segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Possível mundo novo

O que está em jogo no Fórum Social Mundial 2011

As questões do Fórum Social Mundial de Dakar estão organizadas em três grandes temas: a conjuntura global e a crise, a situação dos movimentos sociais e cívicos e o processo do Fórum Social Mundial. O FSM Dakar também será o momento para o debate sobre o caráter incompleto da descolonização e devir de uma nova fase descolonização. No Fórum de Dakar uma outra questão fundamental será a do seu alcance político nas mobilizações sociais e da cidadania. Isso conduz ao problema da expressão política dos movimentos sociais e de sua relação com os governos.

A conjuntura global e a crise

A situação global está marcada pelo aprofundamento da crise estrutural da globalização capitalista. As quatro dimensões da crise (social, geopolítica, ambiental e ideológica) serão abordadas em Dakar. A crise social será enfrentada em particular sob os pontos de vista da desigualdade, da pobreza e da discriminação, enquanto a crise geopolítica será discutida em particular da perspectiva da guerra e do conflito, do acesso às matérias primas e da emergência de novas potências. A crise ambiental será debatida, em particular, sob a perspectiva da mudança climática, enquanto a crise ideológica será discutida da perspectiva de ideologias seguras, da questão das liberdades e da democracia e da cultura, presentes desde o Fórum Social de Belém, que serão analisadas em profundidade.

A evolução da crise lança luz sobre uma situação contraditória. Análises do movimento altermundista estão sendo aceitas, reconhecidas e contribuem para a crise do neoliberalismo. As propostas produzidas pelos movimentos são aceitas como base, por exemplo, para o monitoramento dos setores financeiro e bancário, para a eliminação dos paraísos fiscais, de tributos internacionais, para o conceito de segurança alimentar, até então considerados heresias, estão nas agendas do G8 e do G20. E mesmo assim ainda não foram traduzidos em políticas viáveis. Essas propostas tem sido acolhidas, mas não se efetivam por causa da arrogância das classes dominantes confiantes no seu poder.

A validação das agendas resulta na transformação das palavras de ordem dos movimentos em lugares comuns. É preciso refinar as perspectivas e conceder mais relevância ao debate estratégico, à articulação entre a resistência de curto prazo e a de médio prazo e à mudança em curso sob a superfície dos acontecimentos. A situação lança uma luz sobre a natureza dual da crise, tensionada entre a crise do neoliberalismo, que é a fase da globalização capitalista e a crise da própria globalização capitalista; uma crise do sistema que pode ser analisada como uma crise de civilização, a crise da civilização ocidental, estabelecida desde princípios do século XV.

Nesse contexto, alianças estratégicas devem obedecer a duas exigências. A primeira está vinculada à luta contra a pobreza, a miséria e a desigualdade, o uso do trabalho precário e a violação das liberdades no mundo, para melhorar as condições de vida e a expressão da classe trabalhadora diretamente afetada pela economia dominante e pelas políticas públicas. A segunda exigência prioriza o fato de que outro mundo é possível; um mundo necessário envolve um rompimento definitivo com os modos de produção e consumo da economia e da sociedade, bem como a redistribuição ambiental, com o equilíbrio geopolítico do poder estabelecido nas décadas recentes nos modelos democráticos proeminentes do ocidente.

Três propostas emergem como respostas à crise: o neoconservadorismo, que propõe a continuação do atual padrão dominante e dos privilégios que os acompanham às custas das liberdades, da continuidade das desigualdades e da extensão dos conflitos e das guerras; uma reestruturação profunda do capitalismo defendido pelos militantes do “New Deal Verde”, que propõe regulação global, redistribuição relativa e uma promoção voluntarista das “economias verdes”; e uma alternativa ambiental e social radical, que corresponde a uma superação do atual sistema dominante. O Fórum Social Mundial reúne todos os que rejeitam a opção neoconservadora e a continuação do neoliberalismo, constituindo um fórum pela mudança vigorosa da discussão entre os movimentos que fazem parte de uma perspectiva de avanço de um “New Deal Verde” e os que defendem a necessidade de alternativas radicais.

A referência ao contexto africano

O Fórum Social Mundial de Dakar vai enfatizar questões essenciais que aparecem com mais nitidez com as referências ao contexto africano. A ênfase estará no lugar da África no mundo e na crise. A África é objeto privilegiado de análise, ao tempo em que exemplifica a situação global. Não é pobre; é empobrecida. A África não é marginalizada; é explorada. Com suas matérias primas e recursos humanos cobiçados pelos países do Norte e pelas potências emergentes, e com a cumplicidade ativa dos líderes de alguns estados africanos, a África é indispensável para a economia global e para o equilíbrio ambiental do planeta.

