sábado, 6 de novembro de 2010

Sobre eleições, dinheiro e mídia nos EUA

Menos de uma semana depois das eleições no Brasil, ja tivemos importantes eleições no vizinho rico do norte. Uma comparação é mais que oportuna.

O paradigma eleitoral dos EUA é, ao que parece, dos mais plutocráticos do mundo. Enquanto no Brasil toda publicidade eleitoral é pautada pelo equilíbrio de forças (ou pelo menos a tentativa de equilibrar as forças) e pela regulamentação, nos EUA o modelo é avesso a qualquer regulação real. Eleições são, mais que tudo, um negócio, e um negócio muito, muito, muito caro, o que é coerente com sua visão capitalística dos valores humanos. Apenas mega-milionários podem jogar este jogo. Todos podem votar, mas apenas um seleto grupo pode ser votado. Num país com centenas de partidos políticos registrados, apenas dois desses partidos detém todos os cargos. Grupos minoritários não tem real representação, e alterações no modelo não são sequer cogitados. (democracia?) No artigo que reproduzo abaixo, de Amy Goodman, vemos uma das raras críticas ao modelo eleitoral vigente nesta "potência". E porque é tão rara? Pela mesma razão que motiva a própria crítica: dinheiro. Para a mídia, este modelo de promiscuidade informativa é extremamente lucrativo, portanto criticá-lo não é de seu interesse.

"Change"?

Esta semana, este modelo distorcido de democracia proporcionou uma vitória às velhas forças militaristas, belicistas e conservadoras, no país mais militarista, belicista e conservador do mundo.

Que pena. Eles têm tanto a aprender conosco.

Paz
Alexei


Os lucros da mídia na eleição dos EUA

Reproduzo artigo de Amy Goodman, apresentadora do programa de TV Democracy Now!, publicado no sítio da Adital:

Ao encerrar as eleições na metade do mandato nos Estados Unidos, o maior ganhador ainda não foi declarado, a saber: os grandes meios de comunicação. Enquanto isso, o maior perdedor tem sido a democracia. Essas foram as eleições legislativas de metade do mandato mais caras na história dos Estados Unidos: custaram quase quatro bilhões de dólares, dos quais três bilhões foram gastos em publicidade.

Pergunto-me o que aconteceria se o tempo publicitário para as campanhas fosse gratuito. Não se escuta debates sobre isso porque as corporações que manejam os meios massivos de comunicação obtêm imensos lucros com os avisos publicitários das campanhas políticas. No entanto, as ondas radioelétricas que os meios utilizam para emitir seus sinais são públicas.

Isso me recorda o livro escrito em 1999 pelo especialista em meios de comunicação Robert McChesney: "Rich Media, Poor Democracy" (Meios ricos, democracia pobre). Em seu livro, McChesney escreve: "Os meios têm pouco incentivo para oferecer cobertura aos candidatos já que é de seu interesse forçá-los a publicizar suas campanhas".

O grupo de investigação Wesleyan Media Project, da Universidade Wesleyana, faz um acompanhamento da publicidade política. Após a recente sentença da Corte Suprema no caso "Citizens United contra a Comissão Federal Eleitoral", através do qual as grandes corporações estão autorizadas a destinar somas ilimitadas de dinheiro à campanha publicitária dos candidatos, o projeto chama a atenção para "que o tempo nos meios destinado à publicidade está cheio de anúncios relacionados à Câmara de Representantes e ao Senado, ocupando de 20 até 79%, respectivamente, do total do tempo no ar".

Evan Tracey, fundador e presidente do grupo de análises de campanhas publicitárias Campaign Media Analysis Group, predisse, no passado mês de julho, ao jornal USA Today que: "haverá mais dinheiro do que espaço publicitário para comprar". Por outro lado, John Nichols, do semanário The Nation, comentou que nos amáveis primeiros tempos da publicidade política televisiva, os canais de TV nunca teriam emitido o aviso a favor de um candidato a continuação de um aviso publicitário contra esse mesmo candidato. Porém, não estão levando em consideração o patrimônio ligado aos grandes meios. Bem vindos ao "mundo feliz" das campanhas de bilhões de dólares.

No passado, houve tentativas de regular o uso das ondas radioelétricas para que estejam a serviço da população durante as eleições. Nos últimos anos, a tentativa mais ambiciosa foi o que se conhece como "Reforma do financiamento das campanhas eleitorais, de McCain Feingold". Durante o debate sobre essa histórica legislação, tanto os democratas quanto os republicanos fizeram referência ao problema das exorbitantes taxas de publicidade televisiva. O Senador republicano por Nevada, John Ensign, se lamentava: "As emissoras não queriam nem pensar nas campanhas eleitorais porque era o momento do ano em que ganhavam menos dinheiro devido à baixa taxa unitária paga durante esse período. Agora, é um de seus momentos preferidos, já que, de fato, é um dos momentos do ano com mais ampla margem de lucro".

Finalmente, para que o projeto de lei fosse aprovado, omitiram-se as cláusulas referentes ao "tempo público de ar".

A sentença no caso de Citizens United neutraliza eficazmente a reforma do financiamento das campanhas, de McCain-Feingold. Nem podemos imaginar o que será gasto nas eleições presidenciais de 2012. O Senador por Wisconsin, Russ Feingold, perdeu a oportunidade de ser reeleito em sua disputa contra o praticamente autofinanciado multimilionário Ron Johnson. O editorial do Wall Street Journal celebrou a esperada derrota de Feingold. O jornal pertence à corporação News Corp, de Rupert Murdoch, que também é proprietária da cadeia de TV Fox e que doou quase dois milhões de dólares à campanha dos republicanos.

"As eleições converteram-se em um bem comercial, um centro de lucros para essas rádios e canais de TV", me disse no dia das eleições Ralph Nader, defensor dos consumidores e ex-candidato a presidente. Disse-me também: "As ondas públicas, como sabemos, pertencem ao povo. O povo é o proprietário e as cadeias de rádio e TV são as titulares das licenças para usar essas ondas, digamos que são como inquilinos. No entanto, para obter sua habilitação anual, não pagam nada à Comissão Federal de Comunicações. Assim, seria bastante persuasivo, se tivéssemos políticas públicas que impusessem módicas condições para obter a habilitação que permite a essas cadeias de rádio e TV aceder ao imensamente lucrativo controle das ondas públicas 24 horas por dia, poderíamos dizer-lhes que, como parte do intercâmbio por controlar esses bens comuns, de alguma maneira deveriam destinar certa quantidade de tempo, tempo gratuito, na rádio e na TV aos candidatos eleitorais".

Esse tema deveria ser debatido nos grandes meios de comunicação, dado que, através deles, a maioria da população estadunidense obtém informação. Porém, as emissoras de rádio e TV têm um profundo conflito de interesses. Em sua ordem de prioridades, seus lucros vêm antes que nosso processo democrático. Certamente, não ouviremos falar desse tema nos programas de entrevistas políticas dos domingos pela manhã.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O primeiro discurso da presidente eleita




Minhas amigas e meus amigos de todo o Brasil,

É imensa a minha alegria de estar aqui.

Recebi hoje de milhões de brasileiras e brasileiros a missão mais importante de minha vida.

Este fato, para além de minha pessoa, é uma demonstração do avanço democrático do nosso país: pela primeira vez uma mulher presidirá o Brasil. Já registro portanto aqui meu primeiro compromisso após a eleição: honrar as mulheres brasileiras, para que este fato, até hoje inédito, se transforme num evento natural. E que ele possa se repetir e se ampliar nas empresas, nas instituições civis, nas entidades representativas de toda nossa sociedade.

