sábado, 25 de junho de 2011

Enquanto isso, na Espanha....

15-M a 19-J: o movimento se expande na Espanha

O próximo passo do movimento agora será uma Marcha Popular Indignada que, saindo de várias cidades distintas, passará por 29 lugares da Espanha, entre povoados e municípios, para durante realizar em cada um desses locais assembléias em que os cidadãos possam expressar suas reivindicações. A jornada, que começa neste sábado (25/6) acabará em Madrid, quando essas propostas populares serão apresentadas ao governo espanhol.

O último domingo, quando aconteceu a manifestação interacampadas do 19-J, organizada pelo Movimento 15-M, foi um dia inusitado desde o amanhecer. Já no momento em que chegamos à praça, por volta das 11h00, pudemos ver os acampados atarefados, cada um com sua ocupação. Eram como formigas caminhando de um lado a outro, ainda que nesse caso lhes faltasse uma rainha.

A partir do meio-dia, começaram a chegar indignados de outras partes de Barcelona e também de fora da cidade. Chamava especialmente a atenção um grupo que vinha caminhado desde Badalona, cidade catalã localizada a aproximadamente 10 km da capital.

Pouco a pouco, a praça foi se enchendo, e as diferentes caravanas, chegadas de diferentes direções, uniam-se para conversar e compartilhar água ou comida.

O início da marcha estava previsto para as 17h00, mas meia-hora antes já era impossível não se perder em meio à multidão. Foi então que os manifestantes partiram de maneira organizada, até a Via Laietana, rua famosa de Barcelona, que dá acesso ao mar e por onde se pode rumar ao Parlamento Catalão.

Ao longo do caminho, cada vez mais gente saía às ruas para se somar ao protesto, aumentando o tamanho do oceano humano que já se formava, e escorria pelos passeios públicos portando cartazes criativos, soando música, gritando hinos indignados, ou simplesmente fazendo barulho com palmas e panelas.

Quando nos vimos diante daquela massa, pensamos no quanto parecíamos minúsculos e, ao mesmo tempo, sentimos que estávamos diante da oportunidade de documentar algo especial e com potencial para gerar mudanças importantes.

Entre a gente unida, viam-se bandeiras republicanas, independentistas e muitas outras, que representavam, cada uma, uma luta e uma reivindicação diferente. No entanto, essa era um clara minoria entre os milhares de anônimos que haviam se juntado aos demais para apoiar o movimento com ordem e pacifismo, que pudessem fazer de sua ação um verdadeiro exemplo de civismo.

Os participantes da mobilização eram das mais variadas idades e classes sociais. E tinham todos um denominador comum: a vontade de dizer aos ocupantes de cargos públicos que a atual democracia já não os representa.

É verdade que alguns manifestantes, espontaneamente, escalaram a estrutura de paradas de ônibus até alcançar seu teto para, de ali, tentarem se alçar líderes da “revolução”. No entanto, esses indignados mais exaltados foram obrigados a descer de onde estavam pelos demais manifestantes, preocupados com a imagem que poderiam transmitir ao restante da sociedade e aos meios de comunicação.

Embora não tenha havido incidentes, um desses participantes alucinados deu um pouco mais trabalho para os que tentavam manter as coisas tranqüilas, quando se erigiu antes as dezenas de milhares de manifestantes, e imitou Jesus Cristo, proferindo uma mensagem subliminar que muito poucos puderam compreender. A maioria simplemente se sentiu ofendida ao ver alguém seminu, dizendo loucuras, já que considerava a manifestação como algo muito sério: uma oportunidade de mostrar rechaço ao Pacto do Euro, exigindo políticas que beneficiem os cidadãos, e não os mercados.

As mensagens espalhadas pela multidão diziam ao partido socialista (PSOE), no poder atualmente na Espanha, que é urgente deter a supremacia dos interesses das grandes empresas, em detrimento da dignidade da população. Depois de observar a massa durante meia hora, decidimos nos unir à marcha e avançar pela Via Laietana, mas era tanta gente, que o início da manifestação chegou ao destino, sem que a fila tivesse começado a se mover.

Pouco a pouco, porém, foi possível que a multidão saísse do lugar, convertendo-se numa infinidade de individualidades, todas com o mesmo objetivo: expressar indignação. Em meio à Via Laitana, por onde a procissão descia, olhávamos para frente e para trás, sem poder identificar o fim e o começo daquele mar de pessoas, até que alcançamos a Plaza del Palau, ponto de chegada da manifestação.

Ali, parte dos manifestantes decidiu acampar, para conversar reunidos em rodas ou somente observar a manifestação. Nesse momento, também nós paramos para o merecido descanso, até que cada um tomou o caminho de casa, com a ilusão de haver participado de algo histórico.

Apesar das tentativas dos grandes veículos de comunicação, observadas na última semana, de desprestigiar e desmoralizar o movimento 15-M, com base nos embates violentos ocorridos no Parlamento da Catalunha, dessa vez foi difícil encontrar pretexto para tachar os indignados de agressivos.

Foi tão pacífica a ação integrada por desde crianças até idosos, que a Guarda Urbana sequer se aproximou dos manifestantes. Seus integrantes se mantiveram recolhidos em seus carros, observando tudo à distância, enquanto um helicóptero da Polícia sobrevoava o local, despertando vaias e gestos pacíficos dos indignados.

O próximo passo do movimento agora será uma Marcha Popular Indignada que, saindo de várias cidades distintas, passará por 29 lugares da Espanha, entre povoados e municípios, para durante realizar em cada um desses locais assembléias em que os cidadãos possam expressar suas reivindicações. A jornada, que começa neste sábado (25/6) acabará em Madrid, quando essas propostas populares serão apresentadas ao governo espanhol.



Fotos: www.acampadabcn.wordpress.com

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