A ênfase também estará na descolonização como um processo histórico incompleto. A crise do neoliberalismo e a crise de hegemonia dos Estados Unidos são indicativos da possibilidade de uma nova fase de descolonização, e do enfraquecimento das potências coloniais europeias. A representação Norte-Sul está mudando, uma situação que não elimina a realidade geopolítica e as contradições entre o Norte e o Sul.

O Fórum priorizará as diásporas e as migrações como uma das questões centrais da globalização. A questão será enfrentada com base na situação atual dos imigrantes e seus direitos, numa análise de longo termo, com o comércio de escravos posto sob a perspectiva do crescimento do papel das diásporas culturais e econômicas.

O Fórum debaterá as mudanças no sistema internacional, nas instituições multilaterais e nas negociações internacionais. Em particular, vai focar nas questões que tornam clara a necessidade de regulação global: equilíbrio ambiental, migração e diásporas, conflitos e guerras.

A situação dos movimentos sociais e comunitários

A convergência dos movimentos de que o Fórum Social Mundial se constitui está comprometida com a resistência ambiental e democrática. Com as lutas sociais presentes nos combates cívicos pelas liberdades e contra a discriminação. A resistência é inseparável das práticas emancipatórias específicas levadas a cabo pelos movimentos.

A direção estratégica dos movimentos está voltada para a acessibilidade universal ao direito, pela igualdade de direitos e pelo imperativo democrático. Os movimentos trazem consigo um movimento histórico de emancipação que são extensão e renovação de movimentos anteriores. Será em torno da definição, da implementação e da garantia de direitos que um novo período de emancipação possível será definido. Essa definição exige que essas concepções de diferentes gerações de direitos sejam revisitadas: direitos políticos e civis formalizados pelas revoluções do século XVIII, reafirmados pela Declaração Universal de Direitos Humanos, complementadas pelos desafios do totalitarismo dos anos 60; os direitos dos povos que o movimento de descolonização promoveu, com base no direito da autodeterminação, o controle dos recursos naturais, o direito ao desenvolvimento e à democracia; direitos sociais, econômicos e culturais especificados pela Declaração Universal e estipulados pelo Protocolo Adicional adotado pelas Nações Unidas na Assembleia Geral em 2000.

Uma nova geração de direitos está em gestação. Direitos que correspondem à expressão da dimensão global e dos direitos definidos com vistas a um mundo diferente da globalização dominante. A partir desse ponto de vista, duas questões serão as mais proeminentes em Dakar: direitos ambientais para a preservação do planeta e os direitos dos migrantes e da migração que questione o papel das fronteiras, bem como a organização do mundo. O Fórum Social Mundial de Belém enfatizou os benefícios para os movimentos de abarcarem a agenda ambiental em todas as suas dimensões, do clima à destruição dos recursos naturais e da biodiversidade, e da preservação da água, da terra e das suas matérias primas. O FSM de Dakar priorizará um novo tratamento da questão da migração, com a ligação entre migrações e diásporas e a Carta Mundial dos Migrantes.

O FSM Dakar também será o momento para o debate sobre o caráter incompleto da descolonização e devir de uma nova fase descolonização. É nesse contexto que a relação entre o Norte e o Sul está mudando. Considerando que a representação Norte/Sul está mudando na perspectiva da estrutura social, há um Norte no Sul e um Sul no Norte. A emergência do poder de grandes estados está mudando a economia global e o equilíbrio de forças geopolíticas, e é reforçado pelo crescimento de mais de trinta estados que podem ser chamados de economias emergentes. Para tudo isso, contudo, as formas de dominação continuam a ser cruciais na ordem global. O conceito de Sul continua a ser altamente relevante. O Fórum Social Mundial enfatiza uma nova questão: o papel histórico e estratégico dos movimentos sociais nos países emergentes como um todo em relação ao seu Estado e o papel futuro desses estados no mundo. Essa questão, que já marcou os fóruns com o debate sobre o papel jogado pelos movimentos no Brasil e na Índia assume uma importância particular estratégica com a mudança geopolítica associada à crise.

O Fórum Social Mundial é o ponto de encontro para movimentos de vários tipos e de diferentes partes do mundo. Esses movimentos já começaram a se encontrar em redes que reúnem diferentes movimentos nacionais. O processo dos fóruns revela duas mudanças. A primeira delas é as conexões entre movimentos de acordo com suas regiões, características e contextos específicos unificam os movimentos da América Latina, América do Norte e Sul da Ásia (e em particular, a Índia), o sudoeste da Ásia, Japão, Europa e Rússia. O Fórum Social Mundial de Dakar terá dois impactos maiores. O ano de 2010 e os preparativos para Dakar foram marcados pela nova importância conquistada pelos movimentos da região do Magreb-Machrek.