A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um principio essencial da democracia. Gostaria muito que os pais e mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas, e lhes dissessem: SIM, a mulher pode!

Minha alegria é ainda maior pelo fato de que a presença de uma mulher na presidência da República se dá pelo caminho sagrado do voto, da decisão democrática do eleitor, do exercício mais elevado da cidadania. Por isso, registro aqui outro compromisso com meu país:

Valorizar a democracia em toda sua dimensão, desde o direito de opinião e expressão até os direitos essenciais da alimentação, do emprego e da renda, da moradia digna e da paz social.

Zelarei pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa.

Zelarei pela mais ampla liberdade religiosa e de culto.

Zelarei pela observação criteriosa e permanente dos direitos humanos tão claramente consagrados em nossa constituição.

Zelarei, enfim, pela nossa Constituição, dever maior da presidência da República.

Nesta longa jornada que me trouxe aqui pude falar e visitar todas as nossas regiões.

O que mais me deu esperanças foi a capacidade imensa do nosso povo, de agarrar uma oportunidade, por mais singela que seja, e com ela construir um mundo melhor para sua família.

É simplesmente incrível a capacidade de criar e empreender do nosso povo. Por isso, reforço aqui meu compromisso fundamental: a erradicação da miséria e a criação de oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras.

Ressalto, entretanto, que esta ambiciosa meta não será realizada pela vontade do governo. Ela é um chamado à nação, aos empresários, às igrejas, às entidades civis, às universidades, à imprensa, aos governadores, aos prefeitos e a todas as pessoas de bem.

Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas à própria sorte.

A erradicação da miséria nos próximos anos é, assim, uma meta que assumo, mas para a qual peço humildemente o apoio de todos que possam ajudar o país no trabalho de superar esse abismo que ainda nos separa de ser uma nação desenvolvida.

O Brasil é uma terra generosa e sempre devolverá em dobro cada semente que for plantada com mão amorosa e olhar para o futuro.

Minha convicção de assumir a meta de erradicar a miséria vem, não de uma certeza teórica, mas da experiência viva do nosso governo, no qual uma imensa mobilidade social se realizou, tornando hoje possível um sonho que sempre pareceu impossível.

Reconheço que teremos um duro trabalho para qualificar o nosso desenvolvimento econômico. Essa nova era de prosperidade criada pela genialidade do presidente Lula e pela força do povo e de nossos empreendedores encontra seu momento de maior potencial numa época em que a economia das grandes nações se encontra abalada.

No curto prazo, não contaremos com a pujança das economias desenvolvidas para impulsionar nosso crescimento. Por isso, se tornam ainda mais importantes nossas próprias políticas, nosso próprio mercado, nossa própria poupança e nossas próprias decisões econômicas.

Longe de dizer, com isso, que pretendamos fechar o país ao mundo. Muito ao contrário, continuaremos propugnando pela ampla abertura das relações comerciais e pelo fim do protecionismo dos países ricos, que impede as nações pobres de realizar plenamente suas vocações.

Mas é preciso reconhecer que teremos grandes responsabilidades num mundo que enfrenta ainda os efeitos de uma crise financeira de grandes proporções e que se socorre de mecanismos nem sempre adequados, nem sempre equilibrados, para a retomada do crescimento.

É preciso, no plano multilateral, estabelecer regras mais claras e mais cuidadosas para a retomada dos mercados de financiamento, limitando a alavancagem e a especulação desmedida, que aumentam a volatilidade dos capitais e das moedas. Atuaremos firmemente nos fóruns internacionais com este objetivo.

Cuidaremos de nossa economia com toda responsabilidade. O povo brasileiro não aceita mais a inflação como solução irresponsável para eventuais desequilíbrios. O povo brasileiro não aceita que governos gastem acima do que seja sustentável.

Por isso, faremos todos os esforços pela melhoria da qualidade do gasto público, pela simplificação e atenuação da tributação e pela qualificação dos serviços públicos.

Mas recusamos as visões de ajustes que recaem sobre os programas sociais, os serviços essenciais à população e os necessários investimentos.

Sim, buscaremos o desenvolvimento de longo prazo, a taxas elevadas, social e ambientalmente sustentáveis. Para isso zelaremos pela poupança pública.

Zelaremos pela meritocracia no funcionalismo e pela excelência do serviço público.

Zelarei pelo aperfeiçoamento de todos os mecanismos que liberem a capacidade empreendedora de nosso empresariado e de nosso povo.

Valorizarei o Micro Empreendedor Individual, para formalizar milhões de negócios individuais ou familiares, ampliarei os limites do Supersimples e construirei modernos mecanismos de aperfeiçoamento econômico, como fez nosso governo na construção civil, no setor elétrico, na lei de recuperação de empresas, entre outros.

As agências reguladoras terão todo respaldo para atuar com determinação e autonomia, voltadas para a promoção da inovação, da saudável concorrência e da efetividade dos setores regulados.

Apresentaremos sempre com clareza nossos planos de ação governamental. Levaremos ao debate público as grandes questões nacionais. Trataremos sempre com transparência nossas metas, nossos resultados, nossas dificuldades.

Mas acima de tudo quero reafirmar nosso compromisso com a estabilidade da economia e das regras econômicas, dos contratos firmados e das conquistas estabelecidas.

Trataremos os recursos provenientes de nossas riquezas sempre com pensamento de longo prazo. Por isso trabalharei no Congresso pela aprovação do Fundo Social do Pré-Sal. Por meio dele queremos realizar muitos de nossos objetivos sociais.

Recusaremos o gasto efêmero que deixa para as futuras gerações apenas as dívidas e a desesperança.

O Fundo Social é mecanismo de poupança de longo prazo, para apoiar as atuais e futuras gerações. Ele é o mais importante fruto do novo modelo que propusemos para a exploração do pré-sal, que reserva à Nação e ao povo a parcela mais importante dessas riquezas.

Definitivamente, não alienaremos nossas riquezas para deixar ao povo só migalhas.

Me comprometi nesta campanha com a qualificação da Educação e dos Serviços de Saúde.
Me comprometi também com a melhoria da segurança pública.

Com o combate às drogas que infelicitam nossas famílias.

Reafirmo aqui estes compromissos. Nomearei ministros e equipes de primeira qualidade para realizar esses objetivos.

Mas acompanharei pessoalmente estas áreas capitais para o desenvolvimento de nosso povo.

A visão moderna do desenvolvimento econômico é aquela que valoriza o trabalhador e sua família, o cidadão e sua comunidade, oferecendo acesso a educação e saúde de qualidade.

É aquela que convive com o meio ambiente sem agredi-lo e sem criar passivos maiores que as conquistas do próprio desenvolvimento.

Não pretendo me estender aqui, neste primeiro pronunciamento ao país, mas quero registrar que todos os compromissos que assumi, perseguirei de forma dedicada e carinhosa.

Disse na campanha que os mais necessitados, as crianças, os jovens, as pessoas com deficiência, o trabalhador desempregado, o idoso teriam toda minha atenção. Reafirmo aqui este compromisso.

Fui eleita com uma coligação de dez partidos e com apoio de lideranças de vários outros partidos. Vou com eles construir um governo onde a capacidade profissional, a liderança e a disposição de servir ao país será o critério fundamental.

Vou valorizar os quadros profissionais da administração pública, independente de filiação partidária.

