “direito de retorno” de talvez sete milhões de refugiados ao que hoje é Israel, em troca de um “estado” ao qual corresponderá apenas 10% (se ta

nto) do território do Mandato britânico na Palestina.

E, à medida que são revelados esses documentos terríveis, o povo egípcio começa a exigir o fim do regime do presidente Mubarak, e os libaneses indicam um primeiro-ministro que servirá ao Hezbollah. Poucas vezes o mundo árabe viu coisa semelhante.

Para começar pelos Documentos da Palestina, é evidente que os representantes do povo palestino estavam prontos para destruir qualquer esperança que os refugiados tivessem de algum dia voltar para casa.

Será – e é – ultraje para os palestinos saber que seus representantes lhes deram as costas. Não há modo pelo qual, à luz dos Documentos da Palestina, os palestinos ainda crerem que algum dia recuperarão direitos seus.

Já viram, em vídeo e por escrito, que jamais voltarão. Mas em todo o mundo árabe – o que não significa mundo muçulmano – há hoje uma compreensão da verdade que jamais por ali se viu antes.

Já não é possível, para o povo do mundo árabe, mentir uns aos outros. Acabou-se o tempo das mentiras. As palavras daqueles líderes – que desgraçadamente são também nossas palavras – esgotaram-se. E nós as levamos até esse fracasso. Nós mentimos a eles todas essas mentiras. E nunca mais conseguiremos recriá-las.

No Egito, nós britânicos amamos a d

emocracia. Incentivamos a democracia no Egito – até que os egípcios decidiram que queriam por fim à monarquia. Então os metemos na prisão. Queríamos mais democracia. Sempre a mesma velha história. Assim como quisemos que os palestinos gozassem de democracia, desde que votassem ‘certo’, nos candidatos ‘certos’, quisemos que os egípcios apreciassem nossa vida democrática. Agora, no Líbano, parece que nossa democracia será substituída pela democracia libanesa. E não gostamos dela.

Queremos que os libaneses, é claro, apóiem o pessoal que nós apoiamos, os muçulmanos sunitas que apoiavam Rafiq Hariri, cujo assassinato – cremos, com razão – foi orquestrado pelos sírios. E agora enfrentamos, nas ruas de Beirut

e, queima de carros e violência contra o governo.

Mas… Em que direção estamos andando? Será, talvez, na direção de deixar que o mundo árabe escolha seus próprios líderes? Veremos talvez um novo mundo árabe não controlado pelo ocidente? Quando a Tunísia fez saber ao mundo que estava livre, Mrs. Hillary Clinton não abriu a boca. Foi o presidente do Irã, o doido, o primeiro a dizer que muito o alegrava ver a Tunísia liberta. Por quê?

No Egito, o futuro de Hosni Mubarak parece ainda mais perturbador. Bem pode acontecer de seu filho ser escolhido para sucedê-lo. Mas só há um califado no mundo muçulmano, e é a Síria. Os egípcios não querem o filho de Hosni. Não passa de empresário peso leve, que nada garante que consiga (sequer que tente), resgatar o Egito de sua própria corrupção.

O chefe da segurança de Hosni Mubarak, um certo Suleiman – hoje, muito doente – dificilmente poderá substituí-lo.

Por toda parte, em todo o Oriente Médio, estamos à espera de assistir à queda dos amigos dos EUA. No Egito, Mubarak deve estar decidindo para onde fugirá. No Líbano, os amigos dos EUA estão em colapso. É o fim do mundo dos Democratas no Oriente Médio árabe. Ninguém sabe o que acontecerá depois. Só a história, talvez, conheça as respostas

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