O vigor dos movimentos sociais africanos será visível em Dakar, na forma de movimentos de campesinos, sindicatos, grupos feministas, de juventude, habitantes locais, grupos de imigrantes reprimidos, grupos indígenas e culturais, comitês contra a pobreza e contra a dívida, a economia informal e a economia solidária, etc. Esses movimentos são visíveis, com sua convergência diversidade em sub-regiões da África: no Norte da África e em particular no Magreb, no Oeste e na África Central, na África do Leste e na do Sul.

No Fórum Social Mundial de Dakar uma questão fundamental será a do seu alcance político nas mobilizações sociais e da cidadania. Isso conduz ao problema da expressão política dos movimentos e das extensões dos movimentos em relação às instituições, ao cenário político e aos governos dos estados. Com respeito aos movimentos como um todo, a análise avança sobre a importância da especificidade, via invenção de uma nova cultura política, da relação entre poder e política. O processo do FSM pôs em cena as bases para essa nova cultura política (horizontalidade, diversidade, convergência das redes de cidadãos e dos movimentos sociais, atividades autogestionadas, etc.) mas ainda deve inovar mais em muitas dificuldades relativas à política e ao poder, para conseguir superar a cultura política caduca, que para a imensa maioria persevera dominante. Além disso, a tradução política dos avanços e das mobilizações dependem das instituições e das representações: num nível local, com a possibilidade de influenciar as decisões das autoridades locais; em nível nacional e internacional, com os governos dos estados, os regimes políticos e as instituições multilaterais; em nível regional e global, com alianças geoeconômicas e geoculturais e com a construção de uma opinião pública global e uma consciência universal.

O processo dos Fóruns Sociais Mundiais

Depois de o Fórum Social Mundial de Belém ter tomado o ano de 2010 como o ano da ação global, mais de quarenta eventos demonstraram o vigor do seu processo. Isso incluiu as atividades dos 10 anos do FSM em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial dos Estados Unidos, o Fórum Social Mundial do México e o Fórum das Américas, vários fóruns na Ásia, o Fórum Mundial de Educação na Palestina, mais de oito fóruns do Magreb e Machrek, etc. Cada evento associado foi iniciativa do comitê local. Esse comitê se refere na Carta de Princípios do Fórum Social Mundial, que adota uma metodologia privilegiando as atividades autogestionadas e declara sua iniciativa no Conselho Internacional do FSM. Essa multiplicação de eventos abre espaço para projeções relativos à extensão do processo dos fóruns. Ele assumiu uma nova forma, “um fórum estendido”, que consiste no uso da Internet para ligar iniciativas locais em diferentes países, com um Fórum em cada. Assim, enquanto ocorria o Fórum Mundial da Educação na Palestina, mais de 40 iniciativas estavam em curso em Ramallah. As iniciativas associadas com “Dakar estendida” inovarão o processo dos fóruns.

A preparação para o FSM Dakar baseou-se nos eventos do ano da ação global, 2010, bem como numa série de iniciativas que asseguraram a convergência de ações e permitiram novos caminhos a serem explorados em termos de organização e metodologia dos fóruns. Assim, já se pode usar as caravanas convergindo para Dakar, dos fóruns de mulheres em Kaolack, das migrações e diásporas, dos encontros para convergência de ações, dos fóruns associados (Assembleia Mundial dos Povos, fóruns pela ciência e pela democracia, sindicatos, autoridades locais e da periferia, parlamentares, teologia e libertação, etc.).

Depois de Dakar, um novo ciclo no processo dos fóruns irá começar. O fortalecimento do processo dos fóruns sociais mundiais poderia ocorrer com a reunião com grandes eventos, como o Rio+20, G8, G20, cúpulas e outras poderiam acordar com sua perspectiva. Seriam reconhecidos como eventos associados ao processo do fórum, estabelecendo assim uma proximidade com os acontecimentos de Seattle, em 1999, que contribuíram para a criação do FSM.

- Gustave Massiah e Nathalie Péré-Marzano, representantes da Research and Information Centre for Development (CRID – France) no Conselho Internacional do Fórum Social Mundial.

Tradução: Katarina Peixoto

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Um ditador pró-EUA a menos...