Dirijo-me também aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram conosco nesta caminhada. Estendo minha mão a eles. De minha parte não haverá discriminação, privilégios ou compadrio.

A partir de minha posse serei presidenta de todos os brasileiros e brasileiras, respeitando as diferenças de opinião, de crença e de orientação política.

Nosso país precisa ainda melhorar a conduta e a qualidade da política. Quero empenhar-me, junto com todos os partidos, numa reforma política que eleve os valores republicanos, avançando em nossa jovem democracia.

Ao mesmo tempo, afirmo com clareza que valorizarei a transparência na administração pública. Não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito. Serei rígida na defesa do interesse público em todos os níveis de meu governo. Os órgãos de controle e de fiscalização trabalharão com meu respaldo, sem jamais perseguir adversários ou proteger amigos.

Deixei para o final os meus agradecimentos, pois quero destacá-los. Primeiro, ao povo que me dedicou seu apoio. Serei eternamente grata pela oportunidade única de servir ao meu país no seu mais alto posto. Prometo devolver em dobro todo o carinho recebido, em todos os lugares que passei.

Mas agradeço respeitosamente também aqueles que votaram no primeiro e no segundo turno em outros candidatos ou candidatas. Eles também fizeram valer a festa da democracia.

Agradeço as lideranças partidárias que me apoiaram e comandaram esta jornada, meus assessores, minhas equipes de trabalho e todos os que dedicaram meses inteiros a esse árduo trabalho.

Agradeço a imprensa brasileira e estrangeira que aqui atua e cada um de seus profissionais pela cobertura do processo eleitoral.

Não nego a vocês que, por vezes, algumas das coisas difundidas me deixaram triste. Mas quem, como eu, lutou pela democracia e pelo direito de livre opinião arriscando a vida; quem, como eu e tantos outros que não estão mais entre nós, dedicamos toda nossa juventude ao direito de expressão, nós somos naturalmente amantes da liberdade. Por isso, não carregarei nenhum ressentimento.

Disse e repito que prefiro o barulho da imprensa livre ao silencio das ditaduras. As criticas do jornalismo livre ajudam ao pais e são essenciais aos governos democráticos, apontando erros e trazendo o necessário contraditório.

Agradeço muito especialmente ao presidente Lula. Ter a honra de seu apoio, ter o privilégio de sua convivência, ter aprendido com sua imensa sabedoria, são coisas que se guarda para a vida toda. Conviver durante todos estes anos com ele me deu a exata dimensão do governante justo e do líder apaixonado por seu pais e por sua gente. A alegria que sinto pela minha vitória se mistura com a emoção da sua despedida.

Sei que um líder como Lula nunca estará longe de seu povo e de cada um de nós.

Baterei muito a sua porta e, tenho certeza, que a encontrarei sempre aberta.

Sei que a distância de um cargo nada significa para um homem de tamanha grandeza e generosidade. A tarefa de sucedê-lo é difícil e desafiadora. Mas saberei honrar seu legado.

Saberei consolidar e avançar sua obra.

Aprendi com ele que quando se governa pensando no interesse público e nos mais necessitados uma imensa força brota do nosso povo.

Uma força que leva o país para frente e ajuda a vencer os maiores desafios.

Passada a eleição agora é hora de trabalho. Passado o debate de projetos agora é hora de união.

União pela educação, união pelo desenvolvimento, união pelo país. Junto comigo foram eleitos novos governadores, deputados, senadores. Ao parabenizá-los, convido a todos, independente de cor partidária, para uma ação determinada pelo futuro de nosso país.

Sempre com a convicção de que a Nação Brasileira será exatamente do tamanho daquilo que, juntos, fizermos por ela.

Muito obrigada,




quinta-feira, 28 de outubro de 2010

DEBATE ABERTO

As bolas de papel da democracia desejada

O Jornal Nacional de 21/10 não foi só uma tentativa patética de recriar o tiro que matou o Major Vaz. Os 7 minutos gastos na “fabricação” da fita adesiva que teria atingido o candidato tucano revelam desorientação no tempo e no espaço. A Rua Tonelero não fica em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro.

Quando as redações da grande imprensa, em campanha aberta pela candidatura Serra, erigem o preconceito como norma de juízo, a mentira não é apenas abominável: é suicida. A opinião pública brasileira dispõe, hoje em dia, dos elementos necessários para julgar os acontecimentos políticos, sociais, econômicos e culturais sem se deixar levar pelo filtro ideológico de conhecidas técnicas de edição. Há muito tempo, a sociedade aprendeu a aquilatar a qualidade ética da informação oferecida, os desvios de apuração e o descompromisso do noticiário com a verdade factual.

O Jornal Nacional de quinta-feira, 21/10, não foi apenas uma tentativa patética de recriar o tiro que matou o Major Vaz. Os sete minutos gastos na “fabricação” da fita adesiva que teria atingido o candidato tucano revelam desorientação no tempo e no espaço. A Rua Tonelero não fica em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro. Além disso, passados 56 anos, não há lugar para atores políticos com indefinição ideológica evidente. Serra não é Lacerda; falta-lhe talento. O PSDB não é a UDN; tem lastro histórico mais precário. Mas em ambos, no candidato e em seu partido, convivem a vergonha de serem ostensivamente autoritários e o medo de serem inteiramente democráticos. A face dupla do moralismo udenista, transposto para 2010, realça o desbotamento de um Dorian Gray mal-acabado.

A campanha oposicionista padece de velhos vícios e truncamentos de origem. Parece acreditar que o povo, em toda a parte, é uma entidade incapaz e como tal deve ser tratado, sob pena de hecatombe social iminente. Deve-se também ameaçar a esquerda com a hipótese sempre latente de um golpe de Estado. E lembrar aos setores populares, principalmente à nova classe média, que se eles não tiverem juízo virão aí os bichos papões e, com eles, os massacres dos Kulaks, as igrejas fechadas, os asilos psiquiátricos, a supressão da liberdade, em suma, o socialismo sem rosto humano.

Essa agenda está superada, mas seu simples ressurgimento deve nos remeter a pontos importantes. Se atualmente é difícil calar organizações que expressam as demandas dos seus membros e representados, como é o caso do MST, do movimento estudantil e do mundo do trabalho, muitos obstáculos ainda têm que ser ultrapassados.

Exigir liberdades democráticas não é uma gesticulação romântica, desde que se dêem consequências às suas implicações. É preciso apostar na organização crescente das forças sociais com o objetivo de consolidar uma saída definitivamente nacional e popular para temas que vão da questão agrária ao controle social dos meios de comunicação.

A análise histórica mostra que, quando não avançamos na democracia concreta, damos aos seus adversários tempo para que se reorganizem, utilizando as oficinas de consenso para caluniar, difamar, fazer o que for necessário, para deter o ímpeto vital que lhes ameaça.

Nos dias de hoje, é preciso senso crítico sempre atilado, não se deixar envolver pela vaga e traiçoeira tese do aperfeiçoamento democrático a qualquer preço, pois as forças retrógadas costumam cobrar bem caro por nossas distrações ou equívocos. Por tudo isso, a eleição de Dilma Rousseff é um passo decisivo para erradicarmos de vez o cartorialismo econômico, a indiferença moral e a incompetência administrativa que marcaram vários governos até 2003.

Na Rua Tonelero, o futuro vislumbrado é o de um país que realizará suas potencialidades. O que importa saber é que atores são capazes de assegurar uma democracia com ênfase social, assentada também nos direitos individuais e na liberdade econômica. Nesse cenário, as bolinhas de papel passeiam na calçada. O vento-e não mais o cálculo político-dita o rumo de cada uma delas.


Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sobre os oito anos de FHC

Carta aberta a Fernando Henrique Cardoso

O plano Real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial que fez cair as inflações no mundo inteiro. A inflação brasileira continuou sendo uma das maiores do mundo durante o seu governo. O real foi uma moeda drasticamente debilitada. Isto é evidente: quando nossa inflação esteve acima da inflação mundial por vários anos, nossa moeda tinha que ser altamente desvalorizada. De maneira suicida ela foi mantida artificialmente com um alto valor que levou à crise brutal de 1999. Outro mito é que seu governo foi um exemplo de rigor fiscal. Um governo que elevou a dívida pública do Brasil de 60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? O artigo é de Theotonio dos Santos.

Meu caro Fernando,

Vejo-me na obrigação de responder a carta aberta que você dirigiu ao Lula, em nome de uma velha polêmica que você e o José Serra iniciaram em 1978 contra o Rui Mauro Marini, eu, André Gunder Frank e Vânia Bambirra, rompendo com um esforço teórico comum que iniciamos no Chile na segunda metade dos nos 1960. A discussão agora não é entre os cientistas sociais e sim a partir de uma experiência política que reflete contudo este debate teórico. Esta carta assinada por você como ex-presidente é uma defesa muito frágil teórica e politicamente de sua gestão. Quem a lê não pode compreender porque você saiu do governo com 23% de aprovação enquanto Lula deixa o seu governo com 96% de aprovação. Já discutimos em várias oportunidades os mitos que se criaram em torno dos chamados êxitos do seu governo. Já no seu governo vários estudiosos discutimos, já no começo do seu governo, o inevitável caminho de seu fracasso junto à maioria da população. Pois as premissas teóricas em que baseava sua ação política eram profundamente equivocadas e contraditórias com os interesses da maioria da população. (Se os leitores têm interesse de conhecer o debate sobre estas bases teóricas lhe recomendo meu livro já esgotado: Teoria da Dependencia: Balanço e Perspectivas, Editora Civilização Brasileira, Rio, 2000).

Contudo nesta oportunidade me cabe concentrar-me nos mitos criados em torno do seu governo, os quais você repete exaustivamente nesta carta aberta.

O primeiro mito é de que seu governo foi um êxito econômico a partir do fortalecimento do real e que o governo Lula estaria apoiado neste êxito alcançando assim resultados positivos que não quer compartilhar com você... Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação. Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário.

No caso brasileiro, a nossa inflação girou, durante todo seu governo, próxima dos 10% mais altos. TIVEMOS NO SEU GOVERNO UMA DAS MAIS ALTAS INFLAÇÕES DO MUNDO. E aqui chegamos no outro mito incrível. Segundo você e seus seguidores (e até setores de oposição ao seu governo que acreditam neste mito) sua política econômica assegurou a transformação do real numa moeda forte. Ora Fernando, sejamos cordatos: chamar uma moeda que começou em 1994 valendo 0,85 centavos por dólar e mantendo um valor falso até 1998, quando o próprio FMI exigia uma desvalorização de pelo menos uns 40% e o seu ministro da economia recusou-se a realizá-la “pelo menos até as eleições”, indicando assim a época em que esta desvalorização viria e quando os capitais estrangeiros deveriam sair do país antes de sua desvalorização, O fato é que quando você flexibilizou o cambio o real se desvalorizou chegando até a 4,00 reais por dólar. E não venha por a culpa da “ameaça petista” pois esta desvalorização ocorreu muito antes da “ameaça Lula”. ORA, UMA MOEDA QUE SE DESVALORIZA 4 VEZES EM 8 ANOS PODE SER CONSIDERADA UMA MOEDA FORTE? Em que manual de economia? Que economista respeitável sustenta esta tese?

Conclusões: O plano Real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial que fez cair as inflações no mundo inteiro. A inflação brasileira continuou sendo uma das maiores do mundo durante o seu governo. O real foi uma moeda drasticamente debilitada. Isto é evidente: quando nossa inflação esteve acima da inflação mundial por vários anos, nossa moeda tinha que ser altamente desvalorizada. De maneira suicida ela foi mantida artificialmente com um alto valor que levou à crise brutal de 1999.

Segundo mito; Segundo você, o seu governo foi um exemplo de rigor fiscal. Meu Deus: um governo que elevou a dívida pública do Brasil de uns 60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões de dólares quando entregou o governo ao Lula, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? Gostaria de saber que economista poderia sustentar esta tese. Isto é um dos casos mais sérios de irresponsabilidade fiscal em toda a história da humanidade.

E não adianta atribuir este endividamento colossal aos chamados “esqueletos” das dívidas dos estados, como o fez seu ministro de economia burlando a boa fé daqueles que preferiam não enfrentar a triste realidade de seu governo. Um governo que chegou a pagar 50% ao ano de juros por seus títulos para, em seguida, depositar os investimentos vindos do exterior em moeda forte a juros nominais de 3 a 4%, não pode fugir do fato de que criou uma dívida colossal só para atrair capitais do exterior para cobrir os déficits comerciais colossais gerados por uma moeda sobrevalorizada que impedia a exportação, agravada ainda mais pelos juros absurdos que pagava para cobrir o déficit que gerava.

Este nível de irresponsabilidade cambial se transforma em irresponsabilidade fiscal que o povo brasileiro pagou sob a forma de uma queda da renda de cada brasileiro pobre. Nem falar da brutal concentração de renda que esta política agravou dráticamente neste pais da maior concentração de renda no mundo. Vergonha, Fernando. Muita vergonha. Baixa a cabeça e entenda porque nem seus companheiros de partido querem se identificar com o seu governo...te obrigando a sair sozinho nesta tarefa insana.

Terceiro mito - Segundo você, o Brasil tinha dificuldade de pagar sua dívida externa por causa da ameaça de um caos econômico que se esperava do governo Lula. Fernando, não brinca com a compreensão das pessoas. Em 1999 o Brasil tinha chegado à drástica situação de ter perdido TODAS AS SUAS DIVISAS. Você teve que pedir ajuda ao seu amigo Clinton que colocou à sua disposição ns 20 bilhões de dólares do tesouro dos Estados Unidos e mais uns 25 BILHÕES DE DÓLARES DO FMI, Banco Mundial e BID. Tudo isto sem nenhuma garantia.

Esperava-se aumentar as exportações do pais para gerar divisas para pagar esta dívida. O fracasso do setor exportador brasileiro mesmo com a espetacular desvalorização do real não permitiu juntar nenhum recurso em dólar para pagar a dívida. Não tem nada a ver com a ameaça de Lula. A ameaça de Lula existiu exatamente em conseqüência deste fracasso colossal de sua política macro-econômica. Sua política externa submissa aos interesses norte-americanos, apesar de algumas declarações críticas, ligava nossas exportações a uma economia decadente e um mercado já copado. A recusa dos seus neoliberais de promover uma política industrial na qual o Estado apoiava e orientava nossas exportações. A loucura do endividamento interno colossal. A impossibilidade de realizar inversões públicas apesar dos enormes recursos obtidos com a venda de uns 100 bilhões de dólares de empresas brasileiras. Os juros mais altos do mundo que inviabilizava e ainda inviabiliza a competitividade de qualquer empresa.