Foram meses de protestos, com direito a repressão violenta e morte de manifestantes, sem que uma única notícia aparecesse em nossos noticiários. Anos e anos de violações dos direitos humanos sem uma única condenação, ou comentário crítico. Décadas de ditadura, num país rotulado como "liberal" para os padrões do oriente médio. Agora que o ditador da Tunísia finalmente caiu - e o clamor por democracia começa a se espalhar pelos países vizinhos - a notícia emerge em meio a expressões cínicas de surpresa. Mesmo assim, nas imagens das manifestações populares, e na narração fria, um detalhe importante continua misteriosamente ausente dos noticiários. Ninguém parece lembrar que Ben Ali era "amigo" dos EUA.
Pois aqui vai outra lembrança incômoda: As ditaduras brutais da Argélia, Egito, Jordânia, Yemen, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Bahrein e Kuait também estão alinhados com Washington, e estes poderosos capachos, com certeza, não estão dormindo bem, ultimamente.
Paz
Alexei

Surpresa: a Tunísia era uma ditadura

publicada quarta-feira, 19/01/2011 às 06:58 e atualizada quarta-feira, 19/01/2011 às 15:21

Surpresa: a Tunísia era uma ditadura

por Igor Fuser, do Jornal Brasil de Fato

Quando eu ingressei como redator na editoria de assuntos internacionais da Folha de S.Paulo, um colega veterano me ensinou como se fazia para definir quais, entre as centenas de notícias que recebíamos diariamente, seriam merecedoras de destaque no jornal do dia seguinte. “É só olhar os telegramas das agências e ver o que elas acham mais importante”, sentenciou. Pragmático, ele adotava esse método como um meio seguro de evitar que o noticiário da Folha destoasse dos jornais concorrentes, os quais, por sua vez, se comportavam do mesmo modo. Na realidade, portanto, quem pautava a cobertura internacional da imprensa brasileira era um restrito grupo de três agência noticiosas — Reuters, Associated Press e United Press International, todas afinadíssimas com as prioridades geopolíticas dos Estados Unidos.

Passadas mais de duas décadas, a cobertura internacional da mídia brasileira ainda se orienta por diretrizes estrangeiras. A única diferença é que agora as agências enfrentam a competição de outros fornecedores de informação, como a CNN e os serviços de empresas como a BBC e o New York Times, oferecidos pela internet. Mas o conteúdo é o mesmo. O resultado é que as informações internacionais que circulam pelo planeta, reproduzidas com mínimas variações em todos os continentes, são quase sempre aquelas que correspondem aos interesses de Washingon.

Quem confia nessa agenda está condenado uma visão parcial e distorcida, uma ignorância que só se revela quando ocorrem “surpresas” como a rebelião popular que derrubou o governo da Tunísia. De repente, o mundo tomou conhecimento de que a Tunísia — um país totalmente integrado à ordem neoliberal e um dos destinos favoritos dos turistas europeus — era governada há 23 anos por um ditador corrupto, odiado pelo seu povo. Como é que ninguém sabia disso?

A mídia silenciou sobre o despotismo na Tunísia porque se tratava de um regime servil aos interesses políticos e econômicos dos EUA. O ditador Ben Ali nunca foi repreendido por violações aos direitos humanos e, mesmo quando ordenou que suas forças repressivas abrissem fogo contra manifestantes desarmados, matando dezenas de jovens, o presidente estadunidense Barack Obama e sua secretária de Estado, Hillary Clinton, permaneceram em silêncio. Não abriram a boca nem mesmo para tentar conter o massacre. Só se manifestaram depois que Ben Ali fugiu do país, como um rato, carregando na bagagem mais de uma tonelada de ouro.

O caso da Tunísia não é o único na região. No vizinho Egito, outro regime vassalo dos EUA, Hosni Mubarak governa ditatorialmente desde 1981. Suas prisões estão lotadas de opositores políticos e as eleições ocorrem em meio à fraude e à violência, o que garante ao governo quase todas as cadeiras parlamentares. Mas o que importa, para o “Ocidente”, é o apoio da ditadura egípcia às posições estadunidenses no Oriente Médio, em especial sua conivência com o expansionismo israelense.

Por isso, a ausência de democracia em países como a Tunísia e o Egito nunca recebe a atenção da mídia convencional, ao contrário da condenação sistemática de regimes autoritários não-alinhados com os EUA, como o Irã e o Zimbábue. É sempre assim: dois pesos, duas medidas.

Igor Fuser é jornalista, doutorando em Ciência Política na USP, professor na Faculdade Cásper Líbero e membro do Conselho Editorial do Brasil de Fato

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Tiros no Arizona

Clima de ódio

PAUL KRUGMAN
DO "THE NEW YORK TIMES"

Quando você ouviu as terríveis notícias sobre o ataque no Arizona, ficou completamente surpreso? Ou de alguma maneira esperava que uma atrocidade como essa viesse a acontecer?

Inclua-me na segunda categoria. Desde os estágios finais da campanha eleitoral de 2008, eu tinha uma sensação estranha na boca do estômago. Lembrei da escalada do ódio político posterior à eleição de Bill Clinton em 1992 -- uma escalada que culminou com o atentado a bomba realizado em Oklahoma City. E era perceptível, observando o público dos comícios de John McCain e Sarah Palin, que aquilo estava a ponto de se repetir. O Departamento de Segurança Interna chegou à mesma conclusão em abril de 2009, em um relatório interno no qual alertava que o extremismo de direita estava em alta, com potencial crescente de violência.