Enfim, UM FRACASSO ECONOMICO ROTUNDO que se traduzia nos mais altos índices de risco do mundo, mesmo tratando-se de avaliadoras amigas. Uma dívida sem dinheiro para pagar... Fernando, o Lula não era ameaça de caos. Você era o caos. E o povo brasileiro correu tranquilamente o risco de eleger um torneiro mecânico e um partido de agitadores, segundo a avaliação de vocês, do que continuar a aventura econômica que você e seu partido criou para este país.

Gostaria de destacar a qualidade do seu governo em algum campo mas não posso fazê-lo nem no campo cultural para o qual foi chamado o nosso querido Francisco Weffort (neste então secretário geral do PT) e não criou um só museu, uma só campanha significativa. Que vergonha foi a comemoração dos 500 anos da “descoberta do Brasil”. E no plano educacional onde você não criou uma só universidade e entou em choque com a maioria dos professores universitários sucateados em seus salários e em seu prestígio profissional. Não Fernando, não posso reconhecer nada que não pudesse ser feito por um medíocre presidente.

Lamento muito o destino do Serra. Se ele não ganhar esta eleição vai ficar sem mandato, mas esta é a política. Vocês vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo. E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer. E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo. Vocês vão ficar na nossa história com um episódio de reação contra o vedadeiro progresso que Dilma nos promete aprofundar. Ela nos disse que a luta contra a desigualdade é o verdadeiro fundamento de uma política progressista. E dessa política vocês estão fora.

Apesar de tudo isto, me dá pena colocar em choque tão radical uma velha amizade. Apesar deste caminho tão equivocado, eu ainda gosto de vocês ( e tenho a melhor recordação de Ruth) mas quero vocês longe do poder no Brasil. Como a grande maioria do povo brasileiro. Poderemos bater um papo inocente em algum congresso internacional se é que vocês algum dia voltarão a freqüentar este mundo dos intelectuais afastados das lides do poder.

Com a melhor disposição possível mas com amor à verdade, me despeço

thdossantos@terra.com.br
http://theotoniodossantos.blogspot.com/

(*) Theotonio Dos Santos é Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense, Presidente da Cátedra da UNESCO e da Universidade das Nações Unidas sobre economia global e desenvolvimentos sustentável. Professor visitante nacional sênior da Universidade Federal do Rio de Janeiro.


Aloysio Nunes ofende jornalista

Reproduzo matéria de Thiago Domenici, publicada no blog "notaderodape":

João Peres, nosso colaborador do NR e repórter da Rede Brasil Atual, profissional da mais alta competência teve ontem uma experiência desagradável e desrespeitosa. Ele estava na cobertura do debate entre os presidenciáveis da Record, na noite de ontem, e na entrada da emissora, como todo repórter faz e é da profissão, foi conversar com os políticos que chegavam para acompanhar o evento.

O senador eleito por São Paulo, do PSDB, Aloysio Nunes, amigão do Serra, foi abordado pelo repórter que fazia a cobertura para a Rede Brasil Atual, que pertence ao mesmo grupo da Revista do Brasil, censurada recentemente pelo partido do senador em questão. Era perto da hora do debate, que começou às 23h, quando o senador eleito com mais de 11 milhões de votos indagou ao repórter:

- É ligada a quem essa revista?

- Aos sindicatos

- Que sindicatos? - falou a assessora do lado dele

- Bancários, metalúrgicos, químicos...

- Pelego, você é pelego - falou o senador

- Não podemos conversar, senador?

- Pelego. sua revista é financiada pelo PT...

- E a Veja, quem financia, senador?

- Pelego

- Que educação, senador

- Pelego filha da puta. Pelego filha da puta!

João me escreveu: "Foi assim, gratuito. Fiquei passado, triste mesmo. Não que não devesse esperar isso, mas agora vai ser isso, vou ser rotulado logo de cara pelo veículo em que eu trabalho? Ninguém associa a tucano-demo logo de cara um sujeito que trabalha na Folha? Uma noite horrível".

Digo o seguinte: é preciso que os políticos respeitem o trabalho dos jornalistas. Essa clima de guerra entre PT e PSDB está doentio. João Peres é um trabalhador, um empregado de um veículo que, sim, tem ligações com os sindicatos. E daí? Isto é público e notório. Nada está escondido. Pergunto ao distinto senador: todos os metalúrgicos, químicos e afins são "filhos da puta", então? Eu sou "filho da puta" também, pois apesar de não ser petista, trabalhei na revista durante um ano. Eis mais um absurdo que se tornou estas eleições. Lastimável.

"A Editora Atitude, que publica os dois veículos (Rede Brasil Atual e Revista do Brasil), condena a postura do senador eleito e entende que liberdade de expressão não é agredir verbalmente quem está em seu direito constitucional de exercer a liberdade de imprensa, muito menos a função de um representante de um Estado no Senado Federal", diz o diretor da editora, Paulo Salvador.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O dia em que a Globo caiu no ridículo

A farsa da agressão a José Serra por uma bolinha de papel que o levou a fazer uma tomografia no crânio ficará na história de nosso país, por isso é totalmente desnecessário que eu o explique aqui. Apenas digo: Eu vivi pra ver o dia em que a Rede Globo e a Direita Brasileira caíram no mais profundo estado de ridículo. Na tentativa desesperada de enganar a população, se agarraram à mentira que criaram até não ser mais possível voltar atrás. Agora não há mais máscaras. A Rede Globo está nua. Este golpe jamais será esquecido.

Parabéns Rede Globo: vocês conseguiram se superar. Ontem vocês bateram todos os récordes de insulto à inteligência das pessoas.


A mentira nunca teve pernas tão curtas.

Paz
Alexei

Congelamento quadro-a-quadro do vídeo mostra que Serra e JN mentiram: não houve outro objeto atingindo a cabeça

Congelamento de cada quadro do vídeo da Folha gravado com celular, mostrado no Jornal Nacional, demonstra que nenhum objeto atingiu a cabeça de Serra no momento em que o JN e o perito Molina disseram ter atingido.
Olhando a evolução dos quadros, comprova-se que se trata da cabeça de um homem atrás da cabeça de Serra.
Em nehum momento aparece nenhum objeto se dirigindo em direção à Serra, antes, nem se afastando depois.


Observe aquela cabeça atrás de Serra…

Agora entra em "eclipse" (ou seja a cabeça de Serra cobre a cabeça do cidadão atrás)



Cadê o rolo chegando na cabeça de Serra, que deveria estar neste quadro?



A ponta da cabeça do cidadão aparece por trás da cabeça de Serra

Continua aparecendo...

Continua aparecendo...

Continua aparecendo...

Continua aparecendo...

Continua aparecendo...

Continua aparecendo...

Continua aparecendo...

Continua aparecendo...

Continua aparecendo...

Continua aparecendo...

Agora fica já sai de trás e dá para ver uma parte maior da cabeça da pessoa que está atrás


Do Conversa Afiada:

José Antonio Meira da Rocha. Professor de Jornalismo Gráfico da Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Educação Superior Norte-RS (UFSM/CESNORS), campus de Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, Brasil.

Toda a produção jornalística pode ser digitalizada. Tudo o que é publicado está à mercê de chatos que salvam, gravam, colecionam, digitalizam com plaquinhas de 120 reais. Como eu, que gosto de gravar TV na minha Pixelview PlayTV Pro.

Por isso, hoje, é inconcebível que a grande imprensa, sofrendo há muito com as mudanças provocadas pela digitalização, tente enganar seu digitalizado público com armações grotescas como esta aprontada pelo Jornal Nacional de 2010-10-22, com ajuda da Folha.com e do repórter Ítalo Nogueira.

Será que a velha mídia não se dá conta que qualquer pessoa pode gravar TV e passar quadro-a-quadro? E que, fazendo isto, a pessoa pode ver que não há nenhum rolo de fita crepe sendo atirado contra o candidato José Serra? Que o detalhe salientado em zoom numa extensa matéria de 7 minutos não passava de um artifact de compressão de vídeo sobreposto à cabeça de alguém ao fundo? Que não se vê no vídeo quadro-a-quadro nenhum objeto indo ou vindo à cabeça do candidato?

E a Globo ainda vai procurar a opinião de um “especialista” de reputação duvidosa…

Tudo pode ser digitalizado, menos a credibilidade de um veículo jornalístico. E este único ativo que sobra à velha mídia, ela joga fora…

Veja a sequência abaixo e tente encontrar o rolo de fita voando em direção à cabeça do candidato.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Eu queria ter ido.....

Ontem eu vi pela internet, ao vivo, um momento de beleza. Um encontro de artistas e intelectuais, das mais variadas tendências, em apoio à candidatura de Dilma Rousseff. Sinto que nunca vou esquecer deste pedaço de poema, lido pouco antes da fala de Dilma.

Dizia assim:

Queremos um país onde os filhos da margem tenham direito à terra, ao trabalho, ao pão, ao canto, à dança, às histórias que povoam nossa imaginação, às raízes da nossa alegria.

Aprendemos que a construção deste país não será obra apenas de nossas mãos. Nosso retrato futuro resultará da desencontrada multiplicação dos sonhos que desatamos.

Pedro Tierra


Ainda há espaço para idealismos no mundo sim. Mas mais do que isso: ainda há a necessidade pelo idealismo.
Paz a todos. Felicidade, alegria, harmonia, calma, serenidade, paz, paz, paz, paz e paz.
Alexei


Para Chico Buarque, Dilma herda 'senso de justiça social' de Lula

Encontro de artistas no Rio de Janeiro reúne centenas de pessoas. Ato foi raro momento de emoção na campanha

Por: Mauício Thuswohl, especial para a Rede Brasil Atual

Publicado em 19/10/2010, 13:28

Última atualização às 13:28

Para Chico Buarque, Dilma herda 'senso de justiça social' de Lula

Dilma ao lado de Chico Buarque em ato com centenas de pessoas (Foto: Ivone Perez)

Rio de Janeiro – O ato organizado por artistas e intelectuais em apoio à candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, realizado na noite de segunda-feira (18) no Rio de Janeiro, foi um dos mais vibrantes momentos da campanha eleitoral até aqui. Centenas de artistas e intelectuais, além de parlamentares, jornalistas, ambientalistas e militantes, lotaram o tradicional Teatro Casa Grande, no bairro do Leblon, e levaram seu apoio à petista. Do lado de fora, cerca de mil pessoas tentavam entrar no teatro.

Com um nível de emoção acima da média até aqui registrada nesta campanha, o ato lembrou antigas jornadas da esquerda carioca e teve direito a palavras de ordem, lágrimas e uma pequena manifestação de rua após o evento.

O clima de emoção se justificava. Uma hora antes do início previsto para o ato, o Casa Grande já recebia nomes de peso da nossa cultura e política, como Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Alcione, Chico César, Wagner Tiso, Paulo Betti, Fernando Morais, Sérgio Mamberti, Osmar Prado, Hugo Carvana, Marilena Chauí, João Pedro Stédile, Leci Brandão, Ziraldo, José Celso Martinez Corrêa, Márcio Thomaz Bastos, Saturnino Braga e Jacques Wagner, entre muitos outros. A confraternização política atingiu seu ápice quando adentraram o palco, pouco antes da chegada de Dilma, a cantora Beth Carvalho e o arquiteto Oscar Niemeyer, ambos em cadeiras de roda. Sob os gritos de “Olê, Olá, Dilma, Dilma!”, os aplausos de pé à dupla foram longos e emocionados.

Principais organizadores do manifesto e do ato, o sociólogo e professor Emir Sader e o teólogo e escritor Leonardo Boff também foram muito festejados pelo público presente ao Casa Grande. Nada comparado à recepção dedicada ao cantor, compositor e escritor Chico Buarque de Hollanda, único a entrar no palco depois de Dilma, que foi ovacionado pela platéia e, numa cena que já é tradicional, ficou rubro ao escutar gritos femininos de “lindo” e “gostoso”, alguns deles saídos das bocas de conhecidas atrizes globais.

Mestre de cerimônias, o ator Osmar Prado deu início ao ato: “Essa casa recebe, como em outros momentos da história, representantes da inteligência, da sensibilidade e da criatividade brasileiras para escrever mais um capítulo da construção da democracia plural, mestiça, multicultural e sustentável que sonhamos com todos os brasileiros e brasileiras para o Brasil do século XXI. Reafirmamos o compromisso com a continuidade e o aprofundamento das conquistas alcançadas pelo povo brasileiro ao longo dos oito anos do governo Lula, com liberdade, com democracia, com inclusão social, com respeito ao meio ambiente e com soberania nacional”, disse.

Em seguida, foram distribuídas a todos cópias do manifesto: “Nós, que no primeiro turno votamos em distintos candidatos e em diferentes partidos, nos unimos para apoiar Dilma Rousseff. Fazemos isso por sentir que é nosso dever somar forças para garantir os avanços alcançados. Para prosseguirmos juntos na construção de um país capaz de um crescimento econômico que signifique desenvolvimento para todos, que preserve os bens e serviços da natureza, um país socialmente justo, que continue acelerando a inclusão social, que consolide, soberano, sua nova posição no cenário internacional”, diz um trecho do documento.

Panfletos obscenos

Após reafirmar o conteúdo do manifesto, Emir Sader recebeu vigorosos aplausos ao ressaltar que a alternativa à Dilma Rousseff “é o obscurantismo, a intolerância, a repressão, é o caminho do fascismo”. O sociólogo comemorou o sucesso do ato e disse que a idéia inicial era repetir o encontro de artistas e intelectuais com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizados na casa de shows Canecão em 2002 e 2006: “Peço desculpas aos que não conseguiram entrar, pois não sabíamos que a receptividade iria ser tão grande. De qualquer maneira, o Maracanã está em reformas”, brincou, para delírio da platéia.

A platéia do ato pró-Dilma também reagiu com entusiasmo à participação da filósofa Marilena Chauí, que levou com ela alguns exemplares do panfleto “católico” que traz inúmeras acusações à candidata do PT: “Isso é obsceno. Ele é religiosamente obsceno e politicamente obsceno. Religiosamente obsceno porque é uma violência contra o ecumenismo religioso, a liberdade de crença e a liberdade de religião. É uma violência inenarrável e inadmissível. É também uma obscenidade política porque recusa aquilo que caracteriza o que é o núcleo da democracia republicana moderna, que é o caráter laico do Estado”, disse Marilena, que resumiu a importância da vitória de Dilma: “Nossa batalha é pela consolidação da democracia no Brasil”, disse.

Aplaudidíssima em sua primeira aparição pública após uma internação por problemas de saúde, a cantora Beth Carvalho leu uma carta que fez para Dilma: “Estou me recuperando de uma cirurgia, mas fiz questão de vir aqui hoje pessoalmente para dizer a todo o Brasil e principalmente à essa guerreira chamada Dilma Rousseff o meu apoio. Ela já provou, principalmente nos últimos oito anos de governo, que tem sido a melhor administradora que esse Brasil poderia ter, que sabe governar e que por isso ajudou a conquistar a maior popularidade que um governo já teve na história do nosso país. É por isso que o Brasil vai te eleger”, disse Beth, que levou o Casa Grande novamente ao delírio ao puxar “Deixa a Dilma me levar, Dilma leva eu”, em versão do samba consagrado na voz de Zeca Pagodinho.