Os conservadores denunciaram o relatório. Mas houve, de fato, uma crescente onda de ameaças e vandalismo dirigidos a detentores de cargos eletivos, entre os quais o juiz John Roll, assassinado no sábado, e a deputada Gabrielle Giffords. Era inevitável que chegasse o momento em que essas ameaças seriam concretizadas. E foram.

É verdade que o atirador do Arizona parece ser mentalmente perturbado. Mas isso não significa que seu ato possa ou deva ser tratado como evento isolado, completamente dissociado do clima prevalecente no país.

No segundo trimestre de 2010, o site politico.com reportou uma disparada nas ameaças contra congressistas que àquela altura já tinham crescido em 300%. Algumas das pessoas responsáveis pelas ameaças tinham um histórico de doença mental -- mas algo no estado atual dos Estados Unidos vem fazendo com que muito mais pessoas perturbadas permitam que suas doenças se expressem por meio de ameaças de violência política, ou da execução dessas ameaças.

E não há muita questão quanto ao que mudou. Como disse Clarence Dupnik, o xerife encarregado de investigar o atentado no Arizona, é a "retórica agressiva que ouvimos a cada dia das pessoas no rádio e de algumas pessoas na TV". A vasta maioria daqueles que ouvem essa retórica tóxica não chega a cometer atos reais de violência, mas é inevitável que alguns excedam os limites.

É importante que tenhamos claramente em mente a natureza de nossa doença. Não é a falta generalizada de "civilidade", termo tão querido dos sabichões que desejam que as discordâncias políticas fundamentais desapareçam em um passe de mágica. Polidez pode ser virtude, mas existe grande diferença entre maus modos e apelos, implícitos ou explícitos, à violência; insultos e incitação à violência são coisas diferentes.

O ponto é que existe espaço, em uma democracia, para que as pessoas ridicularizem aqueles que delas discordam; mas não existe espaço para retórica de eliminação, para sugestões de que as pessoas do outro lado do debate deveriam ser removidas desse debate por quaisquer que sejam os meios necessários.

E é a saturação de nosso discurso político -- e especialmente a de nossas ondas de rádio -- com retórica de eliminação que serve de base à alta na violência.

De onde vem essa retórica tóxica? Não vamos fingir um falso equilíbrio: ela vem, esmagadoramente, da direita. É difícil imaginar um legislador democrata que inste seus eleitores a estarem "armados e perigosos" sem que sofra ostracismo político; mas a deputada Michelle Bachmann, que fez esse apelo, é uma estrela em ascensão no Partido Republicano.

E existe um imenso contraste na mídia. Ouçam Rachel Maddow ou Keith Olbermann e ouvirão muitas declarações cáusticas e zombarias contra os republicanos. Mas não ouvirão piadas sobre atirar em funcionários do governo ou decapitar um jornalista do "Washington Post". Já se assistirem aos programas de Glenn Beck ou Bill O'Reilly, ouvirão esse tipo de coisa.

É claro que figuras como Beck ou O'Reilly estão respondendo à demanda popular. Cidadãos de outras democracias talvez se espantem diante da psiquê norte-americana, diante da maneira pela qual esforços de presidentes moderadamente progressistas para expandir o sistema de saúde são recebidos com protestos quanto a tirania e retórica sobre a necessidade de resistência armada. Ainda assim, é isso que acontece sempre que há um democrata na Casa Branca, e existe um mercado para aqueles que se disponham a alimentar essa ira.

Mas mesmo que ódio seja aquilo que muitos desejam ouvir, isso não serve de desculpa aos que atendem a esse desejo. As pessoas decentes deveriam excluí-los de seu convívio.

Infelizmente, não é isso que vem acontecendo. Os promotores do ódio vem sendo tratados com respeito e até deferência pelas lideranças republicanas. Como disse David Frum, antigo redator de discursos presidenciais de George W. Bush, "os republicanos originalmente acreditavam que a Fox trabalhava para nós; agora descobrimos que nós é que trabalhamos para a Fox".

Será que o massacre no Arizona vai tornar nosso discurso menos tóxico? Depende dos líderes republicanos. Será que eles aceitarão a realidade do que está acontecendo nos Estados Unidos e se posicionarão contra a retórica de eliminação? Ou tentarão desconsiderar o massacre como ação de um indivíduo descontrolado e seguir adiante como se nada houvesse acontecido?

Se o que houve no Arizona provocar um exame de consciência, as coisas podem mudar. Caso não o faça, a atrocidade do sábado será só o começo.

TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

...adeus ano velho...