Chico e Boff

Estrela entre as estrelas, chamado de “anjo Gabriel” por Leonardo Boff, Chico Buarque também deu o seu recado: “Vim aqui reiterar meu apoio entusiasmado à Dilma, uma mulher de fibra que passou por tudo, que não tem medo de nada e que, sobretudo, vai herdar o senso de justiça social que é a marca do governo Lula. Governo que não corteja os poderosos de sempre e que não tem em sua índole desprezar os sem-terra, os professores, os garis. Temos hoje um país que é ouvido em toda parte porque fala de igual para igual com todo mundo. Não fala fino com Washington nem fala grosso com Bolívia e Paraguai. Por isso mesmo, o Brasil é ouvido e respeitado no mundo inteiro como nunca antes na história desse país”, disse o autor de “Apesar de Você”.

Último a falar antes do discurso de Dilma, Boff, que apoiara Marina Silva no primeiro turno, manifestou apoio taxativo à candidata do PT: “Se a esperança com Lula venceu o medo, agora com Dilma a verdade vai vencer a mentira. Acho que essa eleição é mais do que o confronto entre dois candidatos. É o confronto entre duas propostas para o Brasil. O destino brasileiro depende da vitória de Dilma porque se a oposição ganhar nós vamos ter imensos retrocessos”, disse.

Boff disse ainda que “a primeira coisa que temos de garantir é a revolução extraordinária que Lula fez no sentido definido por Caio Prado Júnior, ou seja, aquelas transformações que atendem às necessidades fundamentais de um povo e definem um rumo novo para um país. Essas necessidades fundamentais foram em grande parte realizadas no governo Lula”.

Constelação

Além dos artistas já citados, estiveram presentes ao ato de apoio à Dilma no Teatro Casa Grande figuras públicas como Margareth Menezes, Elba Ramalho, Rosemary, Antônio Grassi, Naná Vasconcelos, Jorge Salomão, Antônio Pitanga, Yamandú Costa, Renato Borghetti, Luiz Carlos Barreto, Otto, Hildegard Angel, Teresa Cristina, Perfeito Fortuna, Pedro Tierra, Marcelo Serrado e Cristina Pereira, entre outros. Vários artistas que não puderam comparecer mandaram mensagens de apoio à petista, como os aplaudidos Gilberto Gil, Zeca Pagodinho e Mano Brown.

Também assinam o manifesto de apoio à Dilma os artistas: Aderbal Freire-Filho, Alessandra Negrini, Aldir Blanc, Carlinhos Vergueiro, Chico Diaz, Débora Colker, Diogo Nogueira, Dira Paes, Domingos de Oliveira, Ednardo, Isaac Karabishevsky, Francis Hime, João Bosco, José Padilha, Jorge Furtado, Lucélia Santos, Martinho da Vila, Miúcha, Neguinho da Beija-Flor e Renato Teixeira, entre outros. O texto do manifesto, assim como a totalidade das assinaturas, pode ser visto na internet (www.dilmanarede.com.br).

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Liberdade pra quem?

Publicado em 18/10/2010

PSDB quer liberdade de imprensa só para sua turma

Por: Paulo Salvador

A Revista do Brasil sofreu mais uma investida do PSDB. Por solicitação dos tucanos, na madrugada desta segunda-feira (18), o ministro Joelson Dias, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pediu a suspensão de circulação da edição 52, de outubro.

A ação da coligação "O Brasil pode mais", encabeçada pelo PSDB, de José Serra, foi atendida apenas em parte. Além da Revista do Brasil, suspende a circulação do Jornal da CUT, ano 3, nº 28. Mas três itens cruciais foram negados pelo ministro Dias. A demanda dos advogados tucanos queria silenciar o Blog do Artur Henrique, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e pedia a busca e apreensão do material mencionado.

O terceiro item negado é emblemático: o PSDB queria que a questão tramitasse em segredo de Justiça. Nenhuma informação sobre o processo poderia ser divulgada, caso o pedido fosse atendido. Isso denota intenções claras do tucanato de ocultar da opinião pública a própria tentativa de restringir, ou censurar, a circulação de informações e opiniões.

A divulgação foi feita pelo site do TSE e repercutiu em sites noticiosos ao longo do dia. A Editora Gráfica Atitude, responsável pela Revista do Brasil, só poderá se pronunciar quando for comunicada oficialmente pelo órgão sobre a decisão do juiz e seus eventuais desdobramentos.

De antemão, agradece as centenas de mensagens de apoio e de solidariedade recebidas ao longo do dia, fruto da mobilização da blogosfera. Qualquer ato dessa natureza – indispor o Judiciário contra às liberdades de imprensa e de expressão – merece no mínimo a condenação de todos os cidadãos que prezam pela democracia e pelo direito à informação.

Diferentemente de panfletos apócrifos destinados a difundir terrorismo, desinformação e baixarias das mais diversas – sejam eles de papel, eletrônicos, digitais ou virtuais –, a Revista do Brasil tem endereço, CNPJ, núcleo editorial e profissionais responsáveis. A transparência do veículo, ao expor sua opinião de forma tão clara quanto rara na imprensa brasileira, e o jornalismo independente e plural que pratica – patrimônio dos trabalhadores aos quais se destina – não merecem ser alvo de qualquer forma de cerceamento.

Quatro anos depois

A edição 52 da Revista do Brasil trazia, à capa, uma foto da candidata à Presidência da República, Dilma Rousseff (PT), com a chamada "A vez de Dilma: O país está bem perto de seguir mudando para melhor". A publicação explicita em seu editorial a posição favorável à candidatura Dilma, e traz também reportagem analisando circunstâncias da disputa do segundo turno.

O pedido de restrição de circulação de seu conteúdo assemelha-se a uma investida datada de junho de 2006. À época, o mesmo PSDB encampou pedido de suspensão de distribuição da edição número 1 da revista. Havia ainda a demanda de que a edição deixasse de ser divulgada no site da CUT e do Sindicato dos Químicos.

Repetida a investida, fica latente o lado em que estão as forças aliadas a José Serra. O lado de quem quer liberdade apenas para o tipo de imprensa e de expressão que lhes convém.


CHICO BUARQUE NO ATO PRÓ-DILMA:

"Venho aqui reiterar meu apoio entusiasmado à campanha da Dilma. Essa mulher de fibra, que já passou por tudo, não tem medo de nada. Vai herdar o senso de justiça social, um marco do governo Lula, um governo que não corteja os poderosos de sempre, não despreza os sem-terra, os professores, garis. A forma de governar de Lula é diferente. Ele não fala fino com Washington, nem fala grosso com Bolívia e Paraguai. Por isso, é ouvido e respeitado no mundo todo. Nunca houve na História do país algo assim"


Dilma dá ótima entrevista, mas JN edita pautas negativas para ela

A presidenciável Dilma Rousseff, da coligação Para o Brasil Seguir Mudando, voltou à bancada do Jornal Nacional, da Rede Globo, na noite desta segunda-feira (18). Nos 11 minutos e 30 segundos nos quais Dilma respondeu às perguntas do casal de entrevistadores Willian Bonner e Fátima Bernardes, a candidata petista dialogou com sorriso no rosto e respondeu, com tranquilidade, todas as perguntas incômodas feitas pelos apresentadores. Foi uma entrevista esclarecedora e excelente para a candidata.

Desta vez, não se observou a agressividade que Bonner demonstrou na primeira entrevista, em 9 de agosto, durante o primeiro turno. O casal Global foi enfático nas perguntas --como deve ser-- e Dilma foi serena, objetiva, mas igualmente firme nas respostas. Como era de se esperar, Dilma foi questionada sobre a questão do aborto e sobre o caso Erenice.

Bonner questionou a candidata também sobre as declarações do deputado Ciro Gomes sobre o suposto preparo de José Serra e os problemas do PMDB.

Dilma reafirmou o que tem dito em outras entrevistas, nos debates e na propaganda eleitoral gratuita. Sobre a questão do aborto, disse que não se pode tratar o assunto como caso de polícia e sim como um problema de saúde pública.

Sobre o caso Erenice Guerra, lembrou que denúncias feitas durante o governo Lula são sempre investigadas e, quando constatada a culpa, os envolvidos são punidos. Já no governo de seu adversário, José Serra, as denúncias são abafadas. Dilma lembrou o caso do ex-presidente do Dersa, Paulo Preto, que mesmo sendo alvo da operação Castelo de Areia, da Polícia Federal, jamais foi investigado pelo governo paulista.

As considerações finais da candidata também foram perfeitas. Com humildade, Dilma pediu votos pela continuidade de um projeto que está dando certo e mudando o Brasil.

Veja no final da matéria a transcrição, na íntegra, da entrevista.

Pauta negativa na sequência

Mas o Jornal Nacional é o Jornal Nacional. E logo depois da entrevista, o jornal bateu feio na candidatura de Dilma. A mão pesada do editor foi notada na reportagem requentando denúncia vazia da revista Época sobre o diretor da Eletrobras, Valter Luiz Cardeal Cardeal, aliado de Dilma. A edição da matéria chegou a ser mais grosseira que a agressividade de Bonner na entrevista de agosto. Cardeal emitiu uma nota esclarecendo as denúncias e mostrando, com fatos concretos, que não havia nada de irregular. Mesmo assim, o JN sequer citou a nota.

Depois do programa eleitoral gratuito, o JN apresentou o "dia" dos candidatos. Como tem feito diariamente neste segundo turno, cobriu a agenda de Serra de forma a dar visibilidade para as propostas do candidato. Parecia uma inserção do programa eleitoral tucano.

Quando chegou a vez da agenda de Dilma, o JN agiu de forma calhorda e alegou que a candidata não teve "comprimissos públicos" nesta segunda-feira. Assim, o Jornal tentou justificar a não cobertura do dia da candidata. Mas havia material de sobra para uma matéria, pois Dilma deu entrevista coletiva no Rio de Janeiro e na qual havia jornalistas da Globo presentes. Novamente o JN "escondeu" Dilma propositalmente para prejudicá-la.

Nesta terça-feira (19), será a vez de José Serra ser entrevistado pelo Jornal Nacional. Será interessante observar como será o tratamento editoral da "pauta" política do JN.

Da redação,
Cláudio Gonzalez

Tullius Detritus: o agente da discórdia

publicada domingo, 17/10/2010 às 01:00 e atualizada segunda-feira, 18/10/2010 às 00:18

Tullius Detritus, especialista em semear a cizânia

A figura acima, caro leitor, lembra algum personagem da cena política brasileira?

Enquanto você pensa, explico que Tullius Detritus é para mim um personagem inesquecível. Dos 10 aos 14 anos, fui leitor fanático de Asterix. Montei, com meu irmão, a coleção completa das aventuras do herói gaulês. Coleção que – tenho o prazer de constatar – hoje é saboreada por meus filhos adolescentes.

Para quem não sabe: “Asterix” é uma série de quadrinhos, francesa, que conta a história de uma aldeia de gauleses (antepassados dos franceses) que teima em resistir ao invasor romano – enquanto toda a Gália já se rendeu. A aldeia de Asterix resiste graças a poderes especiais conferidos por uma poção mágica.

Depois de usar muitas técnicas para derrotar os “irredutíveis”, o imperador Julio Cesar tem uma idéia genial: infiltrar na aldeia o agente romano Tullius Detritus. Qual a especialidade de Detritus? Semear a discórdia, a cizânia. Roma tenta dividir os gauleses para vencê-los. Essa é a história de “Asterix e a Cizânia”.

Voltemos ao Brasil.

A campanha de 2010 é, certamente, a mais suja de todos os tempos. Não é surpresa. Ciro Gomes já tinha avisado. A presença de Serra era prenúncio de jogadas sombrias, ataques sinuosos. Mas pouca gente imaginava que poderíamos chegar a esse ponto.

O Detritus brasileiro já conseguira dividir o PSDB paulista. Depois, dividiu o PSDB nacional (usando métodos pouco ortodoxos na disputa com Aécio). Agora, divide a Igreja Católica; e aprofunda certas divisões entre evangélicos – fomentando algumas denominações contra outras.

O episódio ocorrido nesse sábado, no Ceará, chama atenção: um padre católico reagiu à presença de Detritus e à tática de distribuir panfletos de bispos contra Dilma. O (ainda) senador Tasso (que acompanhava Detritus) bateu boca com o padre. Houve tensão e medo: um local de orações por pouco não se transforma em praça de guerra. O padre – vejam só – teve que ser retirado, enquanto petistas e tucanos ameaçavam se enfrentar!

Percebem a gravidade da situação?

Tullius Detritus semeia a cizânia – também – com essa lamentável tentativa de colar em Dilma o rótulo de “abortista”. Colocou – vejam – a própria mulher na rua, a dizer: “Dilma quer matar as criancinhas”.

Um parlamentar do PT acaba de me contar que o episódio do Ceará não é fato isolado. Em São Paulo, diz-me, teriam havido nos últimos dias (especialmente nas periferias) vários episódios de fiéis se insurgindo contra padres, de padres discordando de textos escritos por bispos, sem contar as brigas públicas de bispos com outros bispos.

Qual o motivo? Tullius Detritus!

A campanha fétida – com apelo falsamente religioso – lançada por Detritus ameaça dividir a Igreja Católica. Basta ler o artigo de Emílio Rodriguez - um veterano da militância católica – publicado no blog do Azenha, para ver o tamanho da encrenca. Emílio já não suporta ver a Igreja usurpada pela campanha de Serra.

Os bispos católicos que se afundam nessa campanha de ódio têm a recompensa terrena: os seus nomes são levados para as delegacias – como aconteceu também nesse sábado em São Paulo (bispos teriam encomendado milhões de panfletos para atacar Dilma; os panfletos foram apreendidos numa gráfica, e o caso foi parar na polícia).

Enquanto isso, Tullius Detritus esfrega as mãos. Ele não se importa com os estragos, nem com o risco de lançar o país em uma guerra religiosa. Botou na cabeça que deve ser presidente da República – custe o que custar. Para isso, não há limites. Nas última semanas, esse personagem levou nosso país até muito perto do precipício, fomentando ódio e intolerância – que já se sente nas ruas.

Também nos quadrinhos, Tullius Detritus é um personagem sombrio e perigoso. Mas, ao fim, Asterix e seus amigos conseguem derrotá-lo.

No Brasil, cabe ao eleitor dar a resposta. Não é preciso usar poção mágica. Basta o voto.