PIG Awards revela quem "brilhou" no golpismo midiático em 2010

Num ano de grande comoção política, devido ao processo eleitoral, nossos principais meios de comunicação se esforçaram para mostrar o que têm de melhor em matéria de jornalismo parcial e engajado com os interesses corporativos e oligárquicos. A brincadeira abaixo é iniciativa do internauta Victor Farinelli, via blog da Maria Frô.

A Folha, grande vencedora dos prêmios em 2009 (um ano inesquecível, quando o jornal brilhou com pelo menos cinco grandes pérolas: editorial da Ditabranda, ficha falsa da Dilma, estimativa de 35 milhões de vítimas de gripe suína, coluna de Cesar Benjamin acusando o Lula de tentar estuprar um menor na cadeia, e o golpe de mestre, a sabotagem do Enem em gráfica da Folha) tentou o bicampeonato, mas teve de se contentar com alguns destaques individuais, e o Porquinho de Pratana categoria jornais, embora também mereça destaque seu prêmio especial por sua excelente ação indenizatória contra a Falha de S.Paulo, um marco na luta pelo pleno direito à liberdade de expressão dos donos da mídia.
Mas a grande maioria dos prêmios, entre eles o Porcão de Ouro, voltam finalmente ao Jardim Botânico (recordemos que, em 2008, ficou com a Editora Abril, graças ao golpe da reportagem do grampo sem áudio da revista Veja). É verdade que a briga foi pau a pau, a Globo mantinha uma pequena vantagem, graças à vinheta do 45, o avião do JN, o tucanismo indisfarçável das suas matérias, dos seus comentaristas e âncoras – incluindo “cala a boca” do Waack pra Dilma e mil desculpas do Bonner pro Serra. Mas foi somente com a fabricação do segundo objeto atingindo a cabeça do presidenciável da direita que a emissora carioca conseguiu definitivamente uma vantagem sobre os seus principais rivais pauslitas. O prêmio vai pro Ali Kamel, como comandante da propaganda serrista, quer dizer, do noticiário global, mas é preciso também destacar a atuação do perito Ricardo Molina, uma espécie de autor do gol da vitória.
Abaixo, segue a lista completa dos vencedores dos prêmios em 2010, os mais destacados do golpismo midiático nacional:

PIG AWARDS 2010
Porquinho de Prata (jornais): FOLHA, com Consumidor pagou R$1 bi por falha de Dilma

Porquinho de Prata (revistas): VEJA, com O grande imitador

Porquinho de Prata (rádios): JOVEM PAM, com sua Pesquisa-Enquete

Porquinho de Prata (TVs): GLOBO, com sua versão de A agressão ao Serra no Rio

Porquinho de Prata (internet): UOL, com Debate presidencial com tucano neutro

Capa de Revista do Ano: ÉPOCA, com O passado de Dilma

Vinheta de TV do Ano: GLOBO, com Globo 45 Anos (clique aqui)

Transmissão Radiofônica do Ano: TRANSAMÉRICA, com Final do Paulistão com o comentarista José Serra

Prêmio PUM (Pensamento Único da Mídia): ESTADÃO, por ter posto a rebelde Maria Rita Kehl no olho da rua e dar o exemplo aos que ousem fazer o mesmo, mostrando o destino que os espera, caso isso aconteça.

Prêmio Roberto Marinho (incentivo à Liberdade de Imprensa dos Donos da Mídia): FOLHA, por não permitir que um blog sujo como o Falha de S.Paulo avacalhe o nome do jornal perante seu crescente universo de leitores e assinantes.

Prêmio especial por reconhecimento ao respeito pelo trabalho dos jornalistas: TV CULTURA, de São Paulo

PRÊMIOS INDIVIDUAIS
Colunista do Ano (jornais): Eliane “Massa Cheirosa” Cantanhêde (FOLHA)

Colunista do Ano (revistas): Diogo “Fugi para não pagar” Mainardi (VEJA)

Colunista do Ano (rádios): Lucia “Telefone Está Piscando” Hippólito (CBN)

Colunista do Ano (TVs): Luiz Carlos “Qualquer Miserável Agora Tem Carro” Prates (RBS/GLOBO)

Colunista do Ano (internet): Josias “Empregada Lésbica” de Souza (UOL)

Prêmio especial da TV fechada: Mônica “Entre Amigos” Waldvogel (GLOBO NEWS)

Perito Especialista do Ano: Ricardo “Segundo Objeto” Molina (GLOBO)

Intelectual do Ano: Demétrio “Navio Negreiro” Magnoli (ESTADÃO)

Cronista Esportivo do Ano: Galvão “Cala a Boca” Bueno (GLOBO)

Radialista do Ano: Carlos Alberto “Odeio o Pibão” Sardenberg (CBN)

Âncora do Ano: William “Me Desculpe Candidato” Bonner (GLOBO)

Blogueiro Limpo do Ano: Marcelo “Mimimi” Tas (TERRA)

Repórter do Ano: Danilo “Empurra Velhinha” Gentili (BAND)

Humorista Engajado do Ano: Marcelo “Vagabundo, Picareta” Madureira (GLOBO)

Executivo do Ano: a presidenta do PIG, Dona Judith “Mídia Faz o Papel das Oposições” Brito (FOLHA)

Prêmio Carlos Lacerda (incentivo à diversidade social na mídia): Boris “Amigos dos Garis” CCCasoy (BAND)

Troféu Porcão de Ouro: Ali KKKamel (GLOBO), pela excelente e imparcial cobertura que a emissora fez das eleições 2010

Os prêmios serão entregues em evento a ser realizado pelo Instituto Millenium na sede do Clube da Aeronáutica do Rio de Janeiro, para o qual foi convidado, para ser anfitrião da entrega, o notável professor Hariovaldo Almeida Prado.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Será que oferecerão o Nobel da paz para ele?


Suécia recorre e Assange deve ficar mais 48 horas sob custódia

Um tribunal de Londres autorizou nesta terça-feira (14) a libertação de Julian Assange, criador do WikiLeaks, sob o pagamento de fiança de 200 mil libras (R$ 541 mil). Assange continuará sob custódia por pelo menos mais 48 horas, já que a Justiça sueca apelou da decisão. A Suécia pede a extradição do australiano de 39 anos, acusado por suposto abuso sexual. O WikiLeaks, tornou-se a vedete atual do noticiário, após ter publicado mais de 250 mil documentos considerados confidenciais dos EUA.

A próxima audiência do caso no Reino Unido deverá acontecer em 11 de janeiro. Assange foi preso na capital britânica na semana passada e desmentiu ter praticado qualquer delito. O juiz Howard Riddle disse que caso Assange seja solto ele precisará respeitar regras rígidas: terá que usar um rastreador eletrônico, permanecer em um endereço registrado, reportar-se à polícia toda noite e respeitar dois turnos de toque de recolher de quatro horas a cada dia.

O advogado Geoffrey Robertson, que representou Assange no tribunal, afirmou que celebridades já garantiram com doações a quantia necessária para a fiança. Ex-juiz do tribunal da ONU para Serra Leoa, Robertson é especialista em casos relacionados à liberdade de expressão e tem clientes como o escritor Salman Rushdie, ameaçado de morte por fundamentalistas muçulmanos. Mark Stephens, outro advogado de Assange, ironizou a cobrança da fiança.

"É uma pena que ele não possa usar o Mastercard ou o Visa para ajudá-lo a conseguir" o valor necessário, segundo Stephens, se referindo ao bloqueio que as administradoras de cartão de crédito submeteram às contas dos responsáveis pelo WikiLeaks.

Nesta terça-feira, a advogada que representa a Suécia pediu que o fundador do WikiLeaks continuasse sem direito à fiança, alegando que as acusações "são sérias, que ele não possui vínculos fortes com o Reino Unido e tem dinheiro suficiente para escapar".

Da redação, com agências


Errata:
Depois se descobriu que a Suécia não teve nada a ver com a prisão de Assange do Wikileaks, como noticiado no artigo acima. A reportagem usada aqui foi copiada aqui na época de sua detenção. Todo o incidente foi causado pela própria justiça inglesa. Como se não bastasse a hipocrisia, ainda tentaram por a culpa nos estrangeiros.
Enfim..... Agora ele já pagou fiança e vive em liberdade vigiada, com um rastreador no corpo, tendo que visitar a delegacia diariamente, e estando proibido de deixar o país.

Paz
Alexei



domingo, 12 de dezembro de 2010

Ecologia hoje

COP-16 termina em acordo modesto com único voto contra da Bolívia

11/12/2010 13:50, Por Redação, com agências internacionais - de Cancún, México

Representantes de países insulares protestam contra aquecimento global

Representantes de países insulares protestam contra aquecimento global

A conferência da ONU para o clima, a COP-16, terminou em Cancún, no México, na madrugada deste sábado de uma forma inesperada. Contra a expectativa de que não haveria anúncios relevantes ao final do encontro, foram firmadas duas decisões: a criação do Fundo Verde e a extensão do Protocolo de Kyoto para além de 2012, quando expira o tratado.

Perto do final de duas semanas de conversas envolvendo quase 200 países, muitos ministros do Meio Ambiente elogiaram uma proposta do México para quebrar um impasse entre as nações ricas e as pobres sobre corte nas emissões da gases causadores do efeito estufa pelos países desenvolvidos, previsto no Protocolo de Kyoto. O acordo proposto não inclui um compromisso para estender o protocolo além de 2012, quando ele vai expirar, mas evita o fracasso das negociações sobre mudanças climáticas e proporciona alguns pequenos avanços na proteção ao meio ambiente.

Embora os acordos sejam limitados e já vinham sendo discutidos, eles restauraram um pouco da credibilidade perdida em Copenhague. No “trabalho em duplas”, coube ao Brasil e ao Reino Unido buscar o consenso sobre Kyoto e lidar principalmente com a resistência japonesa quanto ao tratado – na sexta-feira, o Japão, a Rússia e o Canadá haviam dito que não participariam da segunda fase de Kyoto.

Renovar ou não o Protocolo de Kyoto foi o grande debate na conferência. Os países opositores a Kyoto exigiam que fossem incluídas reduções das emissões para economias emergentes como Índia e China – esta é um dos maiores poluentes do planeta. Já os grandes países emergentes dizem que não aceitariam um ônus tão grande quanto das nações ricas. Há, ainda, a questão dos Estados Unidos, que até agora não ratificaram Kyoto e a questão segue sem definição. Apesar do consenso, não houve fixação de datas e prazos. Xie Zhenhua, chefe da delegação chinesa em Cancún, afirmou que Pequim apoiava a proposta:

– Embora ainda haja algumas falhas, expressamos nossa satisfação com o acordo – disse.

A China e os Estados Unidos são os dois maiores emissores de gases causadores do efeito estufa. Outros países que emitem larga escala de poluentes são os da União Europeia, a Índia, o Japão e muitas nações desenvolvidas, sendo que todos apoiaram a proposta que definitivamente encerraria uma disputa entre países ricos e pobres sobre o futuro do Protocolo de Kyoto, no próximo ano.

A Bolívia foi o único a se posicionar contra as decisões da COP-16, argumentando que o plano não é suficiente para combater as mudanças climáticas. Segundo a delegação boliviana, elas são tão fracas, que poderiam colocar o planeta em risco. O país vai recorrer à Corte Internacional de Justiça de Haia para contestar o resultado da COP-16. Às 4h no horário local, o presidente mexicano, Felipe Calderon, declarou em discurso que a COP-16 foi um “sucesso”. Ele acrescentou que a “inércia da desconfiança” foi superada finalmente.

– O que temos agora é um texto. Se não é perfeito, é certamente uma boa base para ir em frente – disse o chefe das negociações da ONU, Todd Stern.

A criação do Fundo Verde, que ajudará as nações em desenvolvimento na luta contra as mudanças climáticas, também foi anunciada. A União Europeia (UE), Japão e Estados Unidos prometeram doações de até US$ 100 bilhões até 2020. A curto prazo, os países se comprometeram também com uma ajuda imediata de US$ 30 bilhões. O pacote de medidas inclui ainda um mecanismo de proteção das florestas tropicais do planeta, cujo maciço desmatamento provoca 20% das emissões de gás do efeito estufa no mundo, e novos meios de dividir tecnologias de energia limpa.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Olhem nos olhos de uma vítima inocente

Por paulo toledo

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(Foto: Khaled el-Masri com sua família na Alemanha, 2005. Dieter Mayr em The New York Times).

Quando o Wikileaks lançou milhares de telegramas classificados da diplomacia dos EUA esta semana, uma crítica familiar foi repetida pelos adversários do projeto: esses vazamentos podem prejudicar pessoas inocentes. Não há nenhuma evidência disto ainda, mas nos documentos há provas que o governo americano tem prejudicado pessoas inocentes.

Um deles é Khaled El-Masri, um cidadão alemão de origem libanesa, e uma vítima da chamada "rendição extraordinária". Ele era um vendedor de carros na Alemanha, pai de seis filhos. A CIA o sequestrou por engano (o seu nome soa e parece idêntico ao de um suspeito de terrorismo real), e enviou para receber meses de tortura no Afeganistão.

Quando a CIA percebeu que ele era inocente, ele foi levado à Albânia e despejado em uma estrada sem sequer um pedido de desculpas.

El-Masri é inútil esforço em se fazer justiça nos EUA, o que é bem conhecido, mas os telegramas publicados esta semana pelo Wikileaks incluem revelações de que os EUA também alertou as autoridades alemãs que não permitissem uma investigação local de seu seqüestro e abuso.

O mais próximo que ele chegou da justiça é um mandado de prisão contra 13 agentes da CIA, emitido pelo Ministério Público, da Espanha, onde entraram com passaportes falsificados.

Neste vídeo, originalmente parte do documentário Witness.org OUTLAWED, El-Masri conta suas experiências. Boing Boing apresentou uma parte deste documentário no nosso canal de vídeo em 2008, os documentos trazidos à luz pelo Wikileaks proporcionam uma oportunidade para revisitar a história com o novo contexto.

Links relacionados: PDF da / processo El-Masri ACLU contra os EUA; artigo do Washington Post.

http://www.boingboing.net/2010/12/01/wikileaks-and-the-